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Os livros infantis e juvenis na imprensa
PublishNews, 13/02/2012
Os livros infantis e juvenis na imprensa

Certamente estamos muito desacostumados a ter um espaço na imprensa, seja ela a grande ou a pequena. Daí, certamente, o sucesso e aceitação da Revista Emília e a sua vocação primeira de preencher um espaço de divulgação e crítica dos livros para crianças e jovens e das questões em torno da leitura e da formação de leitores.

Não é um privilégio brasileiro o fato de os livros infantis não terem espaço de divulgação. Porém, vários dos principais jornais de alguns países, como Estados Unidos, Espanha e Inglaterra, reservam seções regulares para o segmento em seus cadernos literários. Algumas delas com destaques, análises e rankings importantes para os leitores e o mercado.

O acesso a pontos de vista, análises literárias e referências a partir das quais é possível criar critérios e refinar gostos é um dos degraus que ajudam a galgar o longo e pessoal itinerário de formação de um leitor. Nesse sentido, é importante acompanhar e ficar de olho em algumas brechas, resultantes do crescimento e da pressão do mercado, que muito lentamente começam a se abrir. Um bom exemplo é a inclusão dos infantojuvenis na seção dos livros mais vendidos da semana na Folha de S. Paulo.

Ilan Brenman, numa conversa na semana passada, trouxe à baila o significado dessa recente consideração dos infantojuvenis na Folha. Afinal, não é mais só o segmento de autoajuda que divide o ranking com literatura. Finalmente, os livros infantojuvenis, ainda que sob esta denominação pouco esclarecedora, ganham sua fatia de mercado. É, indiscutivelmente, um dado importante a ser levado em conta e que vale uma reflexão.

Se, por um lado, a abertura desse espaço sinaliza a pressão de um mercado em crescimento que tem sido um dos maiores destaques nos últimos anos. Por outro, torna evidente a reduzida “sensibilidade” e o longo caminho ainda a percorrer na conquista de um maior reconhecimento do segmento de mercado que representamos. Não precisamos ir muito longe – ainda que seja extensa a lista de exemplos –, um acontecimento recente é suficiente para ilustrar o que estou pensando.

Todos os que temos alguma ligação com a literatura infantil sofremos um duríssimo baque com a morte, há poucas semanas, de Bartolomeu Campos de Queiros, um dos maiores escritores, educadores e ativistas da leitura, não só do Brasil como da America Latina. Foi impressionante o descaso da grande imprensa frente a essa perda e ao significado e papel de Bartolomeu para a literatura e para a educação no país. Além do seu prestígio como escritor, Bartolomeu participou nas últimas décadas dos principais projetos educacionais do país. Os grandes jornais limitaram-se a algumas notas breves.

Tal silencio é um indicativo do caráter aleatório, distanciado e pouco consistente de algumas coberturas maiores sobre algum lançamento esporádico nos grandes órgãos de imprensa. A falta de especialização na nossa área se estende e se faz sentir com muita agudeza no âmbito da cobertura jornalística. Nessa direção, fica aqui uma sugestão: estratégias a médio prazo do setor deveriam prever, em futuros congressos, feiras e outros eventos, espaços para a discussão do papel de uma cobertura focada no mercado de livros para crianças e jovens. Cabe abrir esse dialogo e promover discussões com jornalistas.

Essa é apenas uma primeira camada que recobre muitas outras e, se começarmos a descascar uma a uma, talvez visualizemos mais de perto o centro do problema: a necessidade de promover uma discussão mais ampla e abrangente sobre os mais variados aspectos que envolvem os livros para crianças e jovens.

O crescimento do mercado abriu espaço para “os mais vendidos infantojuvenis”; porém, os grandes órgãos de imprensa ainda não se sensibilizam pelos principais acontecimentos em torno do livro para crianças e jovens. E muito menos com o movimento de formação de leitores e com o papel que os livros para crianças e jovens desempenham nesse processo. Vale lembrar que campanhas nesse sentido foram veiculadas até pela Globo. É só imaginar os efeitos de uma campanha nacional de sensibilização e conscientização de pais e familiares em torno da importância da leitura, coordenada por especialistas e promovida por algum grande jornal.

Não se trata aqui de lamentar, apenas de ficar de olho nas oportunidades que, apesar de muito reduzidas, indicam o reconhecimento de um segmento editorial que, até muito recentemente, lutava pelo seu estatuto de gênero literário. Também é importante registrar não só os espaços cada vez mais diversificados em revistas especializadas de ampla divulgação como a multiplicação de sites e blogs que discutem e divulgam essas questões.

É nesse caldo que o debate e a transmissão de ideias se promove. Alimentar e ampliar os canais é fundamental para difundir os livros de qualidade e a importância de focar no livro e na leitura. E, como diria Bartô, é “preciso mobilizar toda uma sociedade em função da leitura literária” – quando da criação do Movimento por um Brasil Literário –, pois “precisamos de uma sociedade inteira envolvida nesse trabalho de formação do leitor”.

Em tempo: Acaba de ser publicado o programa do 33º Congresso do IBBY que se realizará de 23 a 26 de agosto de 2012 em Londres. Vale muito a pena conferir!

Dolores Prades é editora, gestora e consultora na área editorial de literatura para crianças e jovens. É membro do júri do Prêmio Hans Christian Andersen e curadora da FLUPP. É também coordenadora do projeto Conversas ao Pé da Página - Seminários sobre Leitura, e da área de literatura para crianças e jovens da Revista Eletrônica Emília. Sua coluna pretende discutir temas relacionados à edição e ao mercado da literatura para crianças e jovens, promover a crítica da produção nacional e internacional deste segmento editorial e refletir sobre fundamentos e práticas em torno da leitura e da formação de leitores. Seu LinkedIn pode ser acessado aqui.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

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