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Em meio a polêmicas, escritor chinês vence Prêmio Hugo, de ficção científica

Liu Cixin é o primeiro autor de língua não inglesa em 62 anos a conquistar a premiação

WASHINGTON — Pela primeira vez em 62 anos, o Prêmio Hugo de Melhor Romance, o mais importante da literatura de ficção científica, foi concedido a um trabalho escrito em uma língua diferente do inglês pela Sociedade Mundial de Ficção Científica. O ganhador, anunciado em cerimônia realizada no último sábado, em Washington, é o escritor chinês Liu Cixin, com “The three-body problem”, uma ficção sobre a preparação da Terra para uma invasão alienígena.

Liu Cixin é tido como um dos melhores escritores de ficção científica de seu país. Em seus textos, especula sobre o papel da China perante o mundo. Este assunto, inclusive, aparece em “The three-body problem”.

O livro ganhador, que ainda não foi publicado no Brasil, é a primeira parte de uma trilogia de grande sucesso editorial na China. Sua primeira edição, de 2007, teve que ser traduzida e publicada em inglês para concorrer ao Hugo, como manda o regulamento.

Os prêmios Hugo, que já reconheceram o trabalho de grandes nomes da ficção científica (como Isaac Asimov, Orson Scott Card e Arthur C. Clarke), viveram este ano uma de suas edições mais polêmicas. Das 16 categorias premiadas, cinco ficaram sem premiados. O número equivale ao total de honrarias que ficaram vagas em toda a história do Hugo.

CAMPANHA POLÊMICA

Este ano, a polêmica teve como detonador uma campanha chamada “Sad puppies” (“Cachorros tristes”, em tradução livre), lançada por escritores do gênero que se opõem a um suposto viés politicamente correto da organização. Segundo Kameron Hurley, que venceu dois prêmios em 2015, a edição do ano passado foi dominada por “autores de cor e mulheres”.

Dois dos principais impulsores da polêmica foram os autores Larry Correia e Vox Day, tachados de direitistas por veículos como o jornal “The Guardian” (Vox Day já chegou a escrever que os direitos das mulheres são uma “doença que deve ser erradicada”). Os manifestantes se organizaram para votar em bloco e indicar mais autores brancos e homens entre os candidatos.

No diário “The Atlantic”, em abril deste ano, Hurley já advertia sobre os esforços do escritor para manipular o prêmio de 2015: “Nos últimos três anos, Correia têm liderado uma campanha antiprogressista pequena, mas ruidosa, chamada “Sad puppies” com a intenção de brincar com os Hugo”.