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O que significa sonhar com livros?
PublishNews, 24/02/2012
O que significa sonhar com livros?

“Se for um livro grande revela desejos de aproveitar os estudos; se for pequeno, ocultamento da verdade. Sonhar com um dicionário significa facilidade de interpretação dos problemas. Sonhar que se lê um livro popular revela predileção pelas letras. Se for estrangeiro, desejos de viajar.”

É assim que a revista Sonhos – Significados de A a Z interpreta o significado de sonhar com livros. Não deixa de ser curiosa a classificação de livros em: grandes, pequenos, populares, dicionários e estrangeiros.

E se você sonhar com uma biblioteca? “Estar numa biblioteca anuncia vida calma e tranquila; se a biblioteca está arrumada significa dinheiro a receber; se está desarrumada, brigas e discussões.” Outra revista da mesma série interpreta assim sonhar com biblioteca: “seu emprego ou seu negócio está ameaçado. Tenha muito cuidado. Consultar um livro em uma biblioteca: inclinação à preguiça”.

Pessoalmente, como convivo diariamente com uma biblioteca desarrumada, confesso que prefiro sonhar com duas bibliotecas maravilhosas que vi no cinema recentemente: aquela onde Tintim procura desvendar o segredo do tesouro e aquela – muito bagunçada, aliás – do maravilhoso filme “A invenção de Hugo Cabret” (o livro de Brian Selznick lançado em português pela Edições SM em 2007 é imperdível).

Comprei o meu exemplar de Sonhose várias outras revistas e almanaques na Rua Brigadeiro Tobias altura do número 600, no centro de São Paulo, onde ficam três lojas (Mafra Editorial, Revistaria Rei das Cruzadas e Galvão Novidades) de publicações “vencidas”, além de alguns livros, a preços realmente baratos, desde palavras cruzadas a revistas de bordados e outras artes manuais, ciência e história e muitos assuntos cuja leitura não depende de estarem atualizados. É um comércio interessante que prolonga a vida desse mercado de giro tão efêmero (é claro que o sortimento inclui “todo tipo” de revistas). A Rua Brigadeiro Tobias liga a Estação da Luz, o Museu da Língua Portuguesa e a Pinacoteca do Estado à Avenida Senador Queiroz – bem na esquina das duas vias, faça uma pausa para almoçar no vegetariano Flor de Lótus.

Mas continuemos com o significado dos sonhos. Sonhou com escrever? “É sinal de maledicência, falso testemunho e mexericos.” Com academia, escola ou universidade? “Indica tristeza e cansaço interno.” Com escola? “Tal sonho prognostica o íntimo desejo de gozar o presente e o futuro com felicidade e segurança.” Com estante? “Cheia de livros, sucesso nos estudos ou na pesquisa; vazia, cansaço mental.” O significado de sonhar com “revista” é surpreendente: “se é ilustrada revela desejo de clareza numa situação obscura. Sem ilustrações indica cansaço por palavras e promessas e temor de envolvimento numa charlatanice”...

A pequena publicação Sonhos Revelados(número 15), onde encontrei as frases acima, integra uma ampla gama de revistas de grande circulação e faz parte de um universo que poderíamos chamar, com muitas aspas e dúvidas, de “leitura popular”, gênero sempre complexo em sua definição. De qualquer forma, Sonhos não é uma leitura que proponha ou proporcione qualquer abertura ou janela no mundo de leitores, real ou imaginária. Nada de aprofundar, pensar, fantasiar.

Os verbetes citados mostram as categorias com que opera: desejos de aproveitar os estudos, ocultamento da verdade, facilidade de interpretação dos problemas, desejos de viajar, dinheiro a receber, brigas e discussões, mexericos, tristeza, cansaço interno, desejo de gozar o presente com felicidade e segurança – todos eles mais do que legítimos problemas, necessidades, aspirações e desejos humanos.

O problema não é tratar desses temas, é que a revista os faz circular – com um vocabulário reduzido e repetitivo – na superfície: não propõe nem refletir nem imaginar nem agir em qualquer direção, embora sugira uma parceria – confidência, intimidade – entre revista e leitor ao tratar, na forma de verbetes (como uma pequena enciclopédia “científica”), de algo tão pessoal, intangível e subjetivo como os sonhos de cada um – seja aqueles que sonhamos dormindo, seja os que sonhamos acordados (é claro que a interpretação dos sonhos, da narrativa bíblica de José à psicanálise Freud, paira como espectro de “conhecimento sábio e revelador” sobre revistas assim).

A fórmula da revista reside em fazer uma ponte (mesmo rasa) entre ambas as esferas de sonhos, as fantasiosas e as pragmáticas, preenchendo com conteúdos concretos e cotidianos uma dimensão que deveria, igualmente, incluir as fantasias mais intangíveis e distantes. Ao empobrecimento da esfera dos sonhos corresponde um empobrecimento das interpretações e dos recursos “literários” (saber pouco/sonhar pouco/mudar pessoal e socialmente pouco). Curiosamente, a predileção pelas letras está associada a sonhar com “livros populares”, uma ironia do redator...

Mas me parece que a questão mais interessante é entender o que é esse gênero de leitura e se ele está eventualmente formando leitores, embora seja obviamente injusto exigir isto da revista Sonhos e de outras equivalentes. Afinal, não funciona nesse mesmo circuito parte da literatura e dos livros de magos e de autoajuda campeões de venda, com suas fórmulas e receitas materiais, afetivas e espirituais?

Publicações como Sonhos são a parte imersa do iceberg no mundo das edições e dos leitores, no qual a leitura se configura numa segura zona superficial que talvez não conduza a outras leituras, aquelas que trabalham efetivamente na esfera da imaginação e do sonho. Em todo caso, se hoje eu sonhar com uma “abóbora” saberei, conforme a revista Sonhos, que as minhas “desconfianças são infundadas; acredite mais na pessoa amada”.

Roney Cytrynowicz é historiador e escritor, autor de A duna do tesouro (Companhia das Letrinhas), Quando vovó perdeu a memória (Edições SM) e Guerra sem guerra: a mobilização e o cotidiano em São Paulo durante a Segunda Guerra Mundial (Edusp). É diretor da Editora Narrativa Um - Projetos e Pesquisas de História e editor de uma coleção de guias de passeios a pé pela cidade de São Paulo, entre eles Dez roteiros históricos a pé em São Paulo e Dez roteiros a pé com crianças pela história de São Paulo.

Sua coluna conta histórias em torno de livros, leituras, bibliotecas, editoras, gráficas e livrarias e narra episódios sobre como autores e leitores se relacionam com o mundo dos livros.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

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