Lançamento é tudo de bom. Ou deveria ser
PublishNews, 06/08/2013
Lançamento é tudo de bom. Ou deveria ser

O dia do lançamento com autógrafos, vinho branco (embora eu ache que sempre deveria ter a opção do tinto também), flores e um conjunto de ansiedades pairando por todos os lados pode não ser tão especial quanto o autor imagina. O difícil é ter a sensibilidade e jogo de cintura para falar a verdade e não devastar de uma vez as esperanças do autor e da editora com uma grande noite. Ou tarde ou manhã, conforme o lançamento.

Lançamentos acontecem por todos os lados. Só para dar uma ideia, a Livraria Cultura, em suas 15 lojas, em 2012, registrou 1.025 lançamentos e nos primeiros meses de 2013 o número já estava quase nos 400. As três livrarias da Martins Fontes (Avenida Paulista, Rua Dr. Vila Nova e Rua Mário Ferraz, na Casa do Saber) contemplam 42 eventos por mês. Já a Livraria da Vila nas seis lojas (em São Paulo e uma em Campinas, no Shopping Galleria) bate na marca de cerca de 100 lançamentos mensais.

Com tantos livros, autores e autógrafos, conseguir público e vender bem não é nada fácil. A primeira regra que deve ser cristalina para evitar qualquer tipo de dúvida é: quem faz o lançamento é o autor. Já vi ótimos autores em lançamentos vazios e autores desconhecidos envolvidos pelo carinho de muitos convidados animados, fila para autógrafos e muitos títulos vendidos.

O papel do assessor é ajudar a pensar o evento de lançamento para que ele seja um sucesso. O assessor pode colaborar com sugestões para o formato, para o local, conforme o gênero e o perfil de público, pode propor palestra, debate, exibição de filmes, performances ou outros tipos de atividades que enriqueçam o lançamento. O que não pode deixar de dizer é a verdade.

Há autores que nem precisam de muita divulgação, eles já são a garantia de público e só a presença e o autógrafo garantem movimento e vendas. Outros não tão conhecidos também podem ter um lançamento muito bom, mas para isso a palavra mágica é envolvimento. O autor precisa comunicar o lançamento com antecedência, pedindo para as pessoas reservarem a data por e-mail ou redes sociais, mandar o convite impresso e/ou digital. E, mais importante, ligar para tios, sobrinhos, primos distantes, amigos do amigo do amigo e deixar claro que a presença da pessoa é essencial. Todo mundo gosta de atenção. Um telefonema carinhoso faz milagres. E vende livros.

Geralmente as editoras preferem que os lançamentos sejam realizados em livrarias, mas cada caso é um caso. Recentemente um autor que é sócio e frequentador assíduo de um clube de São Paulo marcou lá a noite de autógrafos e foi um agito só, quase 300 livros vendidos. Para autores mais boêmios e com público fiel nessa faixa, nada melhor do que um lançamento em um bom boteco/bar. Sempre dá certo. Se o autor for um músico, mesmo que não seja ligada à obra, nada impede de organizar uma apresentação rápida antes.

O assessor vai trabalhar o lançamento enviando convites para os jornalistas, produzindo notinhas para agenda das colunas sociais e deve tentar entrevistas em rádios ou emissoras de TV para aproveitar o gancho da atualidade. Se o autor for bem conhecido ou se entre os convidados confirmados estiverem alguns famosos é hora de fazer um aviso de pauta com esses nomes para a mídia social, incluindo programas de TV, revistas, jornais e sites. Mas cuidado para não anunciar quem não confirmou porque os jornalistas não gostam de furos.

O papel do assessor é fazer o possível para dar segurança ao autor. Ajuda acompanhá-lo para ver o espaço onde ficará para dar autógrafos, combinar o que será servido e onde poderão ser instalados banners do livro. Se for preciso, pode até ajudá-lo a pensar em algumas frases para os autógrafos.

No caso de famosos é bom ficar preparado para a chegada de equipes de programas de humor de surpresa ao evento. Não adianta fingir que eles não estão ali. O melhor é conversar com calma, atender na medida do possível e com seriedade. Quando eles são desrespeitados o resultado pode ser muito pior. Certa vez, no Conjunto Nacional, a equipe do Pânico chegou para cobrir o lançamento de uma atriz veterana muito querida, mas que não estava muito bem de saúde e ficou nervosa quando viu os jornalistas. O assessor foi até eles, colocou a situação e eles foram ótimos.

Em São Paulo, mais do que no Rio de Janeiro, há um fator engraçado nos lançamentos e que já foi até tema da revista Veja SP: os bicões. Eles são muitos, são amigos entre eles, trocam informações sobre eventos que tem “boca livre” e aproveitam todas as taças e salgadinhos. Fazem pose de interessados, conversam com intimidade com os autores (mas nunca compram os livros, claro), falam muito ao celular para disfarçar quando sentem que estão sendo observados e se alguém pergunta por quem foram convidados mostram total indignação. No final, quando eles aparecem é até um bom presságio de que o lançamento será um êxito.

Conforme o tema do livro e a profissão do autor às vezes vale a pena criar um evento em lugares como universidades, associações, sindicatos e outros espaços. Dá para “viajar” bastante e pensar em opções. No caso de obras infantis, é muito comum incluir contação de histórias ou apresentações.

O que não pode mesmo ocorrer é deixar o autor muito solto quando o lançamento está no auge e a fila não para de crescer. Feliz da vida em reencontrar amigos e familiares, o autor às vezes esquece da vida. O assessor discretamente pode dar um toque e mostrar que há muita gente de pé há tempos, impaciente e também querendo atenção.

Agora, se o autor é desconhecido, não tem muitos amigos e muito menos vontade ou tempo para se envolver, o melhor é esquecer o lançamento para não pagar mico em evento vazio. O melhor do lançamento não é esperar por ele, como nas festas, é pensar em todos os detalhes para garantir um dia feliz. E lembrar que o lançamento pode ser um marco para a divulgação, mas não encerra o trabalho, pelo contrário.

[05/08/2013 21:00:00]