Um festival que quer levar a História a toda a gente

No fHist, que começa esta quarta-feira em Braga, vai poder assistir-se a debates sobre temas tão diversos como o racismo ou a roupa, mas também ouvir-se Maria Bethânia ao vivo ou ver-se o filme Vidas Secas

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Maria Bethânia Pedro Cunha

Abre esta quarta-feira em Braga, com uma conferência inaugural no Theatro Circo, a terceira edição do fHist, um festival de História que reúne investigadores portugueses e brasileiros e que procura levar a disciplina a um público mais amplo, apostando num programa cultural forte, que inclui concertos – a cantora brasileira Maria Bethânia apresenta na quinta-feira o seu espectáculo Leituras Poéticas –, lançamentos de livros, sessões de cinema, oficinas e outras actividades.

Criado em 2011 em Diamantina, uma cidade do estado brasileiro de Minas Gerais cujo centro histórico é património mundial da UNESCO, o fHist tem este ano uma primeira etapa em Braga, de 20 a 23 de Maio, e prossegue depois no Brasil entre os dias 8 e 11 de Setembro. “Quiseram internacionalizar o festival”, explica uma das responsáveis científicas do programa desta 3.ª edição, Helena Sousa, presidente do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho (UM), lembrando a importância do norte de Portugal na emigração portuguesa para o Brasil, que torna natural esta parceria da Câmara de Braga com a prefeitura de Diamantina, outrora um importante enclave diamantífero.

Apoiado pelo Ministério da Cultura brasileiro, o festival, diz esta investigadora, “tem como objectivo aproximar a História das pessoas, fazer com que se sintam mais identificadas com os seus lugares de pertença, e também incentivar o ensino e a investigação”. E se os espectáculos de música e poesia poderão atrair um público que não costuma frequentar colóquios académicos mais convencionais, Helena de Sousa sublinha também a qualidade do programa científico deste 3.º fHist, que terá 12 mesas de trabalho, num total de 45 conferencistas. “Muitos são historiadores, mas também temos investigadores dos estudos culturais, da semiótica, das artes”, diz a investigadora, ela própria da área das Ciências da Comunicação.

Com o tema Diálogos Oceânicos: Raízes, Identidades, Diversidades e Diásporas dos Povos de Língua Portuguesa, esta primeira etapa do fHist levará a Braga investigadores como o britânico Kenneth Maxwell, um dos mais prestigiados brasilianistas da actualidade, especialista na história das relações entre Portugal e o Brasil no século XVIII, o historiador brasileiro Boris Fausto, autor de obras de referência no domínio da história política brasileira, a antropóloga e historiadora Lília Schwarz ou os historiadores portugueses Nuno Gonçalo Monteiro e Diogo Ramada Curto.

Descontada a conferência magna que abrirá os trabalhos esta quarta-feira, e que terá como intervenientes Mário Soares, Fernando Haddad, prefeito de S. Paulo, e José Carlos Gaspar Venâncio, professor do departamento de Sociologia da Universidade da Beira Interior, todas as sessões científicas e oficinas temáticas do festival decorrerão no Gnration, um novo espaço municipal criado na sequência da Capital da Juventude.

Mas o programa paralelo estende-se por vários outros locais, como a Reitoria da UM, que no decurso do fHist acolherá todos os dias lançamentos de livros. Uma das obras que será apresentada no fHist é o recente Cadernos de Poesias, de Maria Bethânia, mas a cantora partirá logo após o seu concerto de quinta-feira e já não assistirá à sessão. No programa de cinema, logo a primeira sessão traz um filme a não perder: Vidas Secas (1963), de Nelson Pereira dos Santos, baseado no romance homónimo de Graciliano Ramos.

Os trabalhos do festival iniciam-se com a mesa Da Escravidão ao Racismo, tema que será debatido por Lilia Schwartz, Diogo Ramada Curto, a historiadora Maria Augusta Lima Cruz, da UM, e Macaé Evaristo, secretária da Educação de Minas Gerais. Um tema forte e incómodo para abrir um festival que também inova na diversidade das questões que propõe. Basta pensar que o tema da última mesa, no sábado, é Quantas Histórias Cabem Na Minha Roupa, uma pergunta a que responderão Glória Kalil, uma cientista social que se dedica a projetos e negócios ligados às áreas de moda e comportamento, Anabela Becho, mestre em pintura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, e Silvana Mota-Ribeiro, professora do departamento de Ciências da Comunicação do Instituto de Ciências Sociais da UM.

 

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