RIO - Desenhista técnico por formação, Bonifácio Rodrigues de Mattos tentou a sorte na charge em 1978, em jornais de sindicatos — e nunca mais voltou à antiga profissão. Ferino em suas análises da realidade brasileira (especialmente aquela em que vivem ele e outros negros), ele teve seu trabalho publicado em periódicos como “O Pasquim”, “Última Hora” e “O Dia”. Agora, o cartunista que ficou conhecido como Ykenga compila algumas de suas obras mais representativas em “Casa grande & sem sala”, livro que tem noite de autógrafos nesta terça-feira, a partir das 19h, no 9º andar da Associação Brasileira de Imprensa (ABI).
— Tinha muitas charges sobre a questão do preconceito racial, mas é difícil conseguir espaço para publicá-las, nem sempre elas cabiam. Fui juntando algumas e resolvi fazer um livro — conta o artista, de 63 anos, que hoje colabora com o “Mais São Gonçalo”, suplemento do jornal “Extra”. — O livro é uma paródia do “Casa grande e senzala”, a bíblia da sociologia, do Gilberto Freyre. Parti para o contraponto, botando o dedo na ferida.
No livro (que tem texto de apresentação de Chico Caruso, cartunista do GLOBO), Ykenga reencena a morte de Zumbi dos Palmares como um auto de resistência, faz a ponte entre os navios negreiros e os camburões de hoje e lembra a “apropriação indébita” da qual os sambistas foram vítimas no começo do século passado:
— São questões que já estão aí há muito tempo. A única diferença entre antes da abolição da escravatura e hoje é que não há mais correntes.
“Casa grande & sem sala”
Autor: Ikenga.
Editora: Nitpress.
Páginas: 32.
Quanto: R$ 30.
Lançamento: Hoje, às 19h, no 9º andar da ABI — Rua Araújo Porto Alegre, 71, Centro (2282-1292).