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Diretor de política para leitura do MinC promete driblar falta de recursos

Com orçamento que já chegou a R$ 100 milhões, Volnei Canônica hoje só tem R$ 4 milhões garantidos

Volnei Canônica, diretor do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca do MinC, durante o Fórum das Letras de Ouro Preto
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Bruno Arita/Fórum das Letras/Div
Volnei Canônica, diretor do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca do MinC, durante o Fórum das Letras de Ouro Preto Foto: Bruno Arita/Fórum das Letras/Div

OURO PRETO, MG — Há três meses, Volnei Canônica trocou de lado no balcão: deixou a coordenação do programa Prazer em Ler, do Instituto C&A, onde estava desde 2010, para assumir a Diretoria do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas do Ministério da Cultura (DLLLB/MinC). Especialista em literatura infantil e juvenil, ele é o terceiro nome a ocupar o posto em um ano. Apesar de reconhecer o encolhimento do orçamento — no passado, ultrapassou R$ 100 milhões com o reforço de emendas parlamentares e hoje só tem R$ 4 milhões garantidos até o momento —, Canônica diz que a orientação do ministro Juca Ferreira é pensar planos “audaciosos e sustentáveis, que contribuam para mudanças de cenário”. Isso não significa grandes programas de compras de livro.

— Não cabe ao Ministério da Cultura distribuir livros, já vimos que não é isso que vai formar leitores. Precisamos de profissionais preparados e bibliotecas estruturadas para trabalhar com esses livros. Senão, vão ficar encaixotados ou então estarão na prateleira e o funcionário nem conhecerá o seu acervo — diz o diretor. — Não se faz política pública só com recursos. É preciso reunir todos os atores envolvidos e ver com o que cada um pode contribuir sem onerar.

Canônica admite que as muitas mudanças pelas quais a DLLLB passou nos últimos anos (como a transferência do órgão para o Rio, em 2011, vinculado à Fundação Biblioteca Nacional, e o seu retorno à Brasília, oficializado no ano passado) criaram dificuldades. Nesses primeiros meses, sua principal tarefa tem sido buscar a integração interna e o diálogo com a cadeia produtiva do livro e os investidores sociais privados.

A FUNÇÃO DOS EVENTOS

Segundo Canônica, hoje há mais eventos literários e discussões sobre livros do que nunca, mas as iniciativas estão desligadas umas das outras. O papel do MinC é, então, criar articulações. Entre as medidas prioritárias da diretoria está o fortalecimento do sistema de bibliotecas públicas, com a inclusão das bibliotecas comunitárias, além do reforço do ProLer, programa criado em 1992 para a formação de leitores.

— Apenas 112 municípios não têm biblioteca pública. Claro que muitas precisam de cuidado e investimentos — afirma o diretor. — A ação de formação é lenta e necessária. Vamos resgatar o ProLer tendo em vista as transformações recentes, como o acesso ao livro digital. Os jovens leem, mas não sabemos o que eles estão lendo. Precisamos conhecê-los, aprender com eles e trazer outros tipos de desenvolvimento.

Para o novo diretor, as feiras literárias são importantes para pôr a literatura na agenda e mobilizar a sociedade, atraindo pessoas que não frequentam livrarias e bibliotecas. Contudo, esses eventos são insuficientes para formar um leitor.

— Quem organiza uma feira literária precisa pensar como construir um lastro de engajamento antes e depois do evento. Muitos trazem gente de fora, mas é preciso dar espaço para quem, naquela cidade, atua no dia a dia da formação. E aproveitar o momento para refletir sobre as políticas da cidade para o livro e a leitura. A venda de livros é importantíssima, mas não pode ser a única razão das feiras — opina Canônica, em Ouro Preto, onde veio participar do Fórum das Letras.

Sobre a lei do preço fixo do livro, o diretor afirma que o MinC apoia a iniciativa dos editores e livreiros em defesa de uma nova legislação e está debatendo o assunto com o Congresso e as associações de classe. Segundo Canônica, estão em estudo outras medidas para apoiar as pequenas livrarias, como linhas de crédito e investimentos na formação dos livreiros.

— Somos favoráveis à lei do preço fixo. Em outros países, isso contribui para a sustentabilidade das pequenas livrarias. Pensamos ainda em outras formas de fortalecer esses espaços, como a possibilidade de isenção do IPTU.

O repórter viajou a convite da organização do Fórum das Letras