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E o vencedor é...
PublishNews, 30/01/2012
E o vencedor é...

Quando penso em premiações, a primeira ideia que me vem à cabeça é o tapete vermelho e o anúncio do talvez mais previsível prêmio da badalada e tão esperada noite do Oscar. Previsibilidade que corresponde, quase sempre, ao contexto político ou às preferências do mercado. Afinal, os filmes já passaram pelo crivo do público e da crítica.

Mas não é de cinema que vamos falar aqui, e sim de algumas questões em torno de prêmios na área do livro para crianças e jovens que há algum tempo me inquietam. A minha experiência dos últimos anos, como responsável pela implantação do Prêmio Barco a Vapor no Brasil em 2004 (até 2010), como secretária e organizadora do júri internacional do 3º Prêmio Ibero-Americano realizado no Brasil e, agora, como membro do júri do Concurso João-de-Barro 2011, reiterou várias questões e vivências que gostaria de compartilhar aqui.

Um dos aspectos mais surpreendentes, confirmado em todas as ocasiões, sem exceção, foi perceber o papel decisivo e inevitável da subjetividade no processo de escolha e decisão. Logo que comecei a participar das diferentes instâncias decisórias, fui percebendo o peso da configuração do grupo que decidiria, num primeiro momento, o que deveria ou não ser julgado, e, num segundo, quem deveria ser premiado.


Na verdade, as questões objetivas, isto é, os pré-requisitos básicos sem os quais uma obra não chegaria a uma fase final de seleção, existem e são o ponto de partida de toda discussão. Neste âmbito os argumentos são claros e nada como boa argumentação e rigor na exposição para estabelecer um patamar comum de discussão e referências. Imagino - pois nunca vivenciei uma situação parecida – que, frente à existência de um original unânime, essa primeira fase encerraria o processo. Porém, frente à existência de diferentes finalistas aptos a concorrer ao primeiro lugar, a discussão passa a se mover também em outros patamares.

De modo geral, toda decisão sobre seja qual for a manifestação artística se move entre critérios objetivos e a subjetividade responsável pelo grau de identificação e de fruição da obra. Isto é, o "gosto pessoal", conjunto de valores, convicções, referências, critérios, sensibilidades que conformam as decisões mais universais e prosaicas. Nada de novo até aqui, ainda que para muitos possam soar estranhos o peso e a interferência de critérios nem sempre tão “objetivos”, porém indiscutivelmente presentes.

Quero ressaltar a importância da configuração das instâncias decisórias responsáveis por definir e determinar um resultado. Fui me dando conta pouco a pouco de como o resultado de um prêmio dependia, em última instância, da configuração da equipe de leitores críticos e do júri. Daí a importância da sensibilidade do responsável pela organização e escolha dos membros dessas instâncias decisórias. E aqui reside o campo do imponderável, para alguns da “sorte” determinante em toda e qualquer premiação.

Ao lado disso, a importância também da definição dos critérios de participação nos diferentes concursos e premiações. O grande leque de variáveis (tamanhos de texto, gêneros, formato, nível de linguagem etc.) que cobre a literatura para crianças e jovens muitas vezes coloca lado a lado originais de gêneros muito distintos e difíceis de serem submetidos aos mesmos critérios. O destaque possível de alguns concorrentes, resultante dessa desigualdade, pode nem sempre ser justo com aqueles que ficam em segundo plano - se estes concorressem em uma categoria menos ampla, talvez pudessem se destacar.

A importância dos prêmios é indiscutível e a sua multiplicação é de fato um reconhecimento da necessidade de promover gêneros e autores. A valorização da nossa literatura para crianças e jovens deveria contar com novos prêmios em distintas categorias que pouco a pouco ganhariam espaço no mercado. A definição do gênero e dos critérios de participação e o aprofundamento da discussão e do debate, tanto entre profissionais da área como entre os especialistas, são aspectos que podem contribuir para que novas premiações surjam e dêem conta da amplitude dos gêneros que hoje compõem a chamada LIJ.

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O Prêmio João-de-Barro, promovido pela Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Fundação Municipal de Cultura (FMC), o mais antigo e o mais prestigiado na área, teve novidades na edição de 2011, que acabou de anunciar os vencedores. Apresentou um novo conceito, premiando não apenas o texto como também o projeto gráfico completo. O premio de R$ 20 mil mais uma viagem a Bolonha, na Itália, para participar da 49ª Feira do Livro Infantil de Bolonha, faz a conexão internacional tão importante e significativa nesses casos.

O júri, do qual fiz parte ao lado de Marilda Castanha e Nelson de Oliveira, se surpreendeu com a qualidade e com a complexidade de algumas obras que revelavam articulação especial entre texto, ilustração e projeto gráfico – segredo de todo bom livro infantil. O vencedor foi PSSSSSSSSSSSSSIU! de autoria de Silvana Tavano e Daniel Kondo; e duas menções honrosas foram dadas: Passarim de Barros, de Marília Pirillo, e Isso é pro menino que queria virar vento, de Pedro Henrique Trindade Kalil Auad e Luisa Helena Ribeiro.

Parabéns aos organizadores do prêmio pela ousadia em inovar e aos premiados pelo excelente trabalho que, espero, veremos muito em breve no mercado!

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Dolores Prades é editora, gestora e consultora na área editorial de literatura para crianças e jovens. É membro do júri do Prêmio Hans Christian Andersen e curadora da FLUPP. É também coordenadora do projeto Conversas ao Pé da Página - Seminários sobre Leitura, e da área de literatura para crianças e jovens da Revista Eletrônica Emília. Sua coluna pretende discutir temas relacionados à edição e ao mercado da literatura para crianças e jovens, promover a crítica da produção nacional e internacional deste segmento editorial e refletir sobre fundamentos e práticas em torno da leitura e da formação de leitores. Seu LinkedIn pode ser acessado aqui.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

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