Metadados: o que são? Como vivem? Como se reproduzem?
PublishNews, Ricardo Costa*, 09/08/2016
Em artigo para o PublishNews, Ricardo Costa faz um bê-a-bá dos metadados

Já ouvi várias vezes uma frase que é muito verdade: “o papel aceita tudo”. E quando mudamos para o mundo digital, podemos dizer que planilhas, tabelas, documentos e outros repositórios virtuais “aceitam tudo”. Portanto, quando falamos de metadados temos que estar cientes desta característica que pode determinar a maneira como esses dados chegam ao seu destino final.

Mais do que informações sobre livros, garanto a você que os metadados precisam ser qualificados. E quem conhece melhor cada título do que quem produz tal título? É uma questão de propriedade (ser dono de).

Quase todos já tiveram a experiência de fazer uma busca por nome de autor no site de uma livraria online e receber como resposta umas três ou quatro – quando não mais ainda – diferentes maneiras como tal nome pode estar armazenado. Primeiro nome abreviado; sobrenome antes do nome ou “vice-versa ao contrário” (como brincava meu velho pai lá no interior), nome do meio por extenso ou abreviado… a lista é grande. E pra cada opção que você escolhe, aparecem diferentes títulos. Alguns títulos se repetem entre uma opção e outra.

E a classificação de títulos, então? É outra longa discussão… depois vêm as sinopses: longa ou curta. E as capas? Que tamanho e formato será usado?

Poderia ficar dando exemplos sem fim aqui, e tenho certeza que você iria acrescentar outros tantos à minha lista. Por isso quero falar do conceito básico dos metadados. Há muito que passamos do ponto onde eles eram informações básicas sobre os livros, e onde cada editor incluía da maneira que desejava. E as livrarias, distribuidores e atacadistas faziam suas “adaptações”. E me deixe clarificar uma questão logo de partida: isso não é, nem nunca foi, privilégio do mercado brasileiro. Em todo lugar começou assim; a diferença é que outros países se organizaram antes de nós. E eu ainda poderia lhe contar mais algumas histórias “divertidas" de lá, mas vai ficar pra outro dia.

Voltando... A pergunta de partida é: quem é o dono dos metadados de um título?

Respondo com a maior convicção: o editor. Quantas vezes você já ouviu a frase “nasceu mais um filho” (ou algo semelhante) para expressar o lançamento de um novo livro? Bom, se é assim, o pai da criança é quem sabe nome, tamanho, peso, idade, data de nascimento, cor dos olhos, da pele, do cabelo…

O editor, dentro da cadeia produtora do livro, é quem tem os dados corretos e atualizados de cada um dos seus títulos e precisa manter o mercado informado sobre isso corretamente. Se a livraria X classifica um livro como psicologia, a Y como autoajuda e o distribuidor Z como desenvolvimento pessoal, qual dessas classificações vale para um cadastro geral? Aquela que for igual à classificação do editor. Não vou entrar aqui na discussão se cada loja tem o direito de organizar os livros como lhe parecer mais adequado em suas prateleiras, mas a informação central e unificada, é do editor; disso não tenho dúvida. Foi ele quem trabalhou meses naquele texto, foi ele quem manuseou ilustrações, criou ou adaptou capas, texto de apresentação, releases e sinopses.

O mercado do livro no Brasil — e me atrevo a dizer que em toda a América Latina — precisa se organizar melhor e entregar a cada elo da cadeia produtiva a sua verdadeira função. Se cada um fizer a sua parte com excelência, toda a cadeia funciona melhor. E todos ganham ao final.

E quando o assunto é metadados, para iniciar os trabalhos, eles pertencem ao editor e é ele quem deve cuidar do conteúdo. Podem existir rotinas e processos para motivar e lembrar e facilitar o trabalho do editor de fornecer os metadados, mas não dá para substitui-lo. E pode ter certeza, editor, que você só tem a ganhar cuidando bem dos seus metadados.

E o que falar de padrão e qualidade? Isso é um capitulo, ou dois, à parte. Então vamos falar disso numa próxima ocasião.


* Ricardo Costa é Managing Director do Books in Print Brasil e Representante da Feira de Frankfurt para a América do Sul. Por seis anos, foi sócio-diretor do PublishNews (www.publishnews.com.br). Além de um apaixonado pelo mundo do livro, é viciado em séries de TV e se mete a cozinheiro (sim, cozinheiro, porque “chef” agora é coisa de TV) nas horas vagas, que são poucas! Ricardo é formado em Análise de Sistemas e tem especialização em Publishing, com experiência em desenvolvimento de negócios no mercado editorial. Trabalhou por seis anos como diretor editorial e de marketing e outros três anos como consultor em desenvolvimento de negócios editoriais; antes disso, foi gerente de produto na HBO Brasil.

[09/08/2016 06:00:00]