Os livros de cozinha na era digital
PublishNews, 01/06/2012
Os livros de cozinha na era digital

O anúncio oficial deve ser feito apenas no fim de junho ou em julho, mas o site do Digital Book World já noticiou: a partir de 2013, o mais importante prêmio para livros de cozinha dos Estados Unidos, concedido pela Fundação James Beard, vai aceitar inscrições de obras em formato digital, que passam a concorrer em pé de igualdade com os volumes físicos em categorias como “bebidas”, “bolos e sobremesas”, “foco em saúde” e “fotografia”, entre outras. Mesmo sem conceder medalhas exclusivas para e-books – ainda –, trata-se de um inegável reconhecimento da importância do formato eletrônico para o universo gastronômico.

Fã de primeira hora de e-readers (tenho um Kindle desde que a Amazon lançou a versão internacional do aparelho), confesso que só comecei mesmo a me interessar por títulos digitais de culinária quando comprei um tablet e passei a usar aplicativos como o próprio Kindle, o Kobo e o PDF Reader, onde a exibição das fotos é melhor. Um amigo meu argumenta que receitas não funcionam em formato digital porque ninguém vai levar o tablet ou o smartphone para a cozinha. Bem, eu levo. Na bancada de meu pequeno apartamento – longe do fogão e da pia, é verdade –, tenho um cantinho separado para eles, sobre uma pilha de livros do Jamie Oliver, da Alice Waters e da loja Dean & Deluca. Sempre limpo as mãos antes de “virar as páginas”, como faço com as obras de papel. “Virar as páginas”, aliás, é bem mais fácil no tablet e no celular do que nos volumes que, muito frequentemente, preciso manter abertos sobre a bancada com um prato, uma lata ou outro peso qualquer por cima, para evitar que ele se feche e eu perca o lugar em que a receita foi escrita.

Mas, assim como esperamos de um livro físico que ele seja bem-diagramado, tenha legendas legíveis e seja fácil de ser consultado, o digital não pode ficar atrás. Infelizmente, nem sempre é isso o que acontece. Sei que, se eu mexer na formatação original, mudando ou aumentando a fonte, o alinhamento, a cor da tela, corro o risco de ler um título de pé quebrado. O mínimo que espero, porém, é que o estilo default da editora esteja correto e que, de preferência, tenha sido pensado como e-book, sem quebras de parágrafo esdrúxulas ou, pior, textos cortados ao meio, como essa página do Ancient grains for modern meals (Ten Speed Press, 240 pp., US$ 29,99), de Maria Speck, que baixei no aplicativo do Kobo para iPad.





Também já encontrei tabelas que, de tão precárias, tornam-se muito difíceis de ler, como esse exemplo saído do The glorious pasta of Italy (Chronicle Books, 280 pp., US$ 30), mostrado no aplicativo do Kindle.

Em outubro do ano passado, uma reportagem no New York Times sobre a chegada ao formato digital de Mastering the art of French cooking (Alfred A. Knopf, 752 pp., US$ 40), a obra-prima de Julia Child, já previa a dificuldade da adaptação culinária ao mundo dos e-books – mas também afirmava que, no final do segundo semestre de 2011, a versão eletrônica dos livros de gastronomia já correspondia a 8,5% do volume total de vendas do gênero nos Estados Unidos. Em outro artigo, Jeremy Greenfield, do Digital Book World, aposta que, depois dos títulos infantis, essa é a nova categoria prestes a mostrar um “crescimento explosivo” (mas, assim como meu amigo, ele também questiona a boa vontade dos leitores em levar seus tablets, e-readers e smartphones para a cozinha). Greenfield ainda pergunta se não seria o caso de produzir versões turbinadas com, por exemplo, demonstrações em vídeo – coisa que bons aplicativos já exploram muito bem, como os de Nigella Lawson e Jamie Oliver, além das revistas digitais da grife Martha Stewart. Antes de filminhos que mostrem o autor preparando alegremente seus pratos, porém, eu prefiro que os livros digitais de receitas sejam todos legíveis.

[31/05/2012 21:00:00]