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Os números invísiveis da Amazon
Publishnews, Carlo Carrenho, 27/10/2010
Carlo Carrenho analisa as novas estatísticas divulgadas pela Amazon sobre a venda de livros e leitores digitais.

O PublishNews noticiou ontem as novas estatísticas divulgadas pela Amazon no último dia 25/10 sobre suas vendas de livros e leitores digitais. Em resumo, a gigante do varejo norte-americana divulgou que:

Já foram vendidos mais Kindles desde o lançamento da 3ª geração que no último trimestre de 2009.

Durante os últimos 30 dias, os clientes da Amazon compraram mais e-books que p-books (livros físicos) dos títulos que estão entre os 10, 25, 100 e 1000 mais vendidos da Amazon.com. E a proporção entre livros digitais e livros físicos nos top 10 é de 2 para 1.

A Amazon vendeu três vezes mais livros digitais nos primeiros nove meses de 2010 que no mesmo período em 2009.

Nas 12 semanas seguintes ao lançamento do Kindle de 3ª geração, estes e-readers e seus acessórios estiveram sempre entre os 15 itens mais vendidos da Amazon.com e da Amazon.co.uk combinadas.

Em um primeiro momento, estes números parecem decretar o fim do livro físico. No entanto, um análise crítica, e muito crítica, se faz necessária aqui. Principalmente, porque a gigante de Seattle (codinome: Amazon) se recusa a divulgar qualquer número ou base de dados para as estatísticas mirabolantes que divulga, o que por si só já deveria abalar a credibilidade das informações. Então, vamos analisar melhor estes números:

Comparar as 12 semanas desde o lançamento da última versão do Kindle com o último trimestre do ano passado confere ao primeiro período a desvantagem de não ser uma época natalina. Portanto, a superação das vendas de um período normal sobre um período de fortes vendas é de fato relevante. Mas é preciso considerar que o Kindle de 3ª geração é um produto com melhorias enormes – o aparelho é menor, oferece WiFi e a tela possui melhor brilho – e um preço muito inferior (US$ 139 para a versão WiFi e US$ 189 para a versão WiFi / 3G) e a conclusão óbvia é que seria natural que as vendas aumentassem significativamente. Fosse um Kindle menos evoluído e um preço igual ao anterior, as vendas de fim de ano de 2009 provavelmente ganhariam das vendas das últimas 12 semanas de lavada.

Sobre a proporção de vendas ente e-books e p-books, não fica claro, em primeiro lugar, o que compõe estas listas de mais vendidos. São apenas as vendas de livros físicos? Só de livros digitais? Um combinado entre ambas? Creio que seja um combinado entre ambas e, neste caso, há que se considerar que as vendas de e-books por si só exercem forte influência estatística sobre a lista, mesmo porque a participação da Amazon no mercado de e-books é enorme (fala-se em até 75% de market share). Portanto, apurar que entre os mais vendidos da Amazon os livros digitais têm uma grande participação é de certa forma andar em círculos, já que a causa se mistura com o efeito.

Michael Cader, do Publishers Lunch, ao comentar esta questão ontem, colocou alguns números na equação e mostrou que a proporção em questão não é tão surpreendente:

“Vamos considerar que você venda 50 mil exemplares em capa dura de seu novo título de um grande autor. Se for um livro típico, 35% do total de de vendas poderiam ser de livros digitais, somando mais 25 mil unidades. No lado físico, a Amazon deve vender 15% das vendas iniciais do livro (7500 unidades); no lado digital, eles terão 60% (15000) a 75% (18750) das vendas. Voilà, a proporção de 2 para 1.”

Ou seja, ao se considerar a influência das próprias vendas digitais na lista global de mais vendidos e, especialmente, a diferença de market share da Amazon nos mercados digital e físico, a proporção de 2 para 1 não é assim tão mirabolante e está longe de representar a realidade do mercado como um todo.

Finalmente, o aumento exponencial das vendas de e-books na Amazon e o fato de o Kindle e seus acessórios estarem sempre nas posições de mais vendidos do site são informações objetivas (ainda que não sejam divulgados os números reais de vendas e-books e e-readers) e impressionantes.

Discussão: E no Brasil, quando podemos esperar que as vendas de edições digitais sejam de fato relevantes? Quando veremos o primeiro livro ter 35% de suas vendas no formato e-book? Dê sua opinião nos comentários abaixo.

Carlo Carrenho é o fundador do PublishNews no Brasil e co-fundador do PublishNews na Espanha. Formado em Economia pela FEA-USP, especializou-se em Edição de Livros e Revistas no Radcliffe Publishing Course, em Cambridge (EUA). Atualmente trabalha na área de desenvolvimento internacional de novos negócios para a Word Audio Publishing International na Suécia e é advisor da Meta Brasil e da BR75 no Brasil. Como especialista no mercado de livros, já foi convidado para dar palestras e participar de mesas em países como EUA, Alemanha, China, África do Sul, Inglaterra e Emirados Árabes, entre outros. É co-curador da conferência profissional Feira do Livro de Tessalônica.

Carlo é paulista, morou no Rio, e atualmente vive em Estocolmo, na Suécia. É cristão, mas estudou em escola judaica. É brasileiro, mas ama a Escandinávia. Enfim, sua vida tende à contradição. Talvez por isso ele torça para o Flamengo e adore o seriado Blue Bloods.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

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