Os textos nossos de cada dia
PublishNews, 07/05/2013
Os textos nossos de cada dia

“A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer."

(Graciliano Ramos)

De volta do Festival Literário de Poços de Caldas e depois de nove dias convivendo com grandes escritores e jornalistas que participaram das mesas, o que mais me tocou foi o amor pelo ato de escrever. Autores consagrados e ainda deliciosamente envolvidos e encantados pela profissão e pelo cuidado com suas obras.

Fiquei pensando muito em como nós, assessores de imprensa, às vezes engessamos os nossos textos com medo de ousar, de inovar, de soltar a imaginação, de buscar novas palavras e novas formas de dizer o cotidiano. Assessores de imprensa de editoras ou escritores têm (ou deveriam ter) mais liberdade, até mesmo pelos temas, para escrever com mais prazer.

“Escrever é uma maravilha”. A frase capturada no meio da palestra de Sérgio Abranches, escritor,repórter, sociólogo e doutor em ciência política, além de comentarista da CBN, revela a paixão pelo ofício. Ele disse que não podemos ter medo de escrever, que a reverência pela literatura pode ser prejudicial quando atemoriza e trava. E ainda complementou: “Não tem régua e compasso. Escrever é um mistério e ninguém sabe ensinar a escrever. Podemos ensinar ou aprender a técnica, mas a narrativa é sua.”

Mesmo que não seja para escrever um livro, a forma e a narrativa nos releases também são nossas e podem ser aprimoradas. Sempre é possível deixar o texto mais enxuto, com mais qualidade e menos adjetivos, selecionando as informações que realmente importam. Um bom texto abre portas, principalmente nesta época em que os jornalistas não têm tempo para perder.

Além de responder às célebres questões que aprendemos ainda na faculdade (que, quem , quando, onde e por que, e não necessariamente nesta ordem), o release criativo, bem escrito, sem erros e no tamanho ideal (duas páginas no máximo) será recebido com mais simpatia nas redações.

Outras dicas para produzir um bom release são: pensar em um título forte e um abre especial, que de cara agradem e chamem a atenção do jornalista; trazer um perfil resumido do autor, de preferência indicando outras obras lançadas no Brasil; destacar o foco do livro; estar de acordo com o público leitor; incluir, se for o caso, um trecho bem escolhido da obra; conter sempre informações básicas sobre preço, número de páginas, ISBN e a editora. Por último, revisar e revisar de novo, de preferência imprimindo para não deixar passar absurdos.

Há temas que exigem mais seriedade, outros abrem as portas da emoção e vão indicando trilhas de novos caminhos ou reviravoltas nas memórias quase esquecidas. Um bom texto não vem do nada. Requer muita leitura dos grandes mestres, domínio da língua, pesquisas e interesse pelo assunto. E humildade para saber que um jornalista não pode pensar que não há mais o que aprender mesmo depois de anos de trabalho. Dá para melhorar todos os dias.

Quando há muitos anos eu participei de uma oficina literária com o escritor Ignacio de Loyola Brandão, ele recomendou: “Levem sempre com vocês um caderninho para anotações. Quem escreve precisa de motivações. Histórias ouvidas no metrô, nomes diferentes, frases, situações. Tudo poderá ser usado um dia”. Sábia lição. Os caderninhos são muito úteis também para os assessores, principalmente para anotar ideias e estratégias que aparecem do nada, pontos importantes de reuniões sobre a obra ou trechos de uma entrevista do autor que estão divulgando e que poderão ser usados como uma nota, uma sugestão de pauta ou mesmo como complemento na hora certa para um follow-up.

Às vezes eu me pego escrevendo com tanta alegria que eu agradeço por ter a certeza de estar na profissão certa. Jornalista não pode se acomodar ou ter preguiça para escrever. E, ainda, um último conselho para não esquecer: cortar um texto não é retirar, é muito mais afinar e valorizar as palavras.

ivyma@uol.com.br

[06/05/2013 21:00:00]