Comida em quadrinhos
PublishNews, 23/11/2012
Gabriela Erbetta conta como foi ler um mangá culinário

Eu sou tão antiga que, quando alguém fala em “quadrinhos”, penso logo na Mônica e no Tio Patinhas. Li o Asterix, a Mafalda e o Calvin, mas, numa mistura de desconhecimento e, admito, um certo desinteresse, pulei todas essas graphic novels, mangás e comic books que fizeram sucesso nos últimos anos. Algumas semanas atrás, porém, um prestativo vendedor da Livraria Cultura viu que eu estava parada há horas diante das prateleiras de culinária, apenas xeretando os títulos, e perguntou se eu precisava de alguma ajuda. Conversa vai, conversa vem, ele colocou em minhas mãos o belo Gourmet (Conrad do Brasil, 200 pp., R$ 29 – Trad. Drik Sada), de Jiro Taniguchi e Masayuki Qusumi, que me conquistou na hora. Comprei o livro. Cheguei em casa e, como prova de que sou antiga mesmo e não entendo nada de mangás, comecei a ler “ao contrário”, pelas primeiras páginas – só fui descobrir que o “início” estava no “fim”, à moda oriental, depois de umas boas passagens sem entender nada.

Gourmet mostra as andanças de um personagem sem nome, comerciante de produtos importados, por alguns bairros de cidades como Tóquio e Osaka. Ele está sempre com fome, em busca de um almoço geralmente tardio em lugares que sirvam comidas autênticas – não importa que sejam bibocas desconhecidas, pratos vendidos em uma estação de trem, o restaurante no terraço de uma loja de departamentos. Entre as descobertas e lembranças do protagonista, surgem nas páginas dezoito refeições, cada uma correspondente a um capítulo, com receitas típicas como takoyaki (bolinho recheado com polvo), butaniku itame (refogado de porco), unadon (enguia grelhada sobre arroz) e mame-kan (doce de gelatina com feijões pretos de soja) – tudo devidamente explicado em um glossário no fim (ou seria começo?) do livro e mostrado em ilustrações preto-e-branco. Como disse o vendedor da Cultura quando me apresentou a obra, é impossível sair da leitura sem ter vontade de assaltar a geladeira. Vou além: não dá para terminar Gourmet sem querer aprender mais sobre os pratos da cozinha japonesa que ultrapassem os sushis, sashimis e yakissobas a que estamos acostumados, ou sem querer descobrir outros títulos que tratem da comida em quadrinhos.

Uma breve pesquisa me fez encontrar a série Oishinbo (VIZ Media LLC, 272 pp., US$ 12,99), de Tetsu Kariya e Akira Hanasaki, com sete volumes publicados nos Estados Unidos, derivados de mangás escritos desde 1983 e, ao que parece, campeões de vendas no Japão. Seu personagem principal é um jornalista de gastronomia que parte em busca da refeição perfeita, e as obras tratam de temas como a cozinha japonesa em geral, legumes, peixes, arroz e saquê. Segundo a revista Saveur, vale como uma aula de culinária. Em um viés mais mórbido e quase escatológico, os cinco episódios de Chew (Image Comics, 128 pp., US$ 9,99), de John Layman e Rob Guillory, mostram as aventuras do detetive Tony Chu, um sensitivo que tem insights a partir do que ele come – desde uma tigela de canja até o pedaço do corpo de alguém que morreu assassinado. Outro personagem de origens orientais protagoniza Get Jiro! (Vertigo, 160 pp., US$ 24,99), lançado em julho deste ano, com texto de Anthony Bourdain e Joel Rose e ilustrações de Langdon Foss e José Villarrubia. Na história, o sushiman Jiro – que, de tão radical, costuma decapitar clientes que pedem california rolls – é disputado por duas gangues de poderosos chefões do mundo gastronômico que controlam uma Los Angeles futurista.

E eu não sabia o que estava perdendo...

[22/11/2012 22:00:00]