Nesta segunda-feira (21), Mileide Flores, ex-diretora da ANL e militante da causa livreira, anunciou o fechamento da sua livraria, a Feira do Livro, em Fortaleza. No texto em que fez o anúncio, no blog da livraria, Mileide relembra a história da casa e se despede de “parceiros distribuidores e editores, que sempre nos viram como uma pequena livraria de grandes livreiros”. “Estamos saindo de cena, mas nossa história não é um papel em branco. Não sairemos da memória de quem nos acompanhou por todos estes 60 anos, nem da memória do comércio do livro do Ceará, muito menos dos que amam o livro como objeto e como mídia”, disse.
A Feira do Livro foi fundada por seu pai e tio em 1956 como uma banca de revistas. Dois anos mais tarde, estava estabelecida como livraria de tijolo e argamassa. Nessa primeira fase da vida, a livraria recebeu personalidades como Jorge Amado e Jean Paul Sartre. Com o cerco da ditadura se fechando, a livraria passa por uma reformulação, nos anos 1970, e o seu forte acervo literário e político dá espaço para os livros didáticos. “Este simbólico gesto foi um grito bravo de ‘sobrevivência ou morte’, que ecoou por mais de 30 anos”, lembra Mileide. A mudança permitiu, por outro lado, o crescimento da livraria, com a expansão para o interior do Ceará e, posteriormente, nos anos 1980, para o Rio Grande do Norte.
“Mas as consequências das crises políticas da ditadura militar, foram minando sua expansão. A aversão da ditadura a livros e leitura reflexiva e crítica resultou na redução da empresa à Fortaleza. Na redemocratização, a sequência de vários planos econômicos, destruidores da capacidade de planejamento, além da ausência de políticas de formação de leitores e sem perspectiva de mudança escolar para contemplar da escrita à leitura compreendida, sobretudo em conjuntura de política comercial do livro concentrada nas mãos das editoras, a Feira do Livro foi encolhendo”, lembrou Mileide. Como consequência, em 2002, a livraria sai do seu espaço de mais de mil m² para um de 75m², no quintal da família.
A escritora cearense Socorro Acioli lamentou o fechamento da livraria e lembrou que Mileide foi a responsável pelo seu livro A bailarina fantástica, que hoje é o título infantojuvenil da autora com mais êxito comercial. “Ela começou a distribuir a Editora Biruta e me contou que a editora queria fazer uma série de livros de mistério em locais históricos do Brasil e aí me sugeriu fazer o livro. O trabalho da Mileide foi muito além da venda de livros. Ela e a família reuniram muitas pessoas em torno da Feira do Livro. Estamos todos lamentando muito este fim, mas já era um fim anunciado com todas as dificuldades que a livraria vinha passando”, lamentou.