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O futuro dos livros ilustrados
PublishNews, 27/08/2012
O futuro dos livros ilustrados

Estou de volta! O que poderia ter sido um período de férias bem merecidas foi, na verdade, um mergulho intensivo no mundo do livro infantil, da leitura e da ilustração. Primeiro foram os últimos seminários do Conversas ao Pé da Página e, na sequência, a coordenação da residência de ilustradores, promovida pelo Educativo do Tomie Ohtake em parceria com o “Conversas” e com a Revista Emília. Conviver durante praticamente 15 dias com Katsumi Komagata, Javier Zabala e Fernando Vilela, participar das discussões e dos desafios de criar um projeto em comum, com toda a diversidade que estilos e visões culturais distintos implicam é, no mínimo, um grande aprendizado. Serão divulgados tanto o processo como os resultados desta residência, por isso não vou me estender muito nisto agora.

Entre as questões abordadas e deixadas em aberto ao longo dos seminários do Conversas, a questão do livro ilustrado e seu papel como gênero literário dentro do universo do livro infantil ganha corpo. Não é um assunto original, afinal já faz muito tempo que ilustradores como Odilon Moraes, Fernando Villela, Daniel Bueno, Laura Teixeira, só para citar alguns, têm se dedicado de forma sistemática a este assunto. Não se trata apenas da natureza singular do gênero, mas também da nova relação que se dá entre imagem e texto e, consequentemente, o compartilhamento de autoria entre autor e ilustrador.

A discussão é ampla e, quando se trata de avaliar o panorama atual do livro infantil, o mercado, e as transformações que ele vem sofrendo devido às novas plataformas digitais, colocam o livro ilustrado em evidência. Na última sexta-feira, o PublishNews publicou a coluna de Mike Shatzkin dedicada à discussão. Me chamou logo a atenção o fato de ele abrir um espectro vastíssimo para se referir ao livro ilustrado e não tratar em momento algum do livro ilustrado infantil.

Apesar de Mike Shatzkin se refereir especificamente ao mercado americano e aos chamados “livros ilustrados gerais” para adultos, é interessante considerar a diferença apontada por ele entre as empresas que possuem “catálogos totalmente ilustrados” e as do “negócio digital branco e preto”. Podemos pegar carona nessa distinção e fazer um paralelo com o livro ilustrado, mesmo no caso onde as imagens são meramente ilustrativas, como nos livros práticos - mas não restrita a eles, pois uma das vertentes que alguns ilustradores vêm trilhando, entre eles Zabala, é a ilustração de livros para adultos, cada vez mais em voga e que inclusive serve de diferencial na transposição para a plataforma digital.

Se a isto somarmos o papel cada vez mais decisivo dos livros ilustrados infantis, com presença cada vez mais forte no mercado e cuja linguagem abraça as necessidades singulares do público jovem contemporâneo, o paralelo se justifica ainda mais. Afinal, como transpor para a plataforma digital não só a perspectiva, mas também a amplitude do olhar de uma página dupla de um livro ilustrado? Ou a organicidade existente em álbuns tratados pelos seus autores/ilustradores na sua totalidade (como por exemplo os de Suzy Lee ou Ângela Lago, entre outros)? Ou os relevos, facas e texturas que produzem profundidade, efeitos de luz e sombra na melhor tradição de um Munari, hoje resgatada, entre outros, por Katsumi Komagata?

Longe de mim pôr em dúvida a capacidade da tecnologia de se aproximar cada vez mais da realidade, porém é importante pensar que, no plano da leitura e da formação leitora, os livros ilustrados oferecem várias entradas e vários significados; o impacto visual, na sua horizontalidade ou verticalidade, na cumplicidade do texto com a imagem, produz qualidades sugestivas que, nas palavras de Joelle Turin, possibilitam sonhar, pensar questões, brincar, se revelar.

Não apenas isso. De acordo com Turin, o livro ilustrado é também responsável pela introdução da nova relação de leitura compartilhada, agora triangular, pois renova a “disposição que implica a leitura a dois de um mesmo livro de imagens [...], o que abre a possibilidade para trocas de pensamento e de pontos de vista e se estende no prazer do diálogo e na escuta do outro”. Esta nova postura promovida pela leitura triangular compartilhada pode despertar e ampliar o gosto pela leitura, pelo livro como objeto e até por uma disposição para o debate e consideração da diversidade de pontos de vista. [Ver também a coluna de 4/6/2012: “Do ponto de vista do ilustrador...”].

Diferentemente do diagnóstico pouco claro em torno “dos livros ilustrados gerais”, o livro ilustrado para crianças e jovens ainda tem fôlego para sobreviver em paralelo ao avanço da era digital e desempenhar seu papel de porta de entrada para o mundo dos livros. Claro que, frente à extensa produção de livros ilustrados, existem aqueles que podem, sem perder sua singularidade, migrar para a plataforma digital. O mercado assiste a esse processo com exemplos mais ou menos exitosos. Mas há casos em que a transposição coloca em risco o próprio conteúdo incorporado pelo livro enquanto objeto.

Convido você a ler o texto de Katsumi Komagata, “O papel do papel - A sensibilidade por meio dos livros”, publicado na Revista Emília, onde ele afirma ter certeza de que “as crianças desenvolvem a sensibilidade por meio de livros feitos com papel e produzidos com muito cuidado”. O contato com a delicadeza do papel, com a fragilidade das formas, não só é um aprendizado de que as coisas quebram e acabam, mas sobretudo que as relações humanas, da mesma forma, exigem delicadeza e cuidado para perdurar.

Em tempo:

Para os interessados nessas questões acaba de sair “A trilogia do limite” de Suzy Lee (Cosac Naify), livro imperdível sobre o significado e o processo criativo desta grande autora/ilustradora.

As referências à Joëlle Turin foram extraídas do livro Ces livres qui font grandir les enfants [Os livros que fazem as crianças crescerem]. Paris: Didier Jeunesse, 2088.

Dolores Prades é editora, gestora e consultora na área editorial de literatura para crianças e jovens. É membro do júri do Prêmio Hans Christian Andersen e curadora da FLUPP. É também coordenadora do projeto Conversas ao Pé da Página - Seminários sobre Leitura, e da área de literatura para crianças e jovens da Revista Eletrônica Emília. Sua coluna pretende discutir temas relacionados à edição e ao mercado da literatura para crianças e jovens, promover a crítica da produção nacional e internacional deste segmento editorial e refletir sobre fundamentos e práticas em torno da leitura e da formação de leitores. Seu LinkedIn pode ser acessado aqui.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

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