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A negociação de um contrato milionário
PublishNews, 27/05/2011
A negociação de um contrato milionário

O filme “Conversando com Deus”, de Neale Donald Walsh, parte da história real do autor que chegou ao fundo do poço depois de um acidente de carro, quando perdeu tudo, do emprego à casa, chegando até a revirar lixo. No auge do desespero e da descrença ele dirigiu diversas perguntas à Deus, até que ele começou a ouvir D’ele as respostas. Dessas conversas ele escreve o primeiro livro que viria a se tornar sucesso no mundo inteiro, inclusive no Brasil, e que logo vieram as continuações. O que vou tratar aqui é da negociação do contrato e, para o tema ficar ainda mais interessante, trago um link de 5 min do exato trecho do filme para quem tiver curiosidade.

Transposto para as telas, a cena que é bastante interessante de observar, mesmo por editores experientes, é a da negociação entre Bob, o agente que representa Neale, e Sharon, editora da Putnan, que pertence ao gigantesco grupo Penguin. Eles estão sentados num café. Sharon com o assistente de um lado, e Bob, do outro.

Neale está falido. Bob consegue a atenção de uma grande editora e esta lhe faz uma oferta de US$ 1 milhão pelo livro. Neale fica com as pernas trêmulas, Bob mantêm-se frio, pisa no pé de Neale para que ele não se manifeste, e diz algo como: Obrigado por sua oferta, mas eu esperava bem mais de você! Vou levar o livro para outros clientes e em breve envio a notícia de que o livro se esgota rapidamente a cada reedição.”

Era uma manobra arriscada....

Nesse momento Neale fica a ponto de ter um surto. Ele estava na pior situação possível. Qualquer US$ 100.000.00 era mais que aceitável até para dividir com o agente, e temia que o descarte de Bob, sem que tivesse outra proposta nas mãos, pudesse fazê-lo perder tudo.

Mas Bob mostra-se frustrado, levanta da mesa e se despede da editora com frieza, enquanto chama Neale para que faça o mesmo. Neale não sabe o que fazer, fica lá, parado... ele sabe que aquela quantia era imensa mesmo para qualquer autor reconhecido nos EUA. Então, constrangido, pede licença e se levanta. Quase próximos à saída, os dois conversam um pouco e Bob age de modo a acalmar o autor. Então a diretora chama o nome de Bob em voz alta. Ele pára e ela se aproxima. Aumenta a oferta em mais meio milhão. Neale pergunta: Por que você quer publicar o meu livro? Depois da resposta ele fecha o acordo.

Essa cena mostra os detalhes de uma grande negociação – algo típico do mercado americano, mas que oferece uma noção de como um livro sem nenhum retrospecto pode se tornar um sucesso nas mãos de quem decide publicá-lo. Mostra também o trabalho de um agente literário nos EUA (onde ninguém chega a uma editora sem um agente), algo que começa a acontecer com mais freqüência no Brasil.

Se for assistir, repare nos motivos que levam a editora primeiro a fazer a proposta, segundo a defender a edição pela Putnan e, por fim, a justificativa que dá ao autor.

Eu recomendo o filme por conta desses detalhes: confiança do autor no agente que escolheu, a forma como o agente trabalha e negocia e a relação entre a editora que decide publicar o livro com a obra do autor. Independente do valor pago adiantado: obra certa, nas mãos mais entusiasmadas com o livro e com condições reais de promovê-la.

Comentários, sugestões, críticas, postem em meu blog: www.faroeditorial.wordpress.com

Na próxima coluna falarei sobre “O escritor fantasma”, dirigido por Roman Polansky , onde abordarei “A contratação e o trabalho de um ghost writer”.

Pedro Almeida é jornalista profissional e professor de literatura, com curso de extensão em Marketing pela Universidade de Berkeley. Autor de diversos livros, dentre eles alguns ligados aos animais, uma de suas paixões. Atua no mercado editorial há 26 anos. Foi publisher em editoras como Ediouro, Novo Conceito, LeYa e Saraiva. E como editor associado para Arx; Caramelo e Planeta. É professor de MBA Publishing desde 2014 e foi presidente do Conselho Curador do Prêmio Jabuti entre os anos 2019 e 2020. Em 2013 iniciou uma nova etapa de sua carreira, lançando a própria editora: Faro Editorial.

Sua coluna traz exemplos recolhidos do cinema, de séries de TV que ajudam a entender como funciona o mercado editorial na prática. Como é o trabalho de um ghost writer? O que está em jogo na hora de contratar um original? Como transformar um autor em um best-seller? Muitas dessas questões tão corriqueiras para um editor são o pano de fundo de alguns filmes que já passaram pelas nossas vidas. Quem quer trabalhar no mercado editorial encontrará nesses filmes algumas lições importantes. Quem já trabalha terá com quem “dividir o isolamento”, um dos estigmas dos editores de livros. Pedro Almeida coleciona alguns exemplos e vai comentá-los uma vez por mês.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews

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