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A dimensão pública das bibliotecas e da leitura prazerosa em SP
PublishNews, 30/07/2010
Tanto a Mário de Andrade Circulante como a São Paulo são projetos pensados e realizados em cada detalhe para incentivar e inspirar a leitura

A (re)inauguração da Biblioteca Mário de Andrade Circulante é um marco do acesso público – da mais alta qualidade – a livros e à leitura em São Paulo. Não se trata apenas de pesquisas e consultas de trabalho escolar ou profissional, mas de leitura por prazer. As dezenas de bibliotecas públicas da cidade já realizam isso cotidianamente, com bravura e superando as crônicas dificuldades que bibliotecas em geral e bibliotecas públicas em especial enfrentam. Mas a Mário de Andrade é a nossa biblioteca-mor, a mais importante biblioteca pública de São Paulo; ela é um símbolo, portanto, do trabalho público neste campo.

Fui passear e conhecer a nova Circulante na quarta-feira, 21 de julho, quando da reinauguração, dia de festa em que os visitantes foram recebidos por bibliotecários e demais funcionários que orgulhosamente convidavam a entrar, mostravam as instalações e o acervo e propunham livros para leitura. O acervo de literatura e ciências humanas da circulante é excelente e podem ser emprestados dois livros a cada duas semanas após um rápido cadastro. Há também livros de referência para pesquisa e uma sala super confortável com bom acervo dedicado a São Paulo (não circulante).

O projeto arquitetônico da reforma é muito atraente, com amplos espaços e lugares cômodos para quem quer pesquisar e ler no próprio local, distante de alguma imagem sisuda de biblioteca sem espaço de circulação. Particularmente simpáticas são a longa bancada de leitura do mezanino com vista para a rua e a sala de leitura lateral à entrada, com janelas para a Avenida São Luiz. A verdade é que tudo ali convida a ler. É a biblioteca e a leitura na cidade e no mundo, não isoladas como se fossem uma atividade monástica. Saindo da Mário de Andrade, estamos no agito interessante e variado do Centro, a começar pela Praça Dom José Gaspar.

Na mesma semana, fui passear no Parque da Juventude e conhecer a Biblioteca de