O home office vale para assessoria de imprensa?
PublishNews, Ivani Cardoso, 14/07/2015
Segundo Ivani Cardoso, algumas editoras mandam embora seus assessores e jogam a divulgação para cima dos editores que não têm tempo e nem entendem do assunto

Tenho conversado sobre o tema com alguns assessores amigos e muitos têm manifestado a vontade de trabalhar em casa, mas os empregadores não demonstram o mesmo interesse. Em muitas empresas o home office tem sido adotado com sucesso, mas é preciso analisar todos os lados.

Desde que eu saí de uma assessoria, há alguns anos, venho trabalhando em casa e, confesso, com muito prazer. Vinha batendo forte a vontade de ser mais dona do meu tempo, de poder fazer escolhas e também ficar mais distante desse trânsito enlouquecido de São Paulo. Enfim, ter a tão sonhada qualidade de vida e liberdade.

Mas nem tudo é simples assim. No caso de um assessor que mantém o vínculo com uma empresa, você de cara terá que pensar em algumas despesas, que dificilmente serão custeadas por um empregador quando esse trato é realizado. Um bom computador e impressora vêm em primeiro lugar. Comprar e manter mailings atualizados requer tempo e dinheiro. Mais tempo do que dinheiro, porque os mailings são muito impessoais e erráticos e só no dia a dia, e sempre e tanto, é que você vai conseguindo afinar os seus. A conta do telefone aumenta, principalmente quando tem follow-up nacional, pois geralmente você nunca consegue acertar na primeira ligação.

Outra despesa obrigatória que você vai ter é comprar jornais e revistas para ficar atualizado. Isso é fundamental. Tá, tudo bem que tem a versão digital, mas nem sempre está tudo lá. E jornalista não pode perder o hábito.

Sem a força tarefa de uma assessoria, outras funções vão sobrar para você fazer tudo sozinho. Isso inclui coisinhas chatas como preparar etiquetas, gravar CDs ou pen-drives, envelopar livros e ir ao correio. Mas aí você aproveita e para na livraria mais próxima para ver gente, tomar um café e eventualmente puxar conversa com alguém, porque trabalhar em casa também traz de vez em quando a sensação de solidão. Isso não vale para quem tem crianças em casa, mas nesse caso é preciso mais atenção ao foco.

Como sempre trabalhei em locais com gente do lado senti, e ainda sinto, muita falta dos colegas, das brincadeiras, da troca de ideias. Você tem que resolver e decidir tudo sozinho. Outra dica é nunca, e nunca mesmo, marcar reunião de trabalho em sua casa. Hoje há vários cafés, livrarias e lugares com wi-fi que garantem privacidade e descontração para uma boa conversa.

Prepare-se também para outra dificuldade: onde está o técnico da informática ou aquele companheiro que sabe tudo e você não pode mais chamar do lado? Se você não é proficiente no uso de computadores vai sofrer. Lidar com planilhas, anexos, digitalizar documentos e fotos e muitas outras dificuldades que vão fazer você se descabelar, pelo menos no princípio. Uma boa dica é garantir um backup para ficar menos vulnerável.

Além do investimento, trabalhar em casa também exige planejamento. Se você tem mais de um cliente é essencial saber dividir bem o tempo para continuar um bom atendimento. Dividir as tarefas do dia por período e tentar seguir à risca.

Pesquisa recente da Regus, empresa que atua no ramo de soluções flexíveis de espaços de trabalho, entrevistou 44 mil executivos sêniores, em mais de 100 países (e nas principais capitais brasileiras) e revelou que 61% dos trabalhadores tem escritório em casa, mas apenas 51% deles o consideram um ambiente profissional. Esse fator também deve ser levado em conta, arranje um espaço em casa com cara de escritório. Vai facilitar, eu garanto.

Poucas agências de comunicação estão liberando seus funcionários para o home office. É preciso pensar em todas as variáveis. Eu acho que o ideal seria que as agências experimentassem dois dias por semana para sentir os resultados, talvez em rodízio. Acredito que os custos seriam reduzidos e a produtividade e o bom humor estariam em alta. Claro que é uma questão de confiança. E, para o assessor, vem também a responsabilidade e a reflexão de que seu tempo de trabalho pode até aumentar. Manter uma presença física no escritório é fundamental, ainda que o empregador dê flexibilidade total. Ver e ser visto faz parte da comunicação.

Há algumas editoras que terceirizaram o trabalho há anos e estão muito satisfeitas com os resultados. O vínculo é mantido, o contato com os jornalistas também e todos estão sendo felizes para sempre.

O que não pode mesmo acontecer é o que estamos vendo por aí. Algumas editoras, somente para economizar, mandam embora seus assessores e jogam a divulgação para cima dos editores que não têm tempo e nem entendem do assunto. Resultado: todos perdem. E o livro e a leitura também

[15/07/2015 00:00:00]