Em entrevista concedida com exclusividade ao PublishNews no fim da tarde de ontem, Alex Szapiro, country manager da Amazon no Brasil, repetiu a palavra obsessão quatro vezes. Isso demonstra a forma com que a varejista começa a operar com livros físicos no Brasil. No papo de ontem, encontramos um Alex relaxado, bem humorado e falante. Ele falou um pouco sobre a relação da Amazon com as editoras, sobre como foi montar o gigantesco catálogo de mais de 150 mil títulos em português e, finalmente, respondeu a uma pergunta que o PublishNews fez em 2012, quando a Amazon começou as vendas de livros digitais por aqui. Leia abaixo a íntegra do papo com o executivo.
PublishNews – Finalmente, a Amazon começa a vender os livros físicos no Brasil...
Alex Szapiro – Pois é... A gente está extremamente feliz de estar lançando a loja de livros físicos. Tem alguns pontos que a gente tem que trazer à tona. Estamos lançando a loja com o maior catálogo de livros em português do Brasil. Tem mais de 150 mil títulos. Acho que vocês acompanharam a Amazon e sabe da nossa obsessão em ter certeza de que a gente vai ter um catálogo muito bom, não só com best-sellers, mas também de títulos de cauda longa e de backlist. A gente é bem obsessivo nesse aspecto. O segundo ponto é a logística. Em alguns CEPs da cidade de São Paulo, para pedidos feitos até as 11h da manhã, a gente entrega no dia seguinte.
PN – E há prazos máximos para entrega?
AS - Não sei te dizer. Pode ser mais de dois dias mesmo dentro da cidade de São Paulo. Depende da área, da rota, etc... Mas mais importante que o prazo,a gente tem certeza que aquilo que a gente promete é o que a gente pode cumprir. Isso não acontece só agora, com o início da loja de livros. Mas isso já acontecia desde fevereiro, quando começamos a vender o Kindle. A gente é muito conservador nessa questão. Ou seja, o prazo pode ser de sete a nove dias, mas eu prefiro falar que é nove. A segunda coisa, a gente está lançando uma promoção: para compras acima de R$ 69, o frete é grátis para todo o Brasil. Se você está comprando dois ou três livros, não importa em que parte do Brasil você esteja, o frete sairá gratuito nas compras acima de R$ 69.
PN - É uma promoção ou é uma política?
AS - É uma promoção. A gente pode mudar isso a qualquer momento. Não tem uma data. Nesse momento, não sei quanto tempo vai durar
PN - Há planos para praticar frete grátis no Brasil?
AS - A gente não fala de nenhum plano futuro. O plano para agora é frete grátis para compras acima de R$ 69. Uma outra vantagem é a tecnologia de descoberta e de recomendação de livros que a Amazon tem. Nesse aspecto, a gente não começa do zero. A gente começa com quase dois anos de experiência no Brasil, onde já temos toda uma história com os consumidores digitais. Além disso, a gente não usa só dados do Brasil, mas de todo o mundo. Dados de correlação de compra, de produto, de título, de gênero, etc e tudo isso está aplicado na loja de livros físicos. Isso é uma coisa muito, muito importante.
PN - A legislação brasileira garante a devolução de produtos em um prazo bem menor do que o oferecido pela Amazon, de 30 dias.
AS – O que o Procon fala que você pode devolver um item em até sete dias, a Amazon te dá 30 dias. Mostra como a gente pensa. Se alguém ligar para mim daqui a vinte dias e falar que comprou um livro e quer devolver, nós vamos aceitar.
PN - E você não acha que as pessoas vão abusar dessa facilidade?
AS - Evidentemente a gente tem tecnologia para saber se um cliente faz isso uma, duas, três ou quatro vezes. A gente trabalha em prol do consumidor. Se isso acontecer, não é por causa de um ou outro caso que a gente vai prejudicar todas as outras pessoas honestas. É assim como a Amazon trabalha.
PN - Qual o efeito a Amazon espera em suas vendas digitais com o início das vendas físicas? Consumidores de livros físicos serão convertidos ao digital?
AS – Isso é uma coisa muito importante que está no DNA da Amazon e que não tenho visto por aí. A experiência digital e física ao mesmo tempo. No mundo todo, a nossa visão é dar a escolha ao cliente. Para nós, a escolha entre o físico e o digital é uma escolha exclusivamente do cliente. A gente sabe que o digital traz uma série de vantagens. A gente sabe também que a pessoa que lê no digital acaba lendo mais. A história nos diz que quando um cliente não Kindle e passa a ser um cliente Kindle, ele não para de comprar livros físicos, mas ele passa a comprar, em média 3,9 vezes mais livros. Então é uma coisa muito salutar. E, claro, o livro digital tem uma série de outros benefícios: não tem estoque, não tem impressão, não tem frete. Por exemplo, você acaba de vender um livro físico e as vendas foram muito maiores do que você esperava. Até você fazer a reimpressão e etc, pode perder muitas vendas... Mas se você tem o livro digital, você não perde. Um exemplo disso é o livro Assassinato de reputação, de Romeu Tuma Jr. Ele lançou o livro no final do ano passado e teve uma cobertura da mídia. O livro esgotou em horas. A editora [TopBooks] então colocou o livro a venda via KDP, via autopublicação, e o livro não parava de vender. Na Amazon, não importa se se o cliente veio pelo livro ou pelo livro digital, a experiência é a mesma. Baseado nisso, a Amazon está lançando uma coisa interessante. Estamos lançando uma funcionalidade chamada "Leia Enquanto Enviamos". Quando você fechar o pedido, o sistema vai te perguntar se você quer começar a ler o digital enquanto a gente te manda o físico. O usuário pode começar, automática e imediatamente, a ler o livro pelo Cloud Reader enquanto espera o envio. Essa é a mentalidade que a gente está trazendo para a abertura da loja. Vale ressaltar que a funcionalidade não está disponível para todo o catálogo. Dos mais de 150 mil títulos, temos mais ou menos 13 mil nessa disponibilidade.
