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Criação e crítica se encontram na 15ª edição da Abralic

Evento literário quer reafirmar universidade pública como espaço de discussão
Rocha, presidente da Abralic: "A realização da Abralic na UERJ, apesar da crise inédita da universidade, é um ato de resistência" Foto: André Teixeira / Agência O GLOBO
Rocha, presidente da Abralic: "A realização da Abralic na UERJ, apesar da crise inédita da universidade, é um ato de resistência" Foto: André Teixeira / Agência O GLOBO

RIO — A partir desta segunda-feira, começa na Uerj o XV encontro da Associação Brasileira de Literatura Comparada (Abralic), a maior agregação de estudos literários da América Latina. O tradicional evento reúne autores e pesquisadores nacionais e internacionais. O tema deste ano, “Experiências Literárias”, trabalha a ideia de que a literatura e a crítica acontecem hoje em diversos ambientes. Em um momento de crise, porém, o evento também pretende reafirmar o valor da universidade pública.

— A universidade pública desempenha um papel fundamental num país que historicamente trata a educação como meio de exclusão; aliás, algo que se revela no uso caricato do termo “doutor” — afirma João Cezar de Castro Rocha, professor da Uerj e presidente da Abralic. — Os cortes anunciados nas universidades federais comprovam que, no primeiro sinal de dificuldade, as instituições culturais e a universidade pública são sempre postas em xeque. A UERJ atravessa o ano de 2016 sem receber verba de custeio do governo do estado! A realização da ABRALIC na UERJ, apesar da crise inédita da universidade, é um ato de resistência: é urgente defender a universidade pública; se deixarmos para mais tarde, será tarde demais.

Uma das propostas do evento, que vai até o dia 23 de setembro com nomes como Paulo Henriques Britto, Nélida Piñon, Roger Chartier e Hans Ulrich Gumbrecht, é estreitar os laços entre produção e crítica. Metade dos palestrantes é composta por escritoras e escritores, o que é um modelo novo para encontros acadêmicos, diz Rocha. A partir das 19h, haverá também espetáculos teatrais e projeção de filmes.

— Criação e crítica estarão em diálogo permanente na ABRALIC — avalia Rocha. — Esse modelo é fecundo não apenas para encontros universitários, mas também para as feiras literárias, que, em geral, reduzem a figura do autor à função pálida de uma celebridade menor, e, justamente pela ausência de olhar crítico, não realizam o que deveria ser o seu objetivo central: conquistar novos leitores.

Para Rocha, há uma transformação radical em curso e a universidade deve estar à altura dos desafios contemporâneos:

— A literatura brasileira hoje em dia se define por uma pluralidade fascinante de opções estéticas. Não faz mais sentido a figura do teórico mal-humorado, cuja única alegria é decretar a falência de tudo que não seja espelho. Não há mais lugar para a figura da crítica literária que somente vê ruínas ao seu redor, com a nobre exceção dos seus três ou quatro amigos de plantão, sempre citados nos artigos bissextos que publica. Não se pode mais definir o que seja a “literatura”, no singular. Devemos mapear, criticamente, as inúmeras formas de “experiências literárias” que se multiplicam e se transformam o tempo todo.