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Esse negócio de livro é para empreendedores digitais
PublishNews, 23/05/2013
As startups editoriais e os dentes de leão

O negócio do livro era simples e caro. Para ganhar dinheiro com livro (ou, no mais das vezes, para perder dinheiro com livro) era preciso antes ter dinheiro — para imprimir, estocar e distribuir ideias na forma de papel. À parte o talento e a obstinação (que nunca terão substitutos eletrônicos), o negócio editorial era um negócio manufatureiro básico, de produzir e distribuir mercadorias.

Entra o digital. Ideias passam a valer muito mais que ativos fixos. Na área dos livros — onde a ideia é o principal insumo — o que era caro ficou barato. Mas o que era simples, ficou complexo. Publicar na era digital é um negócio a se inventar.

A “nova economia” disparou a corrida para achar o novo Zuckerberg e seus bilhões e, a despeito de um ocasional estouro de bolha, empresas, universidades e instituições e governos se esmeraram em criar as condições. Incubadoras, aceleradoras como a 21212, instituições como o Sebrae, programas federais como o Startup Brasil e ainda esforços coletivos, como o que transformou o decadente bairro portuário do Recife em pólo de inovação e tecnologia atestam que nunca houve tão boas condições, e nunca foi tão sexy, ser empreendedor.

O palco está armado para uma startup digital editorial. Mas o que vem a ser isso? E onde isso fez ou faria sentido, em termos econômicos?

O primeiro impulso para lançar um negócio editorial digital é emular o negócio físico. Usar as ferramentas do digital para cumprir as funções do escritório. Assim pipocaram dezenas de sites de autopublicação, oferecendo tornar a cadeia do livro em um processo automático e asséptico. Em um primeiro momento, o selfpublishing atendeu a uma demanda reprimida — dos candidatos a escritor que não conseguiam passar pela peneira editorial. Porém uma profusão de sites concorrentes, a eficiência sem eficácia (livros fáceis de publicar e difíceis de aparecer), o canto da sereia da Amazon, além da iminente descoberta, pelos autores, de que publicar não é só virar livro, são sinais de que a maré da autopublicação está perto de vazar.

Diferente do selfpublishing, há alguns startups editoriais digitais que não deram, e provavelmente não darão, dinheiro. São, em geral, as que tentam “expandir” o livro através de artefatos que parecem ser empregados só porque são agora disponíveis, criando novos problemas, no lugar de resolver os velhos. Como uma companhia de “sonorização” de ebooks, ou ainda uma que automatiza as referências no texto que você está lendo, fazendo brotar uma profusão de videos, verbetes, audios. (Não assista ao video se sofre de ansiedade ou TDAH.)

Algumas startups não quiseram “acrescentar” nada à cadeia do livro, nem tentaram apenas transpô-la para o digital. Apenas empregaram as ferramentas do digital para atender os problemas milenares da publicação. Enquanto escrevia essas linhas, recebi livros comprados em sebos da Paraíba e de Minas Gerais. Compulsei suas prateleiras por meio da EstanteVirtual, veterana (fundada em 2005) que revigorou o imemorial negócio dos sebos. Já o imemorial boca-a-boca foi digitalizado pela Skoob, aberta em 2009, e que ainda tem um jeitão mais de comunidade do que de negócio — o que garante seu sucesso onde outros, com planos de negócios mais robustos, não vingaram.

Se os leitores brasileiros estão bem amparados por iniciativas como a Estante Virtual e o Skoob, ou por novos canais de leitura como a Nuvem de Livros, as editoras brasileiras não têm a mesma sorte. Lá fora há uma corrida para reinventar cada elo da cadeia produtiva do livro. Há sistemas editoriais completos e colaborativos para dar saída em livro, impresso ou digital, como a Pressbook, e há outros que se oferecem como ambiente editorial para publicação de ebooks cinematográficos. Outros sistemas (independentes ou ligados a editoras) propõem “abrir” a edição, trazendo o leitor para o livro antes de ele ser publicado, como forma de apurá-lo e torná-lo mais certeiro no mercado. (As editoras estão atentas ao crowdsourcing, a opinião da massa, que vem revelando os megabestsellers antes deles serem publicados.) Também é confiando na multidão, e no imediatismo das redes sociais, que empreendimentos de crowdfunding publishing (“vaquinha para publicar” em tradução livre) vem prosperando, aqui e ali.

Temos um ambiente acolhedor para empreendedores digitais, temos um mercado que não está consolidado e onde não há empresas dominantes, temos um público consumidor numeroso e que disposto a mudar de hábitos. Então vá em frente. Como disse Neil Gaiman aos editores, “o modelo é um só: tente de tudo. Erre. Surpreenda-se. Tente outra coisa. Fracasse. Fracasse melhor. Tenha sucesso de modos que jamais teríamos imaginado há um ano, ou há uma semana. Este é o momento de sermos como dentes-de-leão, lançando milhares de sementes e perdendo 900 delas.”

Julio Silveira é editor, escritor e curador. Fundou a Casa da Palavra em 1996, dirigiu a Nova Fronteira/Agir e hoje dedica-se à Ímã Editorial, no Brasil, e à Motor Editorial, em Portugal. É atual curador do LER, Festival do Leitor.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

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