PN - E há planos para expandir esse número de 13 mil títulos dentro dessa funcionalidade?
AS - Sem dúvidas. E essa expansão se dá dentro do crescimento do catálogo digital. Quando a gente abriu a loja há 20 meses, a gente abriu a loja digital com 13 mil títulos. Hoje temos mais de 35 mil. Então, se você analisar, em 20 meses, o catálogo quase que triplicou. A nossa obsessão é estar sempre melhorando o catálogo. Pode ter certeza de que esse catálogo está crescendo.
PN - E por falar em catálogo, foi muito difícil levantar esses 150 mil títulos? Foi mais trabalhoso do que o esperado?
AS - O que você chama de muito difícil? Eu recebi muitas perguntas como essa quando a gente lançou a loja de livros digitais e eu não tenho nenhum problema em respondê-las. Toda as vezes que você vai começar uma relação comercial, você precisa chegar a um ponto que seja bom para as duas partes, um Delta T. Em especial para a Amazon que não estava no País. E isso aconteceu há vinte meses. Como os publishers veem a relação com a Amazon, o que eles acham da forma como tratamos os livros digitais, eles é que precisam responder. Eu não posso julgar. Quem tem que julgar é o nosso consumidor e talvez alguns dos nossos fornecedores. Sempre faço um paralelo: se você vai comprar uma casa amanhã, eu imagino que você vá fazer uma negociação até fechar preço, contrato etc... Você não vai chegar e falar: vou comprar essa casa e pronto. Você fala que quer assim ou quer assado. Então, isso aconteceu muito há dois anos. Foram negociações que fazem parte do negócio. Nós trabalhamos para o bem comum que atender ao consumidor que quer comprar um livro. Seria estranho se uma editora falasse que não quer vender. É claro que ela tem a opção de falar “olha, eu não quero vender para esse fornecedor”. E para você ter ideia, estamos lançando e o total do nosso catálogo representa mais de 2.100 editoras.
PN - Por que o Matchbook, programa da Amazon que permite que leitores que adquirem o livro físico comprem o digital com um preço que é uma fração do valor, não está sendo oferecido aqui? Há planos para oferecê-lo?
AS - A gente não comenta planos futuros. Você poderia me perguntar também se vamos oferecer o Kindle Unlimited. A gente não fala disso.
PN -Então perguntando algo do passado. Quando, há vinte meses, a Amazon chegou vendendo os e-books e lançando o Kindle no Brasil, o PublishNews perguntou para você o que era ser livreiro no Brasil. Na época, você disse que não dava para responder ainda a essa pergunta. Passados esses vinte meses, você tem uma resposta para essa pergunta?
AS - A gente é mais do que livreiro (risos). O que eu posso te responder é que a Amazon tem essa obsessão e a gente trabalha muito nisso. A gente tem a premissa de começar sempre pelo cliente e, a partir dele, a gente vai para trás. Tudo o que a gente faz, a gente olha o que o cliente quer e como a gente pode atendê-lo. A forma como a gente bola nossos serviços e nossos produtos está baseada muito no que o cliente quer. Para mim, ser livreiro é ter certeza de que tem um catálogo completo e catálogo é uma coisa viva, precisa estar sempre crescendo. Outro ponto é ter certeza de que a gente tem uma facilidade de busca. A maneira como coloco o gênero, a maneira como faço o merchandising é realmente a melhor maneira? Não tem coisa mais chata do que você estar procurando um livro, entra na loja e não o encontra. Não vou dizer que isso não acontece na Amazon. Acontece com a gente também, mas a gente tem que trabalhar para isso não acontecer. Outra coisa é: está tudo funcionando? A experiência é uma experiência fácil? Ou seja, eu não tenho que colocar cinquenta passos para que a pessoa compre o que quer. A quarta coisa é a “descobertabilidade”, a facilidade de descoberta. A pergunta é: a gente está fazendo o papel do bom livreiro que é ter um bom catálogo, ajudar você a descobrir produtos, de ter boas ofertas e ter certeza de que a minha tecnologia funciona? Se a resposta for sim, isso é ser um bom livreiro. Para mim esse é o DNA do livreiro.