Cultura

O ministério que a Cultura quer

Na expectativa pela posição de Marta Suplicy sobre temas polêmicos, artistas e produtores falam o que esperam da nova gestão do MinC

Marta Suplicy tomou posse como ministra da Cultura na última quinta-feira
Foto: Arte de Cavalcante
Marta Suplicy tomou posse como ministra da Cultura na última quinta-feira Foto: Arte de Cavalcante

RIO - No dia de sua posse, na última quinta-feira, a nova ministra da Cultura, Marta Suplicy, disse que vai estudar a pasta e, quando tiver uma ideia clara sobre o assunto, irá se pronunciar. Não marcou prazo, o que leva a classe artística a aguardar com expectativa a posição da ministra sobre temas polêmicos como os direitos autorais e o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad).

Enquanto o mercado editorial torce para que ela siga o caminho de Ana de Hollanda, contrária à flexibilização proposta por Gilberto Gil e Juca Ferreira, na música os grupos se dividem entre os que, como Ronaldo Bastos, esperam que ela cumpra a Lei de Direito Autoral (de 1998) vigente (“Foi uma luta muito grande da classe”), e os que, como Leoni, viram no discurso de posse sinais “esperançosos” com relação ao potencial da internet. Já o compositor Sérgio Ricardo diz que a falta de fiscalização do Ecad é um dos “grilhões” que aprisionam a cultura.

Um assunto é consenso: a necessidade de aumentar a verba para a Cultura. Marta receberá um ministério com um orçamento de R$ 3 bilhões para 2013, um crescimento de 65% em relação a 2012. Ainda assim não é suficiente, dizem artistas e produtores, que no entanto se mostram esperançosos, lembrando que Marta tem mais força política que Ana de Hollanda.

— A cultura pode ganhar um peso político maior — diz Sônia Jardim, presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel).

Esse trânsito da senadora licenciada junto ao Parlamento faz com que os artistas esperem ver aprovados projetos de lei em tramitação.

— É preciso uma firme e intensa ação junto à Câmara dos Deputados para obter a aprovação do projeto que institui o Vale Cultura, o maior e verdadeiro ato de democratização do poder de consumo de bens culturais pela população — diz o produtor de cinema Luiz Carlos Barreto.

Eduardo Barata, presidente da Associação de Produtores de Teatro do Rio (APTR), também aguarda que ela abrace uma causa, a da limitação da meia-entrada em 40% do total dos ingressos, projeto de lei que está no Congresso.

Outro motivo de confiança na gestão de Marta é a criação, quando prefeita de São Paulo, dos Centros Educacionais Unificados (CEUs), estabelecimentos de ensino que incluem teatros, quadras poliesportivas, piscina e creche. A atriz Fernanda Montenegro diz que no campo das artes cênicas e musicais não há nada igual no Brasil, o que lhe dá “o direito de ter esperança”.

Essa união entre educação e cultura proporcionada pelos CEUs foi lembrada também pelo gestor cultural Eduardo Saron, superintendente do Itaú Cultural, e por Barata, que espera que Marta aproxime os dois setores também em escala nacional.

— Caso faça isso, Marta poderia deixar um marco importante — acredita Barata.

Há muitos desafios pela frente. Um deles, diz Geo Britto, do Teatro do Oprimido, é retomar e ampliar os 3.500 pontos de cultura do país, um dos principais projetos do governo Lula, que, diz, “foi praticamente descartado” na gestão Ana de Hollanda, com “vários cortes” de verbas.

— Na campanha eleitoral, Dilma prometeu aumentar a rede.

Entre os muitos obstáculos que Marta vai enfrentar, lembrados por artistas, estão os altos impostos de importação, no caso das artes plásticas, e a burocracia excessiva, no caso da classe cinematográfica. Para a diretora Tetê Moraes, nunca o cinema teve tanto dinheiro, mas nunca foi tão complicado ter acesso a esses recursos.