Edipro desiste de 'Mein kampf' e parte da comunidade judaica diz que fará de tudo para evitar a circulação da obra no Brasil
PublishNews, Leonardo Neto e Monique Sampaio, 14/01/2016
Outra edição do manifesto nazista de Hitler está no prelo da Geração Editorial

Após 70 anos sem novas publicações, Mein kampf ganhará novas edições ao redor do mundo em 2016| © Divulgação
Após 70 anos sem novas publicações, Mein kampf ganhará novas edições ao redor do mundo em 2016| © Divulgação
Ao anunciar que publicaria por aqui no Brasil o livro-manifesto de Hitler, a Edipro disse ao PublishNews que foi bombardeada por questionamento de seus leitores. A principal queixa era sobre o fato de publicarem aqui uma edição "seca", sem comentários críticos e com uma tradução antiga, realizada por Julio de Matos Ibiapina (1890 - 1947) nos anos 1930. Em nota enviada à redação do PN em primeira mão, a editora diz que a obra "poderia ser mal entendida pelo público leitor, tendo consequências maléficas a todos aqueles que tiveram seus direitos humanos desqualificados ou vilipendiados, além de poder reacender sentimentos de ódio ou discórdia".

"Acreditamos que com a liberação ao domínio público surgirão vários trabalhos a respeito deste livro, que certamente irão melhor esclarecer sobre o mesmo e suas consequências no momento histórico mundial que ele foi escrito. A Edipro continuará com sua missão de trazer um conteúdo relevante e informativo ao seu leitor", completa a nota

No entanto, uma versão da íntegra do livro editada pela Centauro já está a disposição em algumas livrarias e a Geração Editorial mantém os seus planos de publicá-lo. Isso fez parte da comunidade judaica se movimentar no sentido de proibir a publicação e circulação de Mein kampf no Brasil. Paulo Maltz, presidente da Federação Israelita do Rio de Janeiro (Fierj) e vice-presidente da Confederação Israelita Brasileira (Conib), disse ao braço brasileiro do periódico alemão Deutsch Welle que entrará na Justiça contra a decisão das editoras. “Existe no Brasil uma legislação que veda a divulgação de temas racistas e antissemitas. Estamos estudando maneiras de garantir isso’’, disse. A Geração Editorial e a Edipro informaram ao PublishNews que, até o momento, não foram notificadas pela Fierj e nem pela Conib.

Contudo, mesmo entre os líderes judeus, opiniões diversas acerca da distribuição da obra apareceram. Osias Wurman, cônsul honorário de Israel no Brasil, declarou do Deutsch Welle:por incrível que pareça, sou absolutamente a favor de uma edição comentada, didática, capaz de acabar com a ignorância mundial sobre os males do nazismo para os judeus, o mundo e os próprios alemães”.

A edição da Geração, ao contrário da prometida pela Edipro e a já publicada pela Centauro, trará, além da íntegra do texto traduzida direto do alemão por William Lagos, 305 notas e apêndices extraídos da edição norte-americana de 1939 e comentários críticos de Luiz Fernando Emediato, publisher da casa, e dos professores Nelson Jahar Garcia e Eliane Hatherly Paz.

Mein kampf está dividida em duas partes, uma contendo a autobiografia, em que o líder nazista relata sua a história rumo ao poder, e a segunda que expõe as ideologias do nazismo.

[14/01/2016 10:04:55]