Paulo Coelho volta a 'furar' homenagem à literatura brasileira
"Voilà", o "Mago" desapareceu mais uma vez.
O Salão do Livro de Paris, que neste ano homenageou o Brasil, terminou na segunda (23) com o segundo "bolo" do escritor Paulo Coelho num compromisso previamente assumido de representar as letras do país –o primeiro foi em 2013, na Feira de Frankfurt.
Ele era um dos 43 escalados para integrar a comitiva nacional na feira literária francesa, que registrou queda de público de 10% nesta edição em relação a 2014.
Xavier Gonzalez | ||
O escritor Paulo Coelho |
Mas, na manhã de segunda, avisou por e-mail à curadora Guiomar de Grammont e a executivos da CBL (Câmara Brasileira do Livro) que não viria, porque o voo que o traria da Espanha –onde ele realizou no fim de semana uma festa para amigos famosos em torno do dia de São José– só chegaria no fim da tarde à capital francesa (o salão fechou suas portas às 19h, ou 15h no horário brasileiro).
Segundo Grammont, Coelho prometeu comparecer ao Salão do Livro no ano que vem (quando o Brasil não será homenageado).
"O cancelamento da vinda dele não tem a menor importância", disse o escritor Affonso Romano de Sant'Anna, que estava no elenco brasileiro. "Não há perda nenhuma para o salão", completou Ronaldo Correia de Brito. "A presença do Brasil neste ano não é a de uma estrela brasileira, mas dos escritores como um conjunto."
A autora Ana Paula Maia contemporizou. "É lamentável para o público dele, para quem o esperava. Mas tem tanta gente boa aqui que não sei se fica uma lacuna." Edney Silvestre fez coro: "É uma pena enorme. Teria sido ótimo para nós, ele iria provocar mais furor do que [o best-seller inglês] Ken Follett [muito assediado em sua passagem pela feira no domingo]".
Em 2013, às vésperas da abertura da Feira de Frankfurt, o maior encontro mundial do mercado editorial, Coelho anunciou seu desligamento do grupo de 70 escritores brasileiros selecionados para participar do tributo ao país. Ele alegava discordar dos critérios de composição da comitiva, à qual, para ele, faltariam figuras como Thalita Rebouças e Eduardo Spohr, campeões de vendas ligados aos filões da fantasia e da literatura teen.
Na época um dos curadores da representação nacional, o colunista da Folha Manuel da Costa Pinto disse que a agente do escritor negociava com a organização alemã desde 2012 para que o seu cliente fizesse o discurso de abertura da edição que saudaria o Brasil.
Ao fim, foi a Luiz Ruffato que coube o papel de orador –e sua fala de forte teor político, com menções ao histórico brasileiro de racismo e desigualdade social, conquistou fatias parecidas de entusiastas e detratores.
Essa carga política não esteve tão presente na passagem brasileira por Paris, com discussões centradas majoritariamente em temas literários e menções apenas pontuais a temas como criminalidade, preconceito e miséria.
A reportagem tentou falar com Paulo Coelho, mas não conseguiu localizá-lo.
ALTOS E BAIXOS DO SALÃO
FUNCIONOU
Mediadores - Nas mesas com participação de autores brasileiros, os entrevistadores quase sempre conheciam a fundo a obra e a carreira dos sabatinados.
Repercussão - Nos dias que precederam o salão, a imprensa deu amplo espaço à literatura brasileira. O jornal "Le Monde" dedicou ao país quatro páginas (com 11 entrevistas/resenhas) de seu suplemento de livros.
Bom público - Os auditórios ficaram lotados nas palestras de Fernanda Torres, João Anzanello Carrascoza e Cristovão Tezza, no pavilhão do Brasil, e na mesa "Amazônia, Pulmão do Mundo", no espaço do Centro Nacional do Livro da França.
NÃO FUNCIONOU
Concorrência - As mesas com autores brasileiros se canibalizaram ao longo do salão. Chegou a haver cinco debates simultâneos.
Formato - Algumas mesas reuniam até quatro escritores. Uma vez incluído o tempo necessário para a tradução consecutiva (não houve versão simultânea em fones para o público), pouco sobrava para a discussão de fato –alguns debates foram pouco além da simples apresentação dos autores.
Repetição - Nas diferentes cenas ocupadas pela delegação brasileira durante o evento, certos enunciados de mesas, como "literatura e futebol" e "violência/medo no espaço urbano", eram recorrentes.
Livraria da Folha
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