Do blog para o papel
PublishNews, 11/03/2013
Parece que essa é também a temporada dos livros de receitas derivados de blogs de sucesso

Não foram apenas os volumes cada vez mais supernutridos que chamaram minha atenção nessa recente viagem aos Estados Unidos: parece que essa é também a temporada dos livros de receitas derivados de blogs de sucesso, como os ótimos The Smitten Kitchen cookbook (Knopf, 336 pp., US$ 35), de Deb Perelman, e Food in jars (Running Press, 240 pp., US$ 23), de Marisa McClellan, entre vários outros. A tendência não é nova. O primeiro título do gênero que eu comprei, Chocolate & zucchini (Clarkson Potter, 272 pp., US$ 18,95), foi lançado em 2007 por Clotilde Dusoulier, uma parisiense que começou a registrar suas aventuras na cozinha depois de morar por dois anos na Califórnia. Mesmo aqui no Brasil, em 2011, saiu Senhor Prendado (Leya, 400 pp., R$ 99,90), de João Baptista da Costa Aguiar, baseado no blog homônimo. E também não é incomum que, a partir da internet, surjam escritores “culinários” como Tatiana Damberg, do Mixirica, autora de duas obras pela Memória Visual: A panela amarela de Alice (104 pp., R$ 27) e A peleja do alecrim com o coentro e outros causos (104 pp., R$ 26).

Mas como passar receitas e textos surgidos online para o bom e velho papel, ou mesmo para um e-book? Será que tudo o que foi veiculado inicialmente na rede se presta a ser copiado e colado, depois empacotado em um projeto gráfico e então despachado para as lojas? Creio que não seja tão simples assim. Não tenho nada contra os autores independentes, que conseguem vender seus trabalhos on demand ou nos meios digitais. Como já foi dito várias vezes, porém, algumas delas por colunistas aqui mesmo do PublishNews, o trabalho de um editor é fundamental no processo de formatação de um livro. Dianne Jacob, autora de Will write for food: The complete guide to writing cookbooks, blogs, reviews, memoir and more (Da Capo Lifelong Books, 360 pp., US$ 16,99) – já mencionado aqui –, fala que os “derivados” do material feito para a internet devem ser tratados como produtos individuais, e não colocados no mesmo balaio que os posts escritos para a web. Mesmo porque, quando online, o projeto está quase sempre em andamento; na forma de livro, seja físico ou virtual, precisa ter começo, meio e fim.

Um bom editor pode, em primeiro lugar, analisar tudo o que foi escrito para o blog, pensar em subdivisões temáticas e sugerir os capítulos – por melhor que seja o autor, a estrutura de um livro nem sempre está clara em sua cabeça. Um bom editor também tem distanciamento para pinçar os melhores posts e sugerir as mudanças ou adaptações necessárias. E, se não fizer isso pessoalmente, deve encontrar alguém que cheque e padronize as receitas, formatando tudo de um jeito amigável para o leitor. Ok: é o mesmo processo para um título que não nasceu da internet. Para muita gente, entretanto, a existência de um material online significa que o trabalho já foi feito. E está apenas começando.

Foi a Fernanda Guimarães Rosa, do excelente Chucrute com Salsicha – um blog que, aliás, já merecia há muito ter sido transformado em livro –, quem perguntou: por que boa parte dos títulos culinários brasileiros não tem um índice remissivo bacana? Fiz uma pesquisa rápida com dezoito obras nacionais da minha estante, algumas recentes e outras mais antigas. É comum encontrar índices que repetem a estrutura dos capítulos, como se fossem sumários mais fornidos, ou que listam os pratos em ordem alfabética, sem qualquer divisão. Dois têm o cuidado de separar a comida por gênero ou ingredientes principais (entradas, saladas, queijos, carnes) e apenas três exibem índices completos, como eu acho que todos deviam ter: com o nome das receitas em ordem alfabética mais cada ingrediente mais remissões para todas as vezes em que os ingredientes aparecem em um prato, da mesma forma como fazem os volumes estrangeiros.

[10/03/2013 21:00:00]