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Raphael Montes mergulha no terror em 'O vilarejo'

Autor publica terceiro romance enquanto termina primeiro filme

Raphael Montes, de 23 anos, em sua casa: ele lança o romance de terror “O vilarejo”..
Foto: BEL PEDROSA/Divulgação
Raphael Montes, de 23 anos, em sua casa: ele lança o romance de terror “O vilarejo”.. Foto: BEL PEDROSA/Divulgação

RIO — Asmodeus, Belzebu, Mammon, Belphegor, Satan, Leviathan e Lúcifer batizam os sete capítulos de “O vilarejo” (Suma de Letras), primeira incursão de Raphael Montes pelo terror. Respectivamente, os demônios representam luxúria, gula, ganância, preguiça, ira, inveja e soberba. O autor carioca usou uma definição de 1589, feita pelo padre alemão Peter Binsfeld, para costurar sete contos, cada um deles sobre um pecado capital.

Em um pequeno vilarejo, pintado de branco pela neve, famílias tentam sobreviver às intempéries da guerra. O desmoronamento psicológico dos personagens, diante de situações extremas, é o ponto comum das narrativas. Invariavelmente, o mal emerge de dentro das pessoas. Se “Suicidas” (Benvirá) e “Dias perfeitos” (Companhia das Letras) se passam no Rio, o romance mais recente transporta o leitora para um ambiente distante, não identificado.

— O vilarejo é um microcosmos do mundo. De algum modo, todos nós conhecemos esse lugar e já estivemos lá — argumenta Montes. — Eu me preocupo com a psicologia dos personagens, em entender a cabeça do ser humano. Seja a do carioca ou a do habitante do vilarejo.

Montes começou a estruturar “O vilarejo” em 2010, enquanto trabalhava nos romances policiais que o alçariam à condição de promessa da literatura nacional. Para ele, enveredar pelo gênero de Stephen King — a quem já foi comparado por Fernanda Torres — foi uma espécie de traição.

— Ainda estava imerso na literatura policial, mas comecei a rascunhar essas histórias de terror. Como foi um trabalho sem nenhuma pretensão, foi uma delícia. O processo foi bem menos doloroso.

“O vilarejo” ganhou o rótulo de romance fix-up . O termo, que em inglês pode significar “conserto”, é usado para descrever livros em que o autor faz pequenas modificações em textos já existentes, a fim de dar a eles coesão estilística e temática. Montes explica que não conhecia o gênero, mas que descobriu ser esta a melhor maneira de enquadrar “O vilarejo”.

O autor escreveu primeiro dois contos, e só então percebeu que eles poderiam render um livro. Então, decidiu criar outros cinco e dar a eles o mesmo fio narrativo. Todas as sete histórias podem ser lidas de forma estanque, sem prejuízo para a compreensão do leitor. No entanto, se lidas na ordem do livro, desembocam em um final único, que conclui toda a narrativa.

— Fiquei em dúvida se estava escrevendo contos avulsos ou um romance. Percebi que há uma grande história, maior do que as sete individuais. Escrevi um romance fix-up sem saber que estava fazendo isso.

Montes adianta que 2016 será um ano de “realizações audiovisuais”. “Dias felizes” será adaptado para o cinema por Daniel Filho, e o autor pretende terminar o roteiro de seu primeiro longa. Ele também trabalhou como roteirista de dois programas de TV, que devem estrear em breve: as minisséries “SuperMax”, da Globo, e “Spinosa”, do GNT. A segunda é inspirada em uma história de Luiz Alfredo Garcia-Roza, um dos maiores autores de literatura policial no Brasil. A experiência deu a ele algumas lições:

— Quanto mais fiel ao livro, pior. Foi a primeira coisa que notei. Quanto mais você se recusa a criar elementos audiovisuais para a trama, mais ela vai ficar boba. Vai parecer um livro filmado. E como “Dias felizes” vai ser transposto para o cinema sem a minha ajuda, aprendi a ter respeito pela traição, pela mudança.