Há apenas um Seth Godin
PublishNews, 08/09/2010
Mas há outros autores que podem copiá-lo

O que se destacou recentemente no noticiário foi a declaração de Seth Godin de que ele não vai mais publicar livros com as editoras. Esse é outro sinal de que vai ficar cada vez mais difícil a publicação de livros comerciais, de interesse geral.

Mas ele não é o primeiro. O escritor de suspense J. A. Konrath descobriu as vantagens de lançar livros pela Amazon, para o Kindle, 16 meses atrás. Com a ajuda do público de seu próprio blog, mais os manuscritos completos que editores de Nova York não compraram, ele se viu empurrado a aprender a ganhar dinheiro com seu próprio trabalho sem uma editora.

Em dezembro de 2009, foi anunciado que o autor da Simon & Schuster, Stephen Covey, levou seus livros para a editora de e-books Rosetta, a qual, por sua vez, fez um acordo de exclusividade por tempo determinado com a Amazon. As motivações, aparentemente, eram uma fatia maior do “bolo” dos e-books, e a especial capacidade de marketing da Amazon para realmente levar alguma coisa até os consumidores certos. Esse acordo pareceu ter sido feito com o consentimento explícito da editora original (O agente Andrew Wylie marcou seu nome no mercado ao fazer o mesmo com um grupo de trabalhos de seus clientes aparentemente sem consentimento pré-acordo, apesar de que ninguém o processou até hoje).

Na última BookExpo, um dos principais agentes de Nova Iorque me contou que está trabalhando duro para aprender sobre as opções de publicação independente porque seus autores estão perguntando sobre isso. Semana passada, um dos principais consultores para “selos” editoriais me disse que os 25% de direitos autorais de e-books estão fazendo seus clientes pensarem bastante sobre publicação independente.

E isso acontece agora que estou lendo um livro sobre meu assunto preferido (história do beisebol) chamado A Year in Mudville (sobre a temporada inicial do Mets) e que foi uma publicação independente pela Smashwords, mas que tem qualidade editorial, mais até do que muitos títulos que tenho lido de grandes editoras. Não sei se o autor, David Bagdale, não quis se aborrecer com a burocracia de ter que escolher uma editora, ou se foi rejeitado por elas, ou se apenas escolheu o controle e as melhores margens de lucro oferecido pela Smashwords, mas a Smashwords, ao contrário de outras casas, está dividindo com o autor 70% dos nove dólares que paguei pelo o iBook.

Nesse caminho, encontra-se a destruição.

Muitos anos atrás, meu amigo, e às vezes colega de trabalho, Mark Bidê e eu conversávamos sobre as ameaças ao paradigma da revista acadêmica. Para aqueles que não estão familiarizados em como as revistas funcionam, isso pode lhes abrir os olhos. Universidades pagam salários a professores e os encorajam a escrever artigos revisados por colaboradores. A revista pega o artigo de graça, faz a revisão e o processo de publicação, e então vende a coleção de artigos de volta para as bibliotecas universitárias. Então a universidade paga tanto pela criação de conteúdo quanto pela compra do material publicado. Desde que se começou a tomar consciência do que a internet poderia apresentar, tem sido previsto que a intermediação entre as editoras acadêmicas iria acabar (“desintermediação”).

O que Mark me disse foi “veja a quantidade de artigos enviados”. Então, ele acredita que o primeiro indício de que essas editoras estarão com problemas quando os professores pararem de mandar seus artigos. Por enquanto, isso não aconteceu (pelo menos, não que eu saiba).

Mas isso vai acontecer no comércio.

Em uma mailing list da qual participo, é possível perceber o aborrecimento dos editores que apontam que nem Konrath nem Godin estariam onde estão hoje se as editoras não tivessem investido neles e construído sua fama. Há o ressentimento de que nenhum dos dois enfatiza isso, e por não o fazerem parecem sugerir que “qualquer um pode fazer isso”. Tenho certeza de que eles não estão dizendo “qualquer um pode”, mas isso necessariamente não dá a real idéia dos danos futuros às editoras, porque os autores que podem fazer isso são aqueles que as editoras mais precisam.

