'Os sete' aos 17
PublishNews, André Vianco*, 24/08/2016
André Vianco aproveita o relançamento de 'Os sete', seu livro de estreia, para relembrar aspectos importantes relevantes da evolução do mercado editorial brasileiro

Nascido na virada do século, Os sete está quase chegando à maioridade. Uma ideia que surgiu no banco de um ônibus, no caminho do trabalho para casa, depois de uma jornada de seis horas na madrugada paulista, saindo de Pinheiros e cruzando a Corifeu de Azevedo Marques, rumo a Osasco.

Foi precisamente beirando o muro da USP que me veio a história dos sete vampiros. Um ano antes, quando surgiu um personagem vampiro em O senhor da chuva, esse mito, ainda mais sombrio que outros, acabou sequestrando minha atenção e plantando a semente de um desejo: escrever uma história na qual essas criaturas não seriam apenas coadjuvantes.

Amo contar histórias de terror e, naquele ano de 1999, eu tinha pressa. Tinha urgência em ver um livro meu publicado. Eu queria ver meus livros nas vitrines das livrarias. A capa da primeira edição, desenvolvida pelo meu amigo e designer gráfico Christian Pinkovai, trazia estampado o rosto de outro irmão, Rodrigo Pinkovai, que personificou o vampiro Inverno. Havia também a tipografia escarlate Os sete e a frase “Tem gente que não acredita em vampiros...”.

Como farejei, ao contrário das previsões feitas por uma editora que alegou que os brasileiros não gostavam de histórias de terror nacional, os leitores amaram, sim, conhecer as desventuras de Inverno, o vampiro que congela tudo ao seu redor, e seus irmãos malditos do rio D’Ouro. Agora, justiça seja feita, os primeiros fãs dessa história, sem sombra de dúvida, foram os livreiros. Em fevereiro de 2000, cada vez que entrava em uma livraria eu conhecia um novo amigo ou amiga que se encantava com a proposta. Esses livreiros, não sei até hoje se por pena ou por medo, apostaram naquele azarão do terror. Os sete despontava, então, como um dos livros de ficção mais vendidos, com sua modesta edição independente, distribuído diretamente da minha casa, da gloriosa Osasco.

Eu me orgulhava de ter pensado em tudo. Quando decidi publicar o livro por minha conta, eu queria ter uma carreira de escritor, mesmo que fosse uma coisa secundária na minha vida, para abrigar minha voracidade de contar histórias, minha necessidade fisiológica de escrever e dar vazão a imagens e conversas loucas que brotavam em profusão do fundo da minha alma. Eu me antecipei. Comecei a poupar, comecei a estudar, a me preparar para encarar minha expressão artística também como um produto. No entanto, não previ que o livro, que tinha uma etiqueta com meu e-mail do BOL, iniciaria algo mais. Eu sabia que teria leitores, mas nunca imaginei que teria fãs. Fãs! Como precisava esperar raras oportunidades para usar um notebook emprestado e acessar a internet, eu não ficava pensando nisso, também porque nem sabia quando uma mensagem chegaria. Mas um belo dia lá estava a primeira mensagem de uma leitora, de Barueri, dizendo que tinha amado a história. Ela comentou suas passagens favoritas e já queria saber quando sairia a sequência do livro. Eu não tinha todas as respostas, não fazia a menor ideia de como publicaria a continuação, Sétimo, mas me sentia nas nuvens ao ler mensagens de meus leitores. Eles são como minha gasolina. Esse contato com eles alimenta meu desejo de continuar escrevendo. É isso que faço até hoje e espero que o ponto final dessa história ainda demore um bocado, porque, gente, eu tenho tantas histórias para contar! A cada dia surge um novo capítulo nessa epopeia de escritor.

O meu mais novo e vibrante capítulo é o que motiva este longo elogio aos fãs: a união entre os meus já quinze livros e a Aleph, a melhor casa para receber meus filhotes. Além de ser uma editora que ama livros, a Aleph tem um time forte, capitaneado por visionários que emprestam à casa algo como um radar, um terceiro olho, uma lanterna que mostra o caminho a ser seguido pelas outras editoras. A Aleph entende de fãs e sabe o quanto deve ser levado a sério o desenvolvimento de produtos para essa gente que se amarra em universos ficcionais, inventados, com seres que não são de mentirinha e nem vazam ketchup. Não à toa, quando ando pelos corredores da nova casa, percebo que emana dali uma energia muito boa, de gente apaixonada, que acredita no que faz. Os livros podem tratar de mentirinhas, de grandes ficções, mas a Aleph é uma editora de verdade, onde um livro não é só um livro, uma capa não é só uma capa. A história começa antes das páginas e não termina, nem mesmo quando está aqui, nas suas mãos.


* André Vianco é escritor de terror e suspense brasileiro.

[24/08/2016 09:48:00]