Obra cobre de poeira livros no Real Gabinete Português de Leitura
O Globo, Mauricio Menasce, 21/09/2016
Instituição alega que não tinha onde guardar acervo de mais de 300 mil títulos

Desde 1837, transpor o pesado portão de ferro de entrada do Real Gabinete Português de Leitura é levar os olhos ao deleite pelas mais variadas cores de livros dispostos em prateleiras, do chão ao teto, em três patamares, todos abertos para um salão central. Além da beleza, o pensamento voa imaginando o conhecimento guardado nas páginas de volumes raros naquelas estantes. Mas boa parte desse patrimônio histórico está agora coberta por uma grossa camada de poeira cinza. É que a cerca de um ano foi iniciada uma reforma no prédio (Rua Luís de Camões, 30, Centro – Rio de Janeiro / RJ). Porém, os mais de 300 mil livros não foram retirados para protegê-los da sujeira e de possíveis danos. Como o prédio é tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), a reforma precisou ter licença do órgão e passar por fiscalizações, mesmo sendo o Real Gabinete uma instituição mantida por associados, sem recursos públicos. Procurado pelo jornal O Globo, o Inepac informou que está ciente de que a reforma foi feita sem a retirada dos livros. Segundo a Secretaria estadual de Cultura, à qual o Inepac é vinculado, o ideal seria ter ocorrido a retirada dos volumes, mas o Real Gabinete Português de Leitura alegou que não tinha um local adequado para armazená-los. Disse ainda que as obras eram emergenciais, pois um vazamento na cúpula do telhado já estava danificando as pinturas da abóbada, ameaçando o acervo e o prédio. Sobre a possibilidade de a poeira danificar o acervo, a Secretaria de Cultura afirmou que os livros já estavam empoeirados antes do início das obras. No entanto, disse, é possível que, apesar da proteção de plástico utilizada durante a reforma, tenham acumulado ainda mais poeira. De qualquer maneira, a secretaria garantiu que o acervo não foi prejudicado.

[26/09/2016 07:50:00]