Momento mágico
PublishNews, Paulo Tedesco, 30/03/2016
Em sua coluna, Paulo Tedesco analisa o cenário atual e se questiona: 'será que o que ocorre no mundo do livro também não estaria na crise do modelo das empresas de comunicação, que tinham o conteúdo e

Não resta dúvida: as mudanças vieram para chegar e não pararão tão cedo! E o curioso é que se alguma vez esperamos por alterações na tecnologia e algo na economia, de forma repentina, para muitos, o que desaba é o social, o político e principalmente o organizativo. Feito remédio de amplo espectro e seus efeitos colaterais sobre um corpo não de todo doente.

Pois a revolução tecnológica combinada com o fim da Guerra Fria, lá nos anos 1990, nos entregou, às primeiras décadas do século XXI, tal estado de coisas. Claro, há a inexorável força humana, contraditória na maioria das vezes, a empurrar a humanidade um passo à frente, mesmo que em falso ou desastroso – a se ver pelos danos ecológicos que andam ocorrendo.

Aqui, no Rio Grande do Sul, por exemplo, há pouco mais de uma década ninguém poderia ou se quer apostaria que o maior grupo de comunicação do sul do país, repentinamente, encolhesse, como vem acontecendo. Lembro de juntar moedas para comprar o jornal dominical que curiosamente era vendido já no sábado à tardinha – ali, afinal, havia tanta oferta que não arranjava emprego ou comprava qualquer coisa quem não quisesse, pois oportunidades existiam naquele calhamaço que constituía, todos os domingos, o outrora e agora inexistente Classificados da ZH Dominical.

Algo diz, e aqui é mais uma aposta do que alguma certeza, que essa crise política que se arrasta no país é mais pela decadência de um modelo de indústria do que, necessariamente, por uma questão puramente político-partidária. E arrisco, será que o que ocorre no mundo do livro também não estaria na crise do modelo das empresas de comunicação, que tinham o conteúdo exclusivo como seu principal ativo?

No excelente livro de Fernando Morais, Chatô, o Rei do Brasil (Companhia das Letras), a história da imprensa nacional, sob o império de Assis Chateaubriand, se configura um razoável desenho dessas mudanças no ramo da imprensa e comunicação, porém, e repito, espantosamente, nunca na rapidez e na forma com que vem ocorrendo, e assim nos deixando perplexos e não menos sem respostas.

Analisemos, porém, o presente e a internet. Suas possibilidades e suas inegáveis qualidades fizeram, sim, um novo mundo, e como Raskónilkov diante da prostituta Sônia, é preciso se ajoelhar e comungar, pois nossos sentimentos e possibilidades não são nada diante do que, pela humanidade, a internet faz atravessar.

E um recado especial aos novos editores e aos autores: a internet não se faz somente de redes sociais e gastos fabulosos em ambientes de busca, se faz de propostas ousadas e provocadoras, feito esse boletim digital e diário, o nosso PublisNews, que de repente trouxe, a todos, os fatos e os números que nos faziam falta, e que demonstra fôlego para ir muito, mas muito longe, colocando, literalmente, as mudanças em seu largo bolso, para nos trazer um futuro promissor.

[30/03/2016 09:08:22]