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Tutty Vasques, um antídoto contra o mau humor reinante no Brasil

Alfredo Ribeiro coletânea de frases e perfis do seu alterego na próxima segunda-feira no Rio
O jornalista Alfredo Ribeiro, mas pode chamar de Tutty Vasques Foto: Divulgação
O jornalista Alfredo Ribeiro, mas pode chamar de Tutty Vasques Foto: Divulgação

RIO - O Brasil perdeu a capacidade de rir dos seus próprios problemas. O diagnóstico é do jornalista Alfredo Ribeiro, mais conhecido por seu alter ego, Tutty Vasques. Ribeiro lança, na segunda, às 19h, na Livraria Argumento do Leblon, “Ô raça! Má notícia é a maior diversão. O humor de Tutty Vasques na internet” (Ed. Apicuri). O livro é uma reunião das suas crônicas do noticiário, publicadas em sites e blogs entre 2001 e 2015. Além de uma série de “Retratos falados”, perfis bem pessoais dos seus “malucos de estimação”.

— O Brasil sempre teve uma vocação para o humor, para achar graça da nossa bagunça — diz. — Hoje parece que aqui só tem dois lados, o contra e o a favor. Vivemos numa confusão tão grande que tem indignado pedindo a volta da ditadura, o que só pode ser visto como piada. Está todo mundo falando sozinho, ainda que concordando.

A pesquisa para o livro ficou a cargo do jornalista Fábio Rodrigues, que durante quatro meses fez um mergulho na produção de Tutty. Depois, os dois definiram o que ia entrar ou não. O maior medo de Ribeiro era de que os textos ficassem datados. No entanto, o país das “notícias enguiçadas” não decepcionou. “Caetano Veloso sentiu ‘um certo cheirinho de Veneza no ar’ na Festa Literária Internacional de Paraty”, por exemplo, é de 2004, mas poderia ser de 2015. O que explicaria essa permanência?

— O Brasil tem dificuldade de mudar. Depois da ditadura, a mudança parecia uma coisa imediata, mas começamos a ver que não é bem assim. O que mantém a atualidade do humor do Tutty é não estar partidarizado, nem defendendo nem atacando alguém.

Depois de 30 anos de atividade ininterrupta, Tutty Vasques resolveu tirar um período sabático e dar um descanso para o Alfredo. O jornalista, hoje editor de internet do Instituto Moreira Salles (IMS), diz que, após tanto tempo sendo outra pessoa, descobriu que não consegue mais escrever de outra maneira. O que não é necessariamente ruim.

— Tem uma esquizofrenia minha com o Tutty. O meu analista acha que está resolvendo, então vou deixar ele acreditar nisso. Quando fui para o IMS, decidi dar uma parada. Só que continuo escrevendo como ele, não sei mais escrever de outra maneira. Na minha volta para ser o Alfredo Ribeiro estou virando uma terceira coisa (risos). Eu e o Tutty nos encontramos no meio do caminho. É muito bom — finaliza Tutty, ou melhor, Alfredo.