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Pesquisas sobre o mercado editorial brasileiro
PublishNews, 07/12/2010
O que querem os leitores?
Filho – Ah, e tem agora o iPad também...

Pai – E qual a diferença dele pro iPod?

Filho – Ah, o design... O iPad é grandão. É tipo um iPhone, bem maior que o iPhone, só que não faz ligação.

Pai – Ah, não liga? E o que ele faz?

Filho – Muita coisa... Quase tudo que o iPhone faz, tipo...

(Deixo de prestar atenção na conversa por uns 5 minutos)

Filho – Ah, e ele vira livro.

Essa conversa se deu na zona sul do Rio de Janeiro, no domingo passado. O filho, que devia ter entre 18 e 23 anos, não mora no Brasil e estava falando com o pai sobre as novas maravilhas da Apple e os preços delas aqui e nos EUA. (Não, não tenho como passatempo de domingo ficar espionando famílias, mas eu estava sozinha na mesa ao lado e eles estavam falando alto para se ouvirem [afinal, os restaurantes classe média do Rio parecem que são locais que existem para que você ponha suas angústias classe média para fora, seja no grito ou na comida]).

Eu me senti ofendida. E muito!

Pra mim, o iPad é, antes de tudo, um dos mais fortes representantes do “novo livro”. Da revolução que nem Gutenberg fez na indústria editorial! Do que vai mudar por completo meu trabalho em poucos anos! E esse moleque diz que ele, o iPhone e o iPod são quase a mesma coisa?? Só o iPad tem por função principal “virar livro” (enhanced ebooks e não simplesmente ler pdfs), oras, e isso faz ele ser totalmente diferente de qualquer outro dos aparelhinhos lindos da Apple.

Essa conversa me deixou tão perplexa que resolvi analisá-la e ficou claríssimo que o livro, em essência, não deixou de ser livro. Ou, em outras palavras, o livro continua interessando pouco ao brasileiro. E tive certeza de que a vida dos e-readers seria curta em relação a dos tablets. E, mesmo os tablets, só fariam sentido por aqui quando ficassem muito baratos e a pirataria já tivesse se estabelecido, porque se o povo não gastava muito em livros quando não tinha a opção do “de graça”, imagina quando essa possibilidade realmente existir para uma grande quantidade de títulos em português? (Aconselho ler esta matéria e, principalmente, os comentários dos leitores.) E já estava desanimando quando entendi que estava embarcando no erro recorrente do nosso mercado: acreditar cegamente em percepções individuais sem baseá-las em pesquisas sérias que tenham ocorrido em nosso país e não nos EUA ou em qualquer outro lugar.

Normalmente não podemos basear nossas percepções em estudos porque quase não há pesquisas brasileiras sobre nosso mercado. Mas acredito que a indústria poderia financiá-las e tentar mapear as necessidades e preferências dos antigos e dos novos leitores. Provavelmente, as maiores, e mais profissionais, editoras já têm suas próprias pesquisas para saber para onde direcionar o marketing, mas essas iniciativas individuais e confidenciais não ajudarão muito se a pirataria entender antes de nós os desejos dos consumidores brasileiros. E, como nos apresenta Max Lenderman no livro Brand New World, os piratas são muito bons nisso.

Cindy Leopoldo é graduada em Letras pela UFRJ e pós-graduada em Gerenciamento de Projetos pela UFF. Em 2015, cursou o Yale Publishing Course e, em 2020, iniciou a especialização em Negócios Digitais, da Unicamp. Trabalha em editoras há uns 15 anos. Na Intrínseca, onde trabalhou por 7 anos, foi criadora e gerente do departamento de edições digitais e editora de livros nacionais. Atualmente, é editora de livros digitais da Globo Livros.

Escreve quinzenalmente, só que não, para o PublishNews. Sua coluna trata de mercado editorial, livros e leituras.

Acesse aqui o LinkedIn da Cindy.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

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