Best-seller 'O Exorcista' ajudou a financiar obra
"Graças ao 'Exorcista' hoje temos o dicionário Aurélio", diz Joaquim Campelo, colaborador da obra. Ele conta que por dois anos ofereceu o dicionário a várias editoras. "Era não atrás de não."
Escrito por William Peter Blatty, o best-seller de suspense rendeu um bom dinheiro à Nova Fronteira na década de 70. E ela tratou de investir tudo na compra de imensos cilindros de papel-bíblia, dando vida ao "Aurélio".
Fez tanto sucesso que pouca gente se deu conta de que a obra trazia dezenas de erros de português. "Aleluia aparecia com acento no u", conta Campelo. Mas, antes de a segunda reimpressão (já com os ajustes) chegar ao prelo, o "Aurélio" nadava de braçadas no mercado editorial. Desbancou, inclusive, o posto do "Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa".
Soberana nas livrarias desde 1938, essa obra era editada por Hildebrando de Lima junto a um elenco formidável de colaboradores, como Otto Maria Carpeaux e Manuel Bandeira. "Aurélio foi chamado para substituir Bandeira", diz Campelo. Míope, o poeta pediu para sair. "Sofria para ler as letras miúdas das páginas mesmo com óculos."
Assim o professor Aurélio entrou para o universo dos dicionários. Revisou inúmeras edições e por lá permaneceu por anos. E, ao se desligar desse projeto nos anos 60, aceitou o convite da revista "O Cruzeiro" para editar um dicionário, encartado em fascículos. Campelo, seu ex-aluno e já amigo de todas as horas, faz sua estreia como assistente.
A proposta pioneira morre na praia. As experiências, no entanto, animam Aurélio, Campelo, Margarida dos Anjos, Elza Tavares e Marina Baird (já casada com Aurélio) a criar em 1968 um dicionário.
Como bancar um dicionário seria algo impossível, Campelo recorreu a amigos bem de vida para começar.
A equipe lidera a edição de um dicionário com um mix de verbetes do clássico ao brasileirismo captados em caminhadas no centro do Rio e "anotados em papeizinhos, aqueles de boteco", relembra Campelo, que os incorporava ao dicionário.
Tudo ia bem até 2001, quando entra em cena o "Houaiss". "A primeira edição ficou no primeiro lugar da lista de best-sellers por meses", relembra Mauro Villar, 76, diretor do Instituto Antônio Houaiss e coautor do dicionário do mestre Antônio Houaiss (1915-1999).
"Aurélio" e "Houaiss" já não estão no ranking há tempos. Ambos concentram novas investidas em versões on-line de seus conteúdos (leia ao lado). Também não são campeões de vendas nas licitações públicas do governo federal.
A mais recente compra de dicionários no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), realizada em 2012 movimentando mais de R$ 93 milhões, foi dividida entre as editoras de Aurélio, Houaiss e outras dez empresas.