Um olhar sobre a maior feira de livros da América Latina (parte 2)
PublishNews, Gil Vieira Sales*, 29/11/2016
No seu diário de Guadalajara, Gil Vieira Sales fala um pouco sobre as dores e as delícias de ser um editor numa feira internacional

No seu diário de Guadalajara, Gil Vieira Sales fala um pouco sobre as dores e as delícias de ser um editor numa feira internacional | © Acervo pessoal
No seu diário de Guadalajara, Gil Vieira Sales fala um pouco sobre as dores e as delícias de ser um editor numa feira internacional | © Acervo pessoal

Feiras de livros costumam ser muito intensas para os profissionais que delas participam. Entre reuniões previamente agendadas ou feitas no improviso, são horas e horas de atividade quase ininterrupta, o que torna os dias muito cansativos. Quando a feira é internacional, então, acrescenta-se a isso as muitas dificuldades de ter de falar, pensar e ouvir tudo em outra língua. No fim do dia, os "pobrecitos" editores (e agentes, ou quem quer que sejam) estão exaustos. A cama do hotel passa a ser o maior objeto de desejo desses trabalhadores dedicados, sem sombra de dúvida.

Tirando essa parte "puxada", no entanto, sobra tanta coisa boa... Os contatos, as trocas, as promessas e a aprendizagem são experiências tão ricas, tão profundas, que todo o suor que se produz sob o blazer nesses dias de feira é divinamente recompensado. Fechando ou não o negócio - afinal de contas, negociar direitos é o principal objetivo de um profissional do livro numa feira assim -, cada conversa agrega um valor tremendo ao processo de aprendizagem pelo qual estamos passando.

Em Guadalajara, especialmente, a identidade comum latina favorece essa bela troca. Falando com mexicanos, colombianos, peruanos, argentinos e uruguaios (entre tantos outros) nos sentimos mais em casa. Há, definitivamente, uma tremenda semelhança na forma de encararmos as coisas, de tratarmos algumas questões e de conduzirmos certos assuntos. Somos realmente hermanos, mais do que se pode pensar.

Neste ano em que a FIL homenageia toda a América Latina - a "invitada de honor" desta edição - parece que estamos sentindo ainda mais essa irmandade. E que bom é nos reconhecermos por aqui. Sentir que o México é também "um pouquinho de Brasil" (completem a música!) faz os dias por aqui valerem ainda mais a pena.

Projetos editoriais riquíssimos, estandes muito elaborados e lindamente decorados fazem dessa feira uma das mais belas do mundo. É surpreendente e gratificante andar pelas ruas e avenidas (que têm nomes que homenageiam os profissionais do mundo livreiro: contistas, poetas, editores, ilustradores) dos pavilhões do centro de exposições. Afinal, nossa amada América Latina pode e merece sediar um evento tão incrível como esse.

Bem, tudo isso para falar que em meio a toda essa maravilha a gente dá duro sim e que a vida em uma feira internacional não é nada fácil. Mas há tantas recompensas, tanta coisa boa. Na terra da tequila, especialmente, os tacos são divinos, as tortilhas vêm fumegantes e cheirosas, os frijoles e as muitas salsas são saborosíssimos, mas acima de tudo os livros são fantásticos, as pessoas que encontramos por aqui são calorosas e a vida é alegria pura! Tal qual o tão querido México...



* Gilsandro Vieira Sales (ou só Gil para os nem tão íntimos) é coordenador de Literatura Infantil e Juvenil na Editora do Brasil. Bacharel e licenciado em Letras pela USP, tem paixão por livros, cultura e formação de leitores. Atua há quase dez anos no mercado editorial e ama o Brasil - com tudo o que ele representa.

[30/11/2016 09:02:00]