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‘Arte e Letra: Estórias’ chega ao fim após se destacar por publicar inéditos

Revista curitibana publicou 26 edições em oito anos
Capa da revista "Arte e Letra: Estórias" Foto: Divulgação
Capa da revista "Arte e Letra: Estórias" Foto: Divulgação

RIO - O alfabeto chega ao fim na letra Z e, com ele, chega ao fim também a revista de literatura “Arte e Letra: Estórias”, com a edição Z. Ao longo de oito anos, foram 26 edições (uma para cada letra do alfabeto) da publicação trimestral nascida em Curitiba, com 276 textos de 269 autores. Desde a letra A, no já longínquo ano de 2008, o objetivo dos irmãos Frede e Thiago Tizzot, sócios da editora Arte e Letra, era dar visibilidade a trabalhos de autores que permaneciam inéditos no Brasil ou andavam esquecidos, garantindo também um espaço para os brasileiros. De Edgar Allan Poe a Enrique Vila-Matas, passando por Isaac Asimov, Ricardo Piglia e Luís Henrique Pellanda.

Sem tristeza nem lamentação, o último número trouxe contos da argentina Selva Almada e do português Almeida Faria, ambos só com um livro publicado no Brasil cada, além da chilena Marta Brunet, do argentino Pablo Besarón, do dinamarquês Jens Smaerup Sorensen, e dos brasileiros Rogério Pereira, Leonardo Villa-Forte, Julie Fank e Tatiana Eiko, entre outros. Frede Tizzot explica que, lá pela metade do alfabeto, eles já tinham decidido encerrar na letra Z.

— Desde o começo houve essa discussão se haveria um prazo de validade. No meio do caminho, percebemos que o alfabeto era um ciclo fechado. Claro que passa também por algumas questões de dificuldade de manter a proposta inicial, que era não repetir autores, o que limita a duração da revista — diz Frede, que também é ilustrador e designer gráfico. — A característica essencial da revista era apresentar autores. Quisemos ser uma publicação de literatura, não sobre literatura, eclética e diversa, unindo escritores novos e consagrados na mesma edição. Sem discriminação.

A “Arte e Letra: Estórias” foi um dos primeiros projetos da editora dos irmãos Tizzot, criada em 2004. Naquele momento, afirma Frede, a vida literária de Curitiba passava por uma transição, com a saída de cena da geração de Paulo Leminski, Manoel Carlos Karam, Jamil Snege e Valêncio Xavier. O mais comum, na época, era que um autor, para ser publicado, saísse da cidade em direção a São Paulo ou Rio. Faltavam editoras de literatura na capital paranaense. Ao criarem a empresa, os dois perceberam a oportunidade de fazer tudo na própria cidade.

“Nesses anos de editora, observamos uma mudança em direção à valorização do livro com objeto. Foi a partir de pesquisas que fazíamos nesse sentido que surgiram os livros artesanais”

Frede Tizzot
Editor

— Há dez anos, a cena cultural local era muito diferente. Estávamos saindo de uma geração genial em termos de literatura, todos morreram, e ficamos num limbo. Quando começamos a trabalhar, vimos que era possível fazer tudo aqui. Foi um movimento natural e acabou que puxamos a bandeira. Publicamos autores estreantes, dialogando com essa nova geração, mas também com nomes já consagrados. Uma cena local precisa de escritores, o que sempre tivemos, editoras afim de publicar, livraria para vender e público. Nós nos envolvemos em todos esses elos — conta o ilustrador, citando a livraria que leva o mesmo nome da editora e é ponto de encontro de autores na cidade.

A revista acabou sendo um cartão de visitas em meio a essas mudanças, ao apresentar a proposta da editora: investimento no acabamento e no projeto gráfico dos livros. Todas as edições da “Estórias” têm imagens de artistas plásticos, fotógrafos e ilustradores. Era uma forma de apresentar também artistas de fora da literatura e o retorno foi positivo, tanto do público quanto dos colaboradores. Em alguns casos, textos publicados na revista ganharam edição em livro, como o conto “O cair da noite”, de Isaac Asimov.

A consagração da aposta da “Arte e Letra” veio no ano passado. Em novembro, a casa recebeu o Prêmio da Biblioteca Nacional, na categoria projeto gráfico, com a edição artesanal de “A mão na pena”, de Dalton Trevisan. Impresso em tipografias e com ilustrações em xilogravuras, a obra faz parte da segunda coleção de livros artesanais feita pela editora. A produção, toda manual, foi dividida entre Curitiba e São Paulo.

— Nesses anos de editora, observamos uma mudança em direção à valorização do livro com objeto. Foi a partir de pesquisas que fazíamos nesse sentido que surgiram os livros artesanais. É um trabalho demorado, leva cerca de um ano cada um. Com essa coleção, também ganhamos, no ano passado, um prêmio na Bienal Brasileira de Design Gráfico, no Rio.