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Umberto Eco pediu que não recebesse homenagens póstumas por dez anos

Desejo foi escrito em seu testamento e comunicado pela viúva à Universidade de Bolonha
O escritor Umberto Eco faleceu em fevereiro, em sua casa, em Milão Foto: Sara Krulwich / The New York Times
O escritor Umberto Eco faleceu em fevereiro, em sua casa, em Milão Foto: Sara Krulwich / The New York Times

ROMA (Itália) - O escritor, semiólogo e filósofo italiano Umberto Eco, morto no dia 19 de fevereiro, deixou escrito em seu testamento que não queria celebrações nem homenagens em sua memória durante, pelo menos, dez anos. O desejo do escritor foi comunicado por sua viúva, Renate, à diretora da Escola Superior de Estudos Humanísticos da Universidade de Bolonha, Maria Patricia Violi.

Foi Violi quem informou os antigos colegas de Eco na conhecida como "Superescola", a instituição criada pelo escritor italiano com o objetivo de difundir a cultura entre os pesquisadores com alto nível de conhecimentos. Os acadêmicos estavam reunidos com ela no sábado passado para, exatamente, organizar um convênio internacional sobre a obra do filósofo que seria realizado no ano que vem. O reitor da universidade, Francesco Ubertini, tinha anunciado após a morte de Eco que a abertura do novo ano letivo seria dedicada à memória do escritor, um professor que enche de orgulho a instituição.

No entanto, os planos tiveram que mudar depois que Renate comunicou à diretora da escola que, entre as últimas vontades de Umberto Eco, estava o desejo explícito de não receber homenagens na próxima década. Os professores não tiveram dúvida em respeitar a vontade do mestre. E não só isso. Eles afirmaram que se trata de uma ideia própria de um verdadeiro gênio.

- Pessoalmente, me parece uma escolha bem ao seu estilo, uma ideia genial. Eco quis evitar uma sequência de ações no momento e convidar a uma reflexão de longo prazo, ponderada. Em algum momento tinha comentado que não queria jornadas de estudo dedicadas a ele. Mas agora estão claras suas vontades. É um convite a quem queira organizar homenagens, ainda que com as melhores intenções, se detenha. Mesmo o reitor disse que não se farão na Universidade de Bolonha. Respeitaremos seu desejo - disse a diretora Violi ao jornal "La Repubblica".

A mesma opinião tem Jorge Lozano, semiólogo da mesma escola e amigo de Umberto Eco.

- É uma genialidade, uma ideia absolutamente genial. Eu o aplaudi como um louco. Seu desejo demonstra quem é o nosso Umberto Eco - afirmou Lozano.

O presidente da Escola de Letras da Universidade de Bolonha, Constantino Marmo, concordou.

- Nesta vontade reconhecemos a faceta irônica de nosso professor, que não queria ser mumificado ou monumentalizado.

A memória do escritor será levada aos alunos da universidade com diferentes projetos acadêmicos, como mesas redondas ou documentários sobre seus livros. O projeto mais ambicioso seria  o de fazer nascer em Bolonha um centro de estudos de semiótica, um sonho de Patricia Violi, e que se dedicaria a continuar os estudos semióticos de Eco e, ao mesmo tempo, a reunir todos os livros e escritos do filósofo. Por enquanto, esta é só uma ideia.