Autores, autores, divulgação à parte
PublishNews, 04/12/2012
Autores, autores, divulgação à parte

“Toda ação principia mesmo é por uma palavra pensada”

João Guimarães Rosa

Quando estava refletindo sobre o que escrever nesta coluna, veio com força a imagem de uma pessoa muito especial que foi embora em novembro e que dominava com maestria a profissão: o escritor Alcione Araújo, amigo querido, companheiro de boas conversas, muitas risadas e papos sérios durante as jornadas literárias de Passo Fundo. Alcione conseguia reunir cultura, ironia na medida certa, bom humor, carinho para seus leitores e respeito pelos jornalistas. Enfim, o escritor ideal para se trabalhar. Foi pensando nele que resolvi escrever sobre a relação entre o assessor de imprensa e os escritores. E acreditem, conforme o caso pode ser uma tarefa bem complicada.

O autor é a base de toda divulgação e merece um tratamento de respeito e cumplicidade, mas a recíproca também é verdadeira. Quando cai nas mãos do assessor um livro de um escritor que ele conhece e admira, certamente será muito mais fácil o trabalho de divulgação. O difícil é não se deixar levar por julgamentos antecipados, por comentários ou má vontade quando o autor não é dos mais queridos ou simpáticos.

Como geralmente não é possível escolher, principalmente no caso de assessoria de grandes editoras com catálogos muito diversificados, o importante é fazer a sua parte da melhor forma. Recomendo uma trilha sonora para os momentos difíceis: “Não enche”, do Caetano Veloso, para escutar trancado e respirar muitas vezes.

Há aqueles autores que facilitam muito o trabalho do assessor de imprensa. São aqueles que passam longe do “estrelismo”, que trocam ideias, que dão sugestões, que aceitam dar entrevistas mesmo para jornalistas de qualquer veículo e que sempre estão dispostos a colaborar para que seu livro apareça. Outros se acham no Olimpo, nunca estão satisfeitos por mais que você faça bem seu trabalho e só querem usar seu tempo para garantir espaços em grandes veículos, deixando você na maior saia justa conforme o pedido de entrevista. Por incrível que pareça, mesmo nos dias de hoje, alguns torcem o nariz para sites porque ainda não entenderam que a Internet colabora, e muito, para as vendas e para a divulgação de uma obra literária. Da mesma forma, entrevistas em rádios podem ser canais fantásticos para a divulgação. O livro precisa encontrar seu público, onde quer que ele esteja.

Pior são aqueles autores que de cara já vão pedindo páginas amarelas da Veja, capas dos cadernos de cultura e programas da Globo. Esqueça a vontade de mandá-los procurar sua turma e procure não contrariar, evitando problemas para você e para a editora. Explique com sinceridade as reais dificuldades e diga que vai tentar. E tente mesmo, nunca se sabe se o destino naquele momento colocou o tema do livro nos assuntos selecionados pela pauta para programas ou cadernos especiais ou em sintonia com interesses pessoais do repórter/editor/produtor com quem você fez o follow –up. Quem está na área há mais tempo sabe que isso pode acontecer. E quando acontece é melhor que milkshake de ovomaltine.

Algumas editoras evitam o contato direto entre o assessor e o escritor, mas nestes casos fica uma distância que pode complicar a estratégia e a agilidade no atendimento à imprensa. Tudo é muito rápido, os jornalistas nas redações não podem ficar esperando muitas horas ou dias pela entrevista solicitada. E o pobre do assessor fica roendo as unhas, olhando o relógio e torcendo para dar tudo certo. Bom mesmo é ter todos os contatos e poder ligar diretamente para agendar as entrevistas.

Por tudo isso, o encontro pessoal, pelo menos no início do trabalho, é ideal. O assessor pode explicar detalhes da divulgação, conseguir mais informações para usar como estratégia em pautas ou notas exclusivas, definir quem são os jornalistas amigos do escritor que devem receber o livro, saber em que programas de rádio ou tevê o autor gostaria ou não de participar e outros esclarecimentos. Depois, telefonemas e e-mails dão conta.

Manter o contato constante com o escritor pode valer muito a pena, em forma de elogios e indicações futuras. É bom envolvê-lo com os resultados, enviando links das matérias publicadas, dando retornos das pautas sugeridas e acompanhando outras atividades, que apesar de não estarem relacionadas diretamente à obra podem gerar notícias: participação em eventos, premiações, viagens e outros.

No fundo, todo autor quer exatamente o que todo assessor também quer: ter a sensação de estar sendo bem atendido pelo profissional e ver o seu trabalho valorizado. Se for possível, e se o autor e o jornalista não se importarem, é bom acompanhar entrevistas, desde que não seja invasivo e não atrapalhe a fluidez da conversa. Antes da entrevista, o assessor também pode dar dicas sobre o foco principal do veículo, o perfil do público e até sugestões de roupas, no caso de programas de TV. E não se esqueça de comentar depois o resultado, sem medo de falar o que achou. Uma observação eficiente e feita com estilo pode garantir entrevistas melhores no futuro. E o autor ficará agradecido e muito mais seguro.

Muitos assessores não gostam de mostrar o release para o autor, mas eu considero importante essa abertura, tarefa que também pode ser feita diretamente pelo editor. Uma palavra ou ideia mal colocada pode trazer problemas para todos. Profissionalismo, responsabilidade e confiança são caminhos de mão dupla nesta relação tão delicada. E lembre-se: a palavra pensada é do autor, mas a ação de divulgação é sua.

[03/12/2012 22:00:00]