Desde guri, guardei fé na capacidade que temos de ser artistas. Um pouco ou de todo, ser artista não passava de uma questão de contingências da vida e de boa parcela de fé em si mesmos. Afinal, era preciso que acreditássemos na capacidade de ser aquilo que quiséssemos, ainda que o mundo conspirasse de forma contrária.
E, se de conspiração estamos fartos nesses tempos de golpes e rasteiras políticas e institucionais, já em 2009 dava início ao curso presencial da Oficina do livro, o livro passo a passo. Pois era essa minha melhor maneira de poder compartilhar muitas das experiências de produção gráfica e editorial que carregava, e que via como forma de promover novos autores e editores, para que trilhassem com qualidade seu caminho próprio.
Tais turmas tiveram início em Porto Alegre, no StudioClio Instituto de Arte e Humanismo, e rapidamente se estenderam por outras cidades do Rio Grande do Sul, como Caxias do Sul e Passo Fundo, e, em seguida, no formato a distância, portanto para o país inteiro, como curso oficial de extensão da PUCRS. O que significava um salto e tanto para quem começava tão novo conteúdo, a partir de uma bibliografia básica sobre a produção editorial e da própria prática de trabalho em gráficas e em produções autorais independentes.
Anos depois, precisamente em 2015, através de uma consultoria para pequenas editoras, foi que surgiu o Livros: um guia para autores, de minha autoria. O volume, que traz boa parte do conteúdo oferecido e aprimorado desde os primeiros cursos, felizmente, teve nesse último dia 09 de agosto, seu primeiro reconhecimento em prêmio literário, como melhor livro do ano AGES (Associação Gaúcha de Escritores), na categoria especial. Fato que, neste nosso querido PublishNews, bem como nas redes sociais, terminou produzindo verdadeira acorrida de curtidas e comentários como jamais havia visto.
A AGES - entidade com uma história bonita de grandes autores desde sua fundação e promotora do prêmio- atribuía assim seu reconhecimento a uma obra impressa que se propunha a promover, ou melhor, a induzir à boa formação de autores e editores na nova era do digital. O que pude entender como espécie de voto formal na capacidade do autopublicador e na necessidade de aprendermos mais e mais sobre o livro e sobre os caminhos editoriais, e que todos podemos percorrer carreiras melhores e maiores com nossa arte literária.
Pois nesse ínterim, para além das oficinas, aprendi também a ver esse meu Livros: um guia para autores como resposta à sanha desenfreada para que escrevêssemos e que publicássemos, sempre com a promessa de alguma espécie de pote de ouro ao fim da jornada. O que se explicava pelo crescimento no número de autores chegando nas gráficas e editoras querendo fazer carreira. Algo que tentei humildemente combater ao longo dos anos e, por fim, teve esteio nessa publicação, agora premiada e reconhecida, ainda que regionalmente.
Pois é preciso acreditar em nossa capacidade de fazer a vida melhor através da arte, e de nossa própria arte, de ser feliz com a capacidade de realizar com profissionalismo e qualidade nossos melhores sonhos, sem que ninguém venha a nos privar de seus resultados. E, para tal, não mais precisamos depender de ninguém, tampouco de grandes corporações ou qualquer tipo de paternalismo editorial ou de mecenato. A verdadeira arte é feita do melhor substrato do homem a que chamamos liberdade. E é preciso aprender a conviver, e a lutar, por isso.
*Deixo aqui meu muito obrigado aos jurados e aos associados da AGES por esse voto na produção autoral e editorial de qualidade que permeia a obra na sua inteireza, da primeira à quarta capa.
