A própria empresa
PublishNews, Emma Barnes, 22/07/2015
Em sua coluna, Emma Barnes fala da dor e da delícia de ter a sua própria empresa

Um emprego contratado é como a maioria das pessoas paga as contas. No entanto, há uns 12 anos comecei um caminho diferente. Sou a CEO fundadora de duas empresas: uma editora e uma empresa de software. Foi uma década -- com muitos momentos infernais --, e eu aprendi muito ao longo do caminho. Nunca quis me afastar conscientemente do conforto de receber um salário constante no final do mês (embora estejamos sempre a apenas um mês de um aviso prévio que pode trazer insegurança): as pessoas precisam realmente querer trabalhar por conta própria. Mas se você já sonhou em ser o mestre de sua própria sorte, e está considerando abrir uma nova empresa no sector editorial, continue a leitura.

Cometa erros com o tempo e o dinheiro de outras pessoas
A melhor coisa de trabalhar para outras pessoas é que você pode usar os recursos dele para aprender, testar e explorar suas ideias. Os primeiros sete anos da minha carreira (em um grupo de varejo global e, depois, como consultora de gestão) foi um treinamento em como organizações, clientes e cadeias de fornecimento funcionam. E mesmo que seu novo empreendimento tenha menos pessoas do que a maioria das empresas (pelo menos no começo), é possível aplicar as mesmas lições sobre a natureza humana, política e influência. Em uma empresa estabelecida, você aprende quais produtos e processos funcionam, e quais não. Refletindo sobre as razões que podem ajudá-lo com seu próprio planejamento de negócios. Na maioria das vezes, é claro, a lição será em como “não” fazer as coisas, mas isso também é muito útil.

Conheça seu domínio, resolva problemas reais

Quando comecei a Snowbooks, não sabia nada sobre edição. Só percebi que fazer livros seria muito mais agradável do que fazer slides do PowerPoint (trabalhei na Deloitte, e estava certa). A Snowbooks tornou-se conhecida por sua inovação, principalmente porque não sabíamos quais eram as normas da indústria. Coisas que consideramos como uma abordagem bastante sensível acabaram sendo interessantes e novas. Mas eu conhecia o processo de varejo e de negócios, então podia conversar com os compradores nas grandes redes de uma forma que eles apreciavam. Mais tarde, quando começamos nosso empreendimento de software General Products em 2011, foi porque sabíamos muito bem que tipo de software uma editora precisava, por já estarmos no mercado há mais de uma década, precisando desesperadamente de um sistema decente, acessível, que acabamos criando nós mesmos. Conhecer os meandros de sua indústria, independente de seu ângulo de especialidade, significa que é mais provável que você consiga o ajuste do mercado desde o início, sem todo esse “pivoting” que os jovens falam hoje em dia.

Questione seus valores e faça algo que corresponda

Você pode muito bem continuar a trabalhar para outros, se for criar uma empresa que não o deixa feliz e orgulhoso. Eu refleti sobre o que me deixava muito feliz: tinha a ver com arte e ter uma vida com o mínimo de argumentos. Então defini as coisas dessa forma.

Fique com o que você é bom.

É verdade que passei os últimos cinco anos aprendendo uma nova habilidade: como codificar. Mas isso ainda é totalmente compatível com o tipo de pessoa que sou: aprender coisas novas e praticar até chegar à perfeição está entre meus pontos fortes inatos. Em gestão de pessoas e fazendo coisas não relacionadas ao produto, administrar coisas que não geram receitas, por outro lado, é algo que não funciona para mim – é por isso que nossa equipe é pequena e eu escolhi formas alternativas para que o negócio crescesse, tal como automatização de processos. Por muito tempo, meus empregadores anteriores tentaram me transformar em alguém que não sou. A vida é muito mais agradável quando você pode usar seus talentos naturais.

Não seja o produto de outra pessoa

Sou a culpada quando persigo coisas que me fazem sentir melhor comigo mesma, mas que não contribuem necessariamente para a saúde da empresa. Ter um patrão significa que você ganha um tapinha na cabeça quando faz algo bom, mas quando você é seu próprio patrão, esta validação está ausente. Procuro preencher essa lacuna de vez em quando, entrando em competições de negócios. É uma sensação agradável colocar um vestido e receber uma salva de palmas. Mas estas coisas raramente significam alguma recompensa financeira. Em uma pequena empresa, cada hora acordada deve ser gasta ou em desenvolvimento de produtos ou em atividades geradoras de receitas. Participar de prêmios, ir a conferências periféricas: é uma maneira de alguém ganhar dinheiro com você. Arthur Attwell, fundador da empresa Paperight, escreveu muito bem sobre isso em Medium recentemente.

