De pronto, um escritor mais cioso de seu ofício ou um bom professor de literatura saberia dizer ao seu aluno que, para um bom poema, antes do verso livre é recomendável certa intimidade com a métrica e o que é clássico. O curioso, nesses tempos digitais, é que muitos, ou melhor – uma boa maioria – se quer faz ideia do que é clássico e do que é verso livre, embora sinta e pratique a muito humana necessidade de versejar em texto o que está a lhe comover.
Junto a esse desconhecimento das estruturas da poesia, surge também a ignorância sobre os gêneros literários, ou seja, muitos não fazem a mínima ideia da separação entre verso e prosa, e de ficção e não-ficção. Não por coincidência a qualidade dos livros de autopublicação, ou mesmo aqueles publicados por editor contratado, se apresentam ruins estrutural e editorialmente.
Mas o problema é mais profundo – e porque não seria se hoje somos mais do que nunca periféricos e bananeiros? Pois o autor que chega à autopublicação, seguidamente desconhece também a separação de gêneros da literatura, não sabendo a diferença entre crônica e conto, romance e ensaio, novela e roteiro. E o resultado, todos sabem: parte significativa dos esforços de autopublicação é jogada fora, literalmente na lata do lixo.
E é por isso que condeno o tal do KDP da Amazon e correlatos, porque incentivam a publicar sem antes educar, sem antes orientar, fazendo de conta que bons textos surgem por geração espontânea e que o sucesso é fruto da sorte ou de algum programa de auditório! Talvez, e nitidamente, o interesse desse tipo de empresa não seja o de fomentar literatura, e sim justificar números para acionistas e anunciantes. Ainda assim há uma imensa maioria de “entendidos” em produção literária que tampouco sabem do assunto e acham tudo legal, bonito, tudo a vale a pena, e ao invés de auxiliar, fazem coro com o equívoco prolongando a desinformação.
Mas a questão passa, e o leitor deve já ter se apercebido, pelas escolas de qualquer nível e em qualquer área. Uma vez que a literatura é base na formação do estudante, diabos, porque tantos dominam o mínimo nessa questão de gênero literário?
No mercado de autopublicação norte-americano, uma das primeiras lições para os seus “selfpublishers” é que se defina o gênero em que se escreve. Simples assim. Defina seu gênero e verifique a quantidade de palavras dos originais; dependendo desses dois elementos, seu livro pode ou não seguir adiante – veja que aqui não se fala de conteúdo ou qualidade do conteúdo, mas de dois dados independentes, porém cruciais para disputar se atenção de um agente literário norte-americano.
Bom, se no maior mercado editorial do mundo é orientado aos autores (autopublicadores ou não), que tenham a mais clara noção de gênero literário, por que insistimos não aprender o assunto? Ou por que insistimos ignorar e seguir publicando e reclamando que não nos compram, não nos leem? Façamos o dever de casa. Existem oficinas de escrita criativa no Brasil, e boas, bem como bons livros para se aprender, não espere o não de um editor ou uma frustrada participação em concurso. Para participar do mercado editorial tem que saber separar as coisas. E não pode ser diferente disso.