Numa das últimas esperas em algum aeroporto fiz uma lista de temas que poderia tratar em futuras colunas, a maioria deles instigados pelas diversas e ricas interlocuções e trocas que se deram ao longo deste ano. Mas, na hora de sentar para escrever este texto, preferi deixar para o ano que vem os temas mais gerais e fazer um registro de alguns momentos importantes do livro para crianças e jovens e da leitura que testemunhei . Afinal, ao longo do ano participei de alguns dos encontros mais importantes sobre esses temas.

Tenho repetido de forma insistente nos cursos e palestras sobre edição que um dos aspectos centrais que formam um bom editor e que podem fazer a sua diferença é uma inserção verdadeira, real, na especialidade onde lhe cabe trabalhar. Se por um lado, o bom editor deve conhecer, antes de tudo, o seu papel e suas competências em termos gerais, a concorrência do mercado e a sua divisão cada vez maior exigem um foco e uma especialização cada vez mais verticalizadas. Daí a importância de entender como esse mercado e os canais formadores de opinião se articulam e definem não só tendências e modas, mas também pensamentos e reflexões.

E falando em cursos, é bem significativo o aumento dessas atividades como reflexo do crescimento do mercado de livros infantis e juvenis. A procura indica a necessidade de referências e de interlocução para um trabalho cada vez mais exigente e competitivo em toda América Latina. Temos inúmeras iniciativas nessa direção não só nacionais, como na Colômbia, no Peru, no México. O público interessado também sinaliza que não são apenas os editores os que estão à procura de referências, mas também autores, ilustradores e mediadores, todos em busca de uma compreensão maior de toda a cadeia produtiva do livro.

No curto prazo, tais iniciativas devem representar um salto de qualidade e ajudar a firmar e reforçar o papel do editor, restabelecendo a sua centralidade no processo de produção – única forma de garantir bons livros e de plantar futuros leitores. Esse processo de formação se complementa com a participação em congressos e o acesso à literatura especializada. Várias têm sido as iniciativas nesse sentido também, porém gostaria de reforçar três lançamentos recentes, todos da Cosac Naify: Livro ilustrado, palavras e imagens, de Nicolajeva e Scott; Critica, teoria e literatura infantil, de Peter Hunt, e Para ler o livro ilustrado, de Sophie Van Der Linden. Leitura obrigatória e hoje acessível ao público brasileiro.

Com um caráter mais amplo e abrangente em termos de público e de temáticas, a Revista Emília preenche um espaço ainda pouco explorado não apenas pelo seu suporte digital, mas também pelo seu caráter de divulgação, debate e formação. A rápida aceitação e o sucesso da Emília comprovam a carência latente e a necessidade de se preencher esse vazio, numa aposta certeira com um olhar de qualidade e rigor.

O aniversário de 10 anos do PublishNews, marca e diferencial do mercado editorial brasileiro, reconhecido internacionalmente e hoje parceiro de alguns dos principais organismos do livro, como a Feira de Frankfurt e a de Londres, sinaliza o percurso recente de profissionalização deste mercado. Mas, não só isso: confirma também a força da edição brasileira, que fecha 2011 com a negociação mais importante e bem-sucedida da história, entre Companhia das Letras e Penguin. Exemplo de profissionalismo entre gente séria e grande.

Todo este cenário, certamente, contribui para o amadurecimento da reflexão e para a ampliação de critérios e referências que pouco a pouco, se farão sentir no dia a dia da edição. Poder ter em mãos elementos que ajudem a ampliar a visão periférica e não perder de vista o caráter cultural da indústria editorial, ajustando o mercado a isso e não o contrário, são algumas das condições para uma aposta efetiva no fortalecimento da qualidade da nossa produção editorial.

No que me diz respeito, fecho o ano realizada como há muito não acontecia, pois todos os meus esforços foram pautados pela convicção de estar fazendo um trabalho sério e comprometido com a qualidade, contribuindo dentro de minhas possibilidades para configurar o cenário e promover a interlocução e o debate entre os pares da área. Mas, para além do viés pessoal, esse percurso descreve a riqueza, a maturidade e a abrangência que essas questões vêm assumindo a cada ano.

O ano de 2012 está aí e com ele o TOC e a Feira de Bolonha; Conversas ao pé da Página 2012; o Salão da FNLIJ, este ano em abril, coincidindo com o TOC na Argentina e a Feira do livro da Colômbia, onde o Brasil será o país homenageado; o COLE em julho, logo depois da FLIP; a Bienal de São Paulo, o Congresso do IBBY em Londres, seguido das Feiras de Frankfurt, Porto Alegre e Guadalajara. Ufa! E vários outros eventos ainda em gestação, que, com certeza, ampliarão perspectivas e possibilidades.

Enfim, o ano novo promete e precisamos nos preparar para enfrentá-lo! Só tirando férias e descansando. Dia 16/1 estarei de volta. Bom ano para todos!

Em tempo: aproveitando os dias de descanso no final do ano, recomendo dois livros (pelos quais fico muito feliz), publicados pela Pulo do Gato, sob minha consultoria: Como ensinar seus pais a gostarem de livros para crianças, de Alain Serres, e Para que serve um livro?, de Chloé Legeay.