Crise e centralização no livro
PublishNews, Paulo Tedesco, 16/03/2016
Em sua coluna, Paulo Tedesco critica a relação entre autores autopublicados ou publicados por pequenas editoras e as redes de livrarias

É preciso falar de lançamentos, das sessões de autógrafos. Algo que num passado, não muito distante, era considerado o grande evento do livro, o momento desejado e sonhado por autores e editoras, e que recebia farta cobertura da imprensa, provocando debates antes e depois da oficial entrega dos exemplares ao público – e de repente, no início do novo milênio, não é mais bem assim.

Por mais incrível que possa parecer, para uma sessão de autógrafos há, hoje, interesses divergentes. Para a editora, está quase como sempre: uma oportunidade primeira para promover aquele livro e o seu autor; para o autor também é a chance de chegar próximo de seus leitores e, autografando, dar um toque particular e pessoal ao exemplar vendido; para os livreiros, porém, é que algo mudou.

Para o pequeno livreiro, a sessão de autógrafos, ao que tudo indica, permanece um bom negócio. Sabe-se, afinal, de livrarias de bairro que oferecem incentivos a que se façam os lançamentos em suas dependências, desde um desconto inferior ao das grandes concorrentes sobre o preço de capa, até a oferta de vinhos e outros inteiramente gratuitos ao promotor do evento. O mesmo, porém, parece que não vem ocorrendo para as médias e grandes livrarias, infelizmente.

Nessas empresas livreiras, onde há também material escolar, CDs, eletroeletrônicos, recarga de celular, revistas e tantas coisas mais, um lançamento de livro passou a ser um extra para promover a loja e incentivar vendas, se tanto. E isso se confirma pela rede da Livraria Cultura, que, seguindo o que a rede Saraiva já vinha praticando, no início desse ano passou a centralizar em São Paulo todos os agendamentos de lançamentos de livros, junto com o gerenciamento dos exemplares a serem expostos nas prateleiras.

Esse é, certamente, o preço da crise, ou seja, enxugam-se estruturas, centralizam-se gerenciamentos e conquista-se o ponto de equilíbrio no curto prazo, que é reduzir custos mesmo que comprometam, um pouco, suas vendas. Até aí, tudo bem! É o jogo, afinal é o sistema, e as lojas precisam sobreviver. Mas, e os autores que se lançam por conta própria? E as editoras que começam? Pois, além do lançamento haveria, obviamente, a necessidade de colocar mais exemplares nas lojas, o que, sabidamente, nem sempre, ou raramente, é aceito pelas direções centralizadas das grandes livrarias, quando se trata de títulos e editoras de alcance local.

A sessão de autógrafos, portanto, nunca foi tão importante, inclusive como resposta a crises, feito essa. É preciso buscar quem aceite qualquer autor e editora de braços abertos. Temos que torcer para que o laço desaperte o quanto antes e que as grandes repensem um pouco e encontrem alternativas – porque existem alternativas –, e também apostar na criatividade do livreiro de bairro ou de nicho, pois recaiu a ele ou ela, por enquanto, o privilégio exclusivo do contato direto com quem se autopublica e com as editoras pequenas e médias. E, mais que isso, reforçou sua importância como local onde a cultura respira, pois sem bibliodiversidade a cultura se estandardiza, decai e apodrece. E agora não parece boa hora para perdas.

Revisado por www.ngservicoseditoriais.com.

[16/03/2016 10:10:06]