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Editora rebate decisão do MP-RJ: ‘Edição de ‘Minha luta’ é antinazista’

Geração Editorial e Centauro, além da livraria Saraiva, serão investigadas por racismo

Edição alemã do livro de Hitler
Foto: Matthias Balk / AP
Edição alemã do livro de Hitler Foto: Matthias Balk / AP

RIO - Antes mesmo de as versões impressas do livro “Minha luta”, de Adolf Hitler, chegarem às prateleiras brasileiras, uma batalha judicial está configurada. Nesta sexta-feira, o procurador-geral do Ministério Público do Estado do Rio, Marfan Martins Vieira, determinou que as editoras Geração Editorial e Centauro, além da livraria Saraiva, sejam investigadas pela 1ª Promotoria de Investigação Penal por racismo. A informação foi revelada pelo colunista do GLOBO Merval Pereira em seu blog.

A notícia crime sobre a reedição da obra foi enviada a Marfan pelos advogados Ary Bergher, Raphael Mattos e João Bernardo Kappen. No texto, eles alegaram que a obra é preconceituosa. Os advogados incluíram no pedido uma nota fiscal da compra do e-book na Saraiva. Eles pediram ainda que a possibilidade de retirar exemplares das livrarias não seja excluída:

"O livro escrito por Hitler é um incentivo ao extermínio de seres humanos, das minorias — judeus, ciganos negros, homossexuais — e por isso sua publicação, edição e comercialização vem sendo proibida ao longo dos anos. As ideias nazistas apresentadas por Hitler em seu livro falam de uma 'raça humana ariana' superior a toda as outras e única merecedora da sobrevivência. Um claro incentivo, portanto, ao extermínio dos que não são considerados pertencentes à linhagem ariana".

A obra, publicada pelo ditador alemão antes de sua ascensão ao poder, entrou em domínio público este ano

Procurada pelo GLOBO, a editora Geração Editorial informou, em nota oficial, que pretende lutar pelo direito de publicar a obra. “Trata-se de decisão equivocada do Ministério Público do Rio de Janeiro a partir de petição histérica de advogados desinformados”, diz o texto. O publisher da empresa, Luiz Fernando Emediato, rebateu as acusações:

— Caso o procurador insista, e isso acabe na Justiça, invocaremos nossos direitos constitucionais, pura e simplesmente. Demonstraremos que nossa edição é, pelo contrário, antinazista. Sua proibição teria repercussão mundial.

"— Não é possível entender a mente de Hitler sem ler seus textos. Não é possível combater completamente e honestamente...

Publicado por Geração Editorial em Quarta, 27 de janeiro de 2016

Nesta semana, escritores e professores brasileiros lançaram um abaixo-assinado contra a publicação do livro pelas editoras. Organizado por Daniela Lima, Giovanna Dealtry, Laura Erber e Ricardo Lísias, o manifesto critica o tratamento gráfico dado pela Geração Editorial à edição. O texto questiona se o livro realmente apresentará um panorama crítico do texto de Hitler: “Se a capa do livro for semelhante ou idêntica àquela apresentada no cartaz, mimetiza a estética dos atuais best-sellers direcionados ao público adolescente. Por fim, a editora tem adotado o procedimento de agredir pessoalmente aqueles que vêm se manifestando contra a edição comercial do livro".