É comum dizer que as editoras não sabem o que fazer com os e-books, que todos têm perguntas e ninguém tem as respostas. Mas, sinceramente, não é bem assim que eu vejo as coisas.
Acho que o que acontece é que as editoras não estão acostumadas a um mercado dinâmico, sem processos pré-definidos, e estão inseguras por não terem um padrão "certo" a seguir e, sim, vários (mesmo que quase todas sigam um só padrão...). No geral, a produção de, por exemplo, um livro impresso de não ficção de autor estrangeiro segue uma receita de bolo:
- Editorial:
Tradução
Copi
Diagramação
Revisões
Indexação
- Produção gráfica:
14 x 21cm ou 16 x 23cm
Papel offset ou offwhite
Cadernos de 16 ou 32 páginas
Cores de miolo: 1/1
Cores para capa: 4/0
Acabamento de capa: Laminação fosca com verniz
O e-book destrói essa “regra” e oferece diversas possibilidades. Muitas editoras ainda estão no processo de migração de seu catálogo para o digital. Nesses casos, todo o processo editorial já está feito e só resta a produção gráfica. Mas esse “só resta” significa:
- Formato: Qualquer um, de forma que se adapte a qualquer tela de leitor.
- Papel: seu nome digital é “background” e pode ter qualquer cor, qualquer imagem.
- Não há número de página absoluto, ele muda de acordo com as alterações no tipo e no tamanho das fontes, na margem, no gadget usado na leitura. E, numa tacada só, acaba com as noções de sumário e índice remissivo, que se transformam, respectivamente, nos eficazes links e ferramenta de busca.
- Não há limites para cores, e, quando há, o limite é imposto pelo leitor digital, que pode ser preto e branco ou colorido. Além disso, pode haver inserção de som, vídeo, links (apesar de o Bluefire detestavelmente não abrir links externos). O limite é o tempo, a competência técnica de quem está fazendo a conversão, a criatividade e/ou o peso do arquivo.
- Estou pensando no acabamento e o que me vem é “vídeo”. A capa pode ser um vídeo, um gif, slides etc.
Com esse mundo de possibilidades, tivemos que voltar ao básico para manter o foco: o leitor quer ler. E daí foi criada uma nova “receita de bolo”: o e-book deve ser igual ao impresso. Há editoras mais ou menos flexíveis em relação a isso, mas na verdade o que quase todo mundo tem feito é simplesmente imitar ao máximo a aparência do impresso. Então, tecnicamente, não há grande surpresa em boa parte dos e-books atuais. E, mesmo saindo da questão técnica, temos poucas surpresas: os contratos de aquisição, os contratos de distribuição e o processo de compra, por exemplo, seguem receitas de bolo.
Qual seria então a tal dúvida que o e-book traz? Se ele no futuro vai suplantar o livro impresso? Qual vai ser o sistema operacional dominante? Qual gadget vai ser o padrão? Qual aplicativo vai ser o padrão? Qual vai ser a empresa de venda de e-books mais lucrativa? Na verdade, para a produção de e-books, isso faz muito pouca diferença agora. Nesta fase de migração com base em receita de bolo, só o que nós podermos fazer é gerar ePubs que mantenham a identidade do impresso (dentro das limitações do formato, como, por exemplo, certas fontes, em especial com serifa), mas tentando sempre aproveitar as possibilidades que o digital oferece.
Revisão técnica: Antonio Hermida (Simplíssimo)
Cindy Leopoldo é graduada em Letras pela UFRJ e pós-graduada em Gerenciamento de Projetos pela UFF. Em 2015, cursou o Yale Publishing Course e, em 2020, iniciou a especialização em Negócios Digitais, da Unicamp. Trabalha em editoras há uns 15 anos. Na Intrínseca, onde trabalhou por 7 anos, foi criadora e gerente do departamento de edições digitais e editora de livros nacionais. Atualmente, é editora de livros digitais da Globo Livros.
Escreve quinzenalmente, só que não, para o PublishNews. Sua coluna trata de mercado editorial, livros e leituras.
Acesse aqui o LinkedIn da Cindy.
** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.
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