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Experiência imersiva no mundo de Simões Lopes Neto

Mostra visual revisita autor gaúcho em seu centenário de morte
Simões Lopes Neto na Estância da Graça, em 1906. Foto faz parte da mostra em homenagem ao escritor gaúcho Foto: Divulgação / Agência O GLOBO
Simões Lopes Neto na Estância da Graça, em 1906. Foto faz parte da mostra em homenagem ao escritor gaúcho Foto: Divulgação / Agência O GLOBO

RIO — A vida, a obra e o universo mítico de Simões Lopes Neto estão presentes em uma exposição de artes visuais que marca o centenário de morte do escritor gaúcho. Intitulado “Simões Lopes Neto — Onde não chega o olhar prossegue o pensamento”, o projeto, inaugurado no dia 19 de outubro e que continua até 18 de dezembro no Santander Cultural, em Porto Alegre, traz uma ampla visão do principal expoente da literatura regionalista no Rio Grande do Sul. Trabalhando com dois eixos que convergem nas cartografias do próprio Lopes Neto e de Blau Nunes — narrador de sua obra mais famosa, “Contos gauchescos” — tenta dar voz ao autor em sua contemporaneidade, que vai muito além dos limites regionais.

O projeto cenográfico faz uma imersão na cidade de origem de Lopes Neto, a Pelotas da transição do século XIX para o século XX, produzindo sons e odores que, combinados com projeções. Logo ao adentrar o hall do Santander, o público deixa para trás o urbano atual e o tempo presente, revivendo o mundo do escritor e suas traquinagens na Estância da Graça. Durante 45 minutos, o visitante contempla a passagem do dia para a noite. Há ainda um minicenário apresentando diferentes narrativas — duas lendas e três contos —, também imersivas à sua maneira.

— A mostra parte de um conceito de imersão, nos dados e elementos apresentados, na história reapresentada, nos fenômenos investigados — explica a curadora, Ceres Storchi. — Sobre os pretendidos odores, esses se dissipam no grande hall. Há algum no couro dos banquinhos na área de leitura. Embora pretenda-se uma imersão total, a mais intensa é a da entrada. A passagem do dia à noite em 45 minutos é uma ótima experiência de contemplação para quem ali permanecer. Tudo ali é verdadeiro. Não há montagem além da compilação das capturas para construir a passagem do tempo. Pode-se voltar ao campo, mantendo-se parado no mesmo lugar, a olhar e escutar.

Simões Lopes Neto é visto até hoje como um autor que deu voz aos gaúchos. Mesmo que seus personagens, por sua complexidade, sejam facilmente identificáveis em qualquer região, sua obra ainda permanece enraizada na cultura e no povo do Rio Grande do Sul. Para Ceres, o importante era buscar também o aspecto universal do escritor, que está em seu humanismo:

— Na surpresa de descobrir tantas coisas que compõem nosso dia a dia, expressões que ele registrou ou cunhou, na valorização de um universo que precede o gauchismo, ainda que mais próximo de seu período histórico de existência daquele universo épico — afirma a curadora. — E também na apresentação do homem Simões como indivíduo engajado em várias causas no meio social onde levava sua existência, nos seus discursos e projetos educativos, como o Artinha de Leitura e o Terra Gaúcha, e mesmo econômicos, como o projeto Bujuru.