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O livro infantil digital
PublishNews, 23/05/2011
O livro infantil digital

Na ordem do dia das preocupações de todo editor, pensar o livro digital infantil nos remete a um universo de questões bastante específicas e diferenciadas dos outros segmentos editoriais. Para além da contraposição entre a afirmação do livro digital e o livro em papel, para além da discussão do desaparecimento definitivo do livro tal como o conhecemos hoje, há questões específicas do livro infantil que se delineiam nesse universo ainda duvidoso em que se move a edição digital.

No caminhão de perguntas sem resposta com o qual adentro este universo, um dos aspectos que não deixam margem a duvidas é a certeza de que estamos vivendo um momento de efetiva inflexão da indústria editorial. Seja qual for o caminho que for tomado - a edição do livro em papel, a edição digital ou ambas -, todas as etapas do fazer editorial estão postas em questão e provavelmente passem por um franco processo de mudanças. Não há nenhuma novidade nisso e muito se tem falado a esse respeito.

Porém, a sensação de ser testemunha desta reviravolta no mundo da edição só fui ter mesmo algumas semanas atrás participando do TOC (Tools of Change for Publishing), conferência sobre o futuro do livro infantil promovida pela Feira de Bolonha. Pela primeira vez, a maior feira dedicada ao livro para crianças e jovens organizou uma discussão sobre o livro digital e sobre as mudanças que este novo suporte podem representar para este mercado. Tal reconhecimento e a convocatória para um prêmio anual a partir de 2012 para o melhor livro digital, o Bologna Ragazzi Digital Award, instituem e chancelam o livro digital infantil no universo do que há de melhor na produção do livro infantil e juvenil.

O forte interesse despertado pelo tema ficou comprovado pelo público presente. Mais de 200 pessoas de 27 países diferentes se reuniram no domingo, véspera da abertura da feira, durante um longo dia onde se sucederam palestras e mesas redondas sobre três grandes temas: um geral sobre o mercado, outro sobre a edição e as mudanças que desde já se vislumbram e um terceiro sobre os novos suportes e suas características.

Mais do que dar respostas, essa jornada reiterou dúvidas e confirmou as primeiras impressões. Quem foi ao TOC atrás de respostas ou de modelos de negócios saiu com a certeza de que ninguém sabe ao certo como fazer. E o que fazer depende de muito investimento e experimentação. Movendo-se ainda às cegas, os grupos editoriais que já atuam neste segmento de mercado deixaram claro o caráter experimental de suas iniciativas e pesquisas, assim como o grande investimento que significa entrar para valer e de forma original neste segmento. Além dos investimentos em pesquisa e criação, foi reiterado que o livro digital exige constantes atualizações no ritmo das inovações tecnológicas exigidas pelo seu suporte.

Se o avanço e a substituição do livro em papel pelo formato digital é inquestionável em vários segmentos do mercado editorial, é só pensar nas enciclopédias, nos dicionários e nos livros científicos, conteúdos que se adaptam melhor a este formato e suas inovações. No caso do livro infantil, o que os exemplos de ponta das experiências digitais mostram não são apenas transposições para um outro formato. Ao contrário, o que temos são novos produtos: livros animados, com recursos interativos muito próximos dos brinquedos que exigem aptidões diferentes daquelas que a leitura (em silêncio ou compartilhada) exige.

Reconhecer estas diferenças não significa de modo algum desprezar as consequências que estas inovações impõem ao mercado editorial do livro infantil. A reviravolta está em curso e a imaginação e criatividade dos editores para fazer frente a estas mudanças são onde reside, do meu ponto de vista, a sobrevivência com maior ou menor peso do livro em papel. É importante repensar o que se faz, ir atrás de uma maior qualidade, explorar ao máximo os recursos gráficos, descobrir novos nichos e novos formatos de modo que o livro em papel se torne exclusivo garantindo seu espaço no mercado.

Livro digital e abertura de novos mercados andam de mãos dadas. Crianças são os novos consumidores em potencial desta era digital e como tais devem ser bombardeadas por novos produtos e por constantes inovações. Nesta guerra de mercado, o livro digital é o suporte mais adequado para ganhar espaço e consumidores. Na briga pela ampliação de novos mercados fica claro que os grandes grupos não podem deixar de entrar nesta competição e de colocar o foco neste novo produto que é o livro digital.

Porém, é aqui que reside um dos maiores nós deste mercado: o desconhecimento geral das regras deste novo negócio. Não se sabe como controlar o número de cópias vendidas, como fazer frente aos downloads free, como fazer disto um negócio rentável a ponto de justificar o enorme investimento que o livro digital pressupõe. As mesmas dúvidas ocorrem com a divulgação destes novos produtos. Como dar visibilidade a cada título nos sites de compra? Como controlar e intervir nos sites das grandes corporações detentoras da tecnologia? Como fugir das regras impostas por elas?

Faz décadas que a indústria editorial vem acolhendo e se moldando aos efeitos dos avanços tecnológicos e não há nenhuma novidade nisso. A indústria do livro digital é uma nova etapa deste processo, no qual estamos apenas engatinhando. Os novos formatos estão aí impondo sua força no mercado. Mas eles precisam de conteúdo, isto é, da criatividade de autores e ilustradores, do olho do editor capaz de identificar e formatar um produto, de identificar pontos fortes e estabelecer parcerias.

Esta ponte fundamental entre conteúdo e forma como ponto de partida foi comentada por Neal Hoskins da Wingedchariot Press, que fechou o TOC com uma frase bastante paradigmática naquelas circunstâncias: “Always remember where you come from”. Muitas podem ser as interpretações, porém no contexto no qual nos encontrávamos, a remissão ao conteúdo, à literatura como suporte essencial e ao trabalho criativo foram lembradas.

Dolores Prades é editora, gestora e consultora na área editorial de literatura para crianças e jovens. É membro do júri do Prêmio Hans Christian Andersen e curadora da FLUPP. É também coordenadora do projeto Conversas ao Pé da Página - Seminários sobre Leitura, e da área de literatura para crianças e jovens da Revista Eletrônica Emília. Sua coluna pretende discutir temas relacionados à edição e ao mercado da literatura para crianças e jovens, promover a crítica da produção nacional e internacional deste segmento editorial e refletir sobre fundamentos e práticas em torno da leitura e da formação de leitores. Seu LinkedIn pode ser acessado aqui.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

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