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Thalita Rebouças chega ao seu 21º livro e tem seis filmes em produção

Com obras voltadas ao público adolescente, autora já vendeu dois milhões de exemplares
Thalita Rebouças, escritora Foto: Fernando Lemos / Agência O Globo
Thalita Rebouças, escritora Foto: Fernando Lemos / Agência O Globo

RIO — “Recebi o novo livro e fiquei pulando de alegria. E olha que eu já passei por isso literalmente 20 vezes. Às vezes, realmente pareço uma idiota, mas sou só feliz mesmo”, explica uma eufórica Thalita Rebouças, lançando sua 21ª criação, “Confissões de uma garota excluída, mal-amada e (um pouco) dramática”. A autora de livros teen tem mesmo motivos para saltitar por aí. Ela bateu recentemente a marca de 2 milhões de exemplares vendidos (500 mil desde 2015), feito grandioso num país em que a população lê, em média, 1,7 livro por ano. Mas não “só”. Seis de suas obras estão sendo adaptadas para o cinema e ela escreve sua primeira chick-lit, contando as desventuras de sua breve solteirice. Versátil, vai estrelar ainda “Absurdices”, uma websérie contando os perrengues da fama para o GShow, e passará a “assinar” uma coluna sobre cultura para o público adulto da Rádio Globo. Thalita, de 41 anos de idade e 16 de profissão, não para quieta.

— Acho muito louco quando vejo que muitos fãs não eram nascidos quando comecei — analisa Thalita, na sala de seu apartamento em São Conrado. — Adolescente não muda. São as mesmas questões, as mesmas espinhas, paixões platônicas, a mesma intensidade. O que mudou foi o acesso à informação. Há 16 anos, não tinha nem Orkut e agora tem mil redes sociais. Antes era no boca a boca, agora é no byte a byte.

FILME ESTRELADO POR KÉFERA

E é essa popularidade que seis produtoras buscam ao adaptar os livros de Thalita para o cinema, investindo num filão ainda ignorado pelos blockbusters nacionais. Entre os projetos está “É fada!”, baseado em “Uma fada veio me visitar”, com direção de Daniel Filho. Estrelado pela youtuber e neoescritora Kéfera Buchmann, o longa está previsto para estrear em 6 de outubro. Mesmo mês em que começam as filmagens de “Tudo por um popstar”, de Cláudio Boeckel, que mira em Biel para viver a tal estrela da música. “Fala sério, mãe”, “Ela disse, ele disse”, “Tudo por um namorado” e “Era uma vez minha primeira vez” também ganharão versões.

— De alguns filmes, como o “É fada!”, fiquei mais distante. Mas o Pedro Vasconcellos, diretor do “Fala sério, mãe”, tem outra relação comigo, quer que eu fique com ele no set, diz para eu ser a JK Rowling dele, porque ela tinha uma cadeirinha nas filmagens de “Harry Potter”. No “Tudo por um namorado” devo até fazer uma ponta. A verdade é que se me chamarem, eu vou. Sou exibida, né? — diverte-se. — Por mim todo tipo de arranjo funciona, Eu quero é que façam (esses filmes). Não existe filme para adolescente no Brasil. Por quê, se dá tão certo lá fora? Que os meus filmes abram as portas para a Paula (Pimenta), para a Bruna (Vieira)...

Thalita, que enxerga as concorrentes como aliadas, também garante ver com bons olhos a recente onda do mercado editorial, que vem transformando em autores personalidades bombadas na internet. Com a serenidade de quem tem seus livros distribuídos em 20 países, traduzidos para o espanhol e português de Portugal (sim, a linguagem é adaptada), Thalita, como de costume, acha tudo isso “ótimo”.

— Qualquer pessoa que faça o adolescente ler tem o meu aplauso. Se é youtuber, funcionário público não importa. Quanto mais o adolescente lê, melhor ele vai ler. Melhor ele vai se comunicar, melhor ele vai se dar numa entrevista de emprego, no mercado de trabalho...

Dona de uma energia e alto astral impressionantes (e que causam desconfiança nos adultos mais céticos), Thalita jura que não faz a linha de Justin Bieber, ídolo teen como ela, que acaba de anunciar que vai negar os pedidos de fotos dos fãs por se sentir “um animal no zoológico” com as selfies.

— A única coisa que me irrita nessa profissão é aeroporto, juro. Mas, ao mesmo tempo, já escrevi tanto esperando avião, fico ali com meu computadorzinho, ouço as conversas, me inspiro... — garante— Ao contrário de muitos autores tímidos, amo esse universo. Um dos motivos pelos quais escrevo para adolescentes é porque adulto fala “gostei muito do seu livro, obrigada”. Já adolescente fala “caraca, teu livro é muito irado, posso te dar um abraço?” e me agarra. Gosto disso. Eu sou abracenta.

Capa de 'Confissões de uma garota excluída, mal-amada e (um pouco) dramática', de Thalita Rebouças Foto: Divulgação
Capa de 'Confissões de uma garota excluída, mal-amada e (um pouco) dramática', de Thalita Rebouças Foto: Divulgação

E é esse contato que Thalita espera ter no dia 22, às 15h, quando lança seu livro na Travessa do Barra Shopping. Estrelado por Tetê, a tal “garota excluída, mal-amada e (um pouco) dramática”, este é o primeiro trabalho dela sobre bullying. Uma pesquisa realizada pela USP e pelo IBGE no ano passado apontou que um em cada cinco estudantes já praticaram bullying com colegas, e Thalita recorreu aos fãs para ouvir histórias de quem sofreu com isso.

— Recebi mais de 5 mil e-mails, alguns até usei. Nunca sofri bullying, mas, como muitas, odiava tudo em mim. Eu tinha os dentes tortos e não sorria de jeito nenhum, acho que é por isso que eu virei um sorriso ambulante depois de usar aparelho.

No futuro, Thalita pretende atender o pedido dos fãs e escrever uma história centrada num personagem gay, Zeca, coadjuvante do novo livro. Para ela, ajudar adolescentes é uma responsabilidade. Até por saber bem o que é ser pressionada por questões pessoais.

— Mulher é muito cobrada o tempo inteiro. Me enchem o saco com a questão da maternidade, mas sou muito bem resolvida com isso — explica ela, que se separou recentemente após 18 anos. — Fazer filho é muito fácil, mas ser mãe é tão difícil e tão nobre que eu não me sinto capaz, levando a vida que eu levo. Tenho pânico de criar um filho nas coxas. Tem gente que acha O.k. deixar o filho para a escola educar, para a babá, os avós... eu não. Eu viveria culpada. Decidi isso muito plenamente, mas não descarto uma adoção no futuro.