Vende-se direito autoral
PublishNews, 27/09/2011
Estamos em um período de muita agitação de vendas no mercado editorial, devido às novas políticas do governo brasileiro e o Brasil como país tema da Feira de Frankfurt em 2013

Estamos em um período de muita agitação de vendas no mercado editorial, devido às novas políticas do governo brasileiro e o Brasil como país tema da Feira de Frankfurt em 2013. Nada melhor do que pensar naquele “corretor ou corretora de direitos autorais”. Enfim, o vendedor da obra para ser publicada.

Vamos saber um pouco mais sobre como acontecem as vendas reticentes. Na verdade, sobre os bastidores, onde o comprador e o vendedor se encontram. Pode-se pensar que existe um perfil específico para o “vendedor de direitos autorais”. A resposta é: não existe esse perfil único.

No princípio, o autor criou a obra e, portanto, controla os seus direitos autorais. Sempre que possível, questione essa afirmativa. Principalmente, se a obra já foi publicada. Contratos – nem sempre – são textos bem decodificados por autores.

Vamos aos causos, baseados em histórias que ouvi ou vivi, algumas envolvendo autores brasileiros de prestígio:

1. Um amigo que conhece um vizinho de um tradutor de português para holandês apresentou meu livro. O tradutor, por sua vez, conseguiu que um editor austríaco publicasse. Resumindo, entre o que amigo, vizinho, tradutor e editor que mereceram ganhar pela venda, sobrou só 1% de direito autoral sobre as vendas para mim, isto é, para mim: o autor.

2. Meu livro, traduzido para o francês, foi comprado por uma editora italiana direto da editora francesa, e só descobri isso porque um primo estava passeando em Milão e viu meu nome na capa de um exemplar na prateleira de uma livraria. Um primo que gosta de fuçar livrarias. Entre tristeza e alegria de já estar editado na Itália, conseguimos, minha agência literária e eu, receber algo, pois a editora francesa não tinha esse direito em contrato de vender minha obra. Quatro anos de persistência da minha agência, mas conseguimos.

3. Como você publicou lá no Canadá? Foi assim: em um evento, conheci um cônsul (não era o canadense), que, por sua vez, tinha um parente designer gráfico de várias editoras canadenses. Não só designer como leitor de português e casado com uma tradutora do francês para o português. A esposa apresentou a obra para um editor, que publicou. Isto já aconteceu tem mais de cinco anos. Sei que vende porque o editor sempre escreve falando das novas edições, mas nunca consegui receber nada desse editor.

4. Sim, tenho meu livro publicado no exterior, mas não recebo nada porque o contrato exigiu que eu cedesse tudo. Outro dia, o meu editor brasileiro ligou desesperado porque a editora estrangeira queria cobrar dele os pagamentos atrasados desde a data que assinei o contrato com ela.

5. Nem penso que qualquer obra publicada no exterior seja melhor que a situação que tenho no meu país. Editora pequena que não consegue distribuir bem e nunca tem nem uns trocados para mim.

6. Acabei de fechar um livro, que, segundo reunião com minha agência, entendemos que várias editoras poderiam se interessar por ele. Fiquei muito feliz com o leilão que aconteceu em seguida, pois, enfim, tive minha obra supervalorizada. Todavia, as vendas para exterior agora são da editora. Na minha calculadora, sobraram apenas 2% de direitos autorais para mim.

7. Não sou o que se diz “do autor brasileiro que representa bem o Brasil lá fora”. Mas nunca se deve deixar de tentar. Com as novas políticas de apoio à tradução do livro brasileiro, consegui um contrato no exterior; todavia a verba para a tradução não foi aprovada para minha obra, e agora entrei na fila das próximas publicações da editora estrangeira ou até o contrato vencer.

Pensando no vendedor de direitos autorais, definido como aquele que vende para o futuro dono cuidar do bem adquirido, isto é, no comprador, quem vai cuidar dos direitos autorais merece muita atenção e cuidados especiais nas grandes possibilidades que se abrem para os autores brasileiros hoje.

[26/09/2011 21:00:00]