No início dos anos 90, editores começaram a perguntar “qual a plataforma do autor” ao assinarem os contratos. Atualmente, eles perguntam se o autor tem um programa de rádio, coluna no jornal, circuito de conhecidos ou uma extensa lista de contatos em mídias que podem dar aos editores maiores chances de promover o livro. Mas na virada do século e com o desenvolvimento de websites e blogs quase sem custos, os autores podem construir suas próprias plataformas. E, veja só, eles podem fazer isso mais rápido e melhor se eles estiverem publicando livros no mercado tradicional.

Editores devem se lembrar da máxima que diz que você deve tomar cuidado com o que deseja. Esse foi talvez o começo do fim do conjunto de serviços prestados pelas editoras aos autores. A publicação do livro costumava ser a plataforma e a assessoria da editora, e os esforços do marketing trabalhavam para capitalizar isso. Isso tudo era parte do pacote: adiantamento, edição e elaboração do livro, colocá-lo de forma a ser distribuído (impresso e encadernado), torná-lo conhecido, e, claro, levar o livro à loja para que o consumidor pudesse comprá-lo.

Editoras ainda pagam adiantamento apesar de fazerem o seu melhor para recuperá-los com as vendas, é claro. Muitos não fornecem o mesmo nível de serviços de edição que costumavam oferecer, sempre esperam que mais livros sejam entregues por cada editor, e também se apóiam em agentes nos quais confiam que podem fazer muito do trabalho de preparar bem o livro. Deixar o livro pronto pra distribuição não é nem de perto tão difícil quanto costumava ser e não requer investimento se for digital. Sabendo disso, Godin, de forma muito articulada e precisa, sugere que ele pode fazer isso melhor sozinho. E ele não está sozinho, e autores que podem fazer isso são exatamente o que as editoras estão procurando. E levar o conteúdo às mãos dos consumidores é uma proposta drasticamente diferente em um contexto digital do que era no mundo puramente impresso de vinte anos atrás; e distribuição digital pode ser feita com muito menos investimento e muito menos força organizacional.

Então há menos para a editora fazer por um autor do que havia antes. E as editoras deram o sinal quando elas começaram a focar na habilidade dos autores de se promoverem e, então, com o passar do tempo, a habilidade virou pré-requisito para publicação. Se a editora vai fazer menos o autor quer pagar menos. Joe Knorath é muito claro sobre as vantagens que vê em ficar com a maior parte da receita que o seu livro gera, ao invés de um mero royalty do autor.

Mas, de uma forma um pouco mais sinistra, fazer mais dinheiro através da
“desintermediação” não parece ser o fio condutor de Seth Godin. O que ele parece estar dizendo é “Eu quero flexibilidade. Eu quero usar o que escrevo da maneira que eu achar melhor para construir minha carreira e receita e para o meu público. Eu não quero estar preso em horários e burocracia de editoras”.

Esse é um desafio e tanto para as editoras tradicionais, mas será de extrema importância para os grandes autores, particularmente os de não-ficção. É muito mais fácil para a editora estabelecer o valor real se ele for vertical. Na mesma mailing list que mencionei, nós temos o comentário de uma editora independente em ascensão que afirma que a casa está encontrando mais e melhores maneiras de trabalhar com autores e realmente investir neles. Mas, nos disseram, eles são todos verticais.

Godin pode ser um caso único. Há aspectos únicos em Covey e Konrath também. Mas não é nada tranquilizador para editores comerciais ver que os autores têm alternativas, que conforme aumentam as vendas de e-book aumenta também a viabilidade de crescimento alternativo, e que os autores com maior possibilidade de atacar por conta própria ou de formar novas parcerias são aqueles que possuem as conexões mais fortes com o público.

[07/09/2010 21:00:00]