Em minha última viagem, participei da semana acadêmica de Comunicação da UFSM, como palestrante da recém-criada cadeira de Produção Editorial. Fiquei muito feliz por encontrar uma equipe de mestres e doutores com uma visão tão esclarecida do mercado. Pode ser que eu tenha me enganado - afinal isso é uma coluna e não tenho compromisso com dados - mas acredito que seja a grade mais completa e atualizada do mercado, e se ainda não for, contam com profissionais preparados e engajados para transformar essa cadeira em referência nacional. Fiquei muito feliz mesmo.
Após a palestra, um aluno querido me perguntou se eu podia indicar um pacote básico de conhecimentos na área, para que ele pudesse se preparar minimamente para o mercado. Então falei que, em primeiro lugar, eles precisavam consumir o produto e-book. Como seriam capazes de desenvolver produtos digitais se nem conhecem suas utilidades, praticidades e também suas falhas?
Em segundo lugar, expliquei que deveriam amar a tecnologia, se atualizar e consumir, na medida do possível. Recomendei também que aprendessem o básico sobre HTML e programação de ePub, afinal, mesmo que não trabalhem como diagramadores, que ao menos saibam dialogar com os profissionais. Finalmente, sugeri que entendessem de metadados em ONIX, o sistema de catalogação e atualização de dados dos e-books. A planilha Excel pode suprir essa deficiência mas, já que é uma deficiência, por que não estudar logo ONIX? Sabiam que ele é mais simples de manusear que uma planilha?
O melhor de tudo foi ver olhinhos brilhando. Precisamos de profissionais com olhos brilhando. E o melhor, profissionais preparados para encarar as novas rotinas de atualização profissional do editor do futuro.
Mas, como nem tudo são flores, a decepção da semana ficou por conta dos escritores e futuros escritores que ainda pensam dentro da caixa. Sinto uma eterna amarra na imagem do cultuado e isolado autor, com olheiras e trancado em sua casa com fumaça de cigarro, remoendo o quanto a vida é injusta por não reconhecerem sua genialidade, seu brilhantismo. O que será de nós editores se nossos autores, criativos e coração de todo o processo, não conseguirem visualizar as possiblidades e maravilhas do mundo digital? Fiquei preocupada com isso. Acho que foi a primeira vez que voltei minha atenção para esse fenômeno, que chamarei carinhosamente de "síndrome-do-autor-tuberculoso-do-século-XIX".
Vamos discutir esse assunto? Vamos voltar nossos olhos para o coração de nosso processo de produção? Enquanto ficamos alimentando a "síndrome-do-autor-tuberculoso-do-século-XIX", nossas crianças já consomem conteúdo digital e, por falta de autor pensando fora da caixa, teremos uma geração alfabetizada em inglês. Sim, pois elas só encontram aplicativos e livros que condizem com sua realidade digital em inglês.
Pensei que o autor quisesse muito ser lido, independentemente do meio, mas pelo visto não... Continuam apegados ao objeto, não conseguindo enxergar as maravilhas da distribuição digital. Estão apegados à imagem do autor-mártir, que não vive de literatura e aceita isso, e acham heresia tentar viabilizar comercialmente um conteúdo. Realmente este tipo de visão, no meio de todos os furacões de chegadas de gigantes do e-book no Brasil, me fez perder o sono. De que adianta ter gigantes para viabilizar a distribuição de conteúdo, se as mentes criativas e provedoras só precisam de um exemplar impresso, de um objeto de estante, para serem completos e felizes?
Para o bem ou para o mal, me escrevam camila.cabete@gmail.com.
Camila Cabete (@camilacabete no Twitter e Instagram) tem formação clássica em História. Foi pioneira no mercado editorial digital no Brasil. É a nova Head de Conteúdo da Árvore e a podcaster e idealizadora do Disfarces Podcast.
camila.cabete@gmail.com (Cringe!)
** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.
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