Seja organizado para que possa se concentrar na parte criativa

Há muitas coisas que você precisa fazer por primeira e única vez quando está criando uma empresa. Tem que se registrar em todo tipo de organização: HMRC, Nielsen, o povo da Proteção de Dados, Companies House. E depois, quando você está pronto, não terminam as coisas que precisa fazer apenas para manter o show na estrada. Cálculos de direitos autorais, gestão de contratos, faturas de fornecedores, contabilidade, negociações com gráficas, gerenciamento de metadados, relatórios de vendas: tudo isso e muito mais pode preencher os seus dias totalmente de modo que você não terá tempo para o verdadeiro desafio criativo. Embora possa parecer estranho que eu diga isso, considerando que eu vendo meu software de gerenciamento de editoras para viver, você não precisa necessariamente comprar nenhum software quando é pequeno. Só precisa ser supermetódico e organizado. (E usar Google Docs e outros softwares baseados na nuvem, porque ninguém faz backup de seus HDs como deveria.) Recentemente, o gerente de uma nova start-up me disse que gosta de “guardar todos os seus dados na cabeça”. Por que encher sua cabeça com ISBNs, datas de publicação, preços de varejo em várias moedas com os respectivos impostos e taxas de direito autoral quando poderia guardar coisas mais interessantes, criativas e “livrescas” no lugar?

Esteja bem capitalizado e corte ao máximo seus custos

É muito, muito difícil ganhar dinheiro. Pense em como você renunciaria de bom grado a um salário de £600 – como o produto teria de ser incrível, quanto tempo ou esforço iria economizar, quanto a sua vida melhoraria. Então pense quanto, depois de impostos e despesas, dessas 600 libras vão para suas contas mensais: é uma gota no oceano. Quantos livros você precisa vender apenas para cobrir seus custos mensais?

Vá para o armazém e olhe para uma pilha de 250 cópias de um romance. É uma pilha bastante grande. Pense como seria difícil vender todos eles, e então calcule quanto dinheiro você ganharia se conseguisse, de alguma forma, vender todos. Essa é a lacuna que tenho que preencher todos os dias e, honestamente, é algo que toma muita energia. Você precisa realmente odiar a ideia de ser empregado, e realmente amar a construção de seu próprio mundo, algo que, felizmente, eu sinto.

Quando você está planejando seu novo empreendimento, divida suas vendas estimadas por três e multiplique seus custos estimados por quatro. Se o seu novo empreendimento ainda fizer sentido, você está no caminho certo. Se não, pense criativamente. Você pode diminuir por completo os custos de impressão e só publicar o digital? Pode usar a Impressão por demanda (POD) de forma eficaz? Pode inverter a curva de fluxo de caixa usual e usar o crowdfund? Consegue ficar assalariado por 12 meses até ter um fluxo de receita?

“Coma seu próprio alimento para cães”
Este ditado bastante estranho vem de uma anedota sobre uma fábrica de comida para cães premium, que empregava seres humanos para testar seu produto. Se era bom o suficiente para os cães que queremos alimentar, eles pensavam, deveria ser bom o suficiente para nós. Uso o meu próprio software Bibliocloud todos os dias para administrar Snowbooks. Quando coloco meu chapéu codificador, escrevo um novo recurso – rastrear cópias de revisão, por exemplo – e fico muito satisfeita comigo mesmo. No dia seguinte, com o meu chapéu de editora, vou começar a usar a nova funcionalidade. Quem codificou essa porcaria, vou resmungar, é difícil de usar e não leva em conta o fato de que eu preciso rastrear 50 cópias de uma só vez, e não apenas um livro de cada vez. Então, vou reescrever o código. Enxague e repita, várias vezes. Acrescente mais quatro anos e você acaba com um software que é muito legal, e utilizável, e relevante. O mesmo com os livros: tenho uma cópia de um livro que publicamos em 2007 na minha mochila. Estou curtindo a capa e o papel que escolhemos e estou amando redescobrir a história. Se você espera que outras pessoas desfrutem seus produtos, deve apreciá-los você mesmo.

É preciso um longo tempo para ser um sucesso da noite para o dia

As lentes através das quais vemos o sucesso tendem a ignorar escalas de tempo. Você vai ler um perfil em The Bookseller de uma empresa indo bem depois de ganhar um prêmio ou algo assim, mas é difícil entender os anos de esforço que levaram àquele momento. Dirigir seu próprio show é um trabalho duro. Você só vai saber se tem a energia para trabalhar durante anos no fio da navalha do controle de custos se tentar. Mas a pior situação? Terá que conseguir um trabalho semelhante ao que tem agora.

Falei que não seria capaz de persuadir alguém a começar algo por conta própria. Mas a vida é curta. Do que você quer sentir orgulho ao olhar para trás? Qual será o seu legado?

[22/07/2015 00:27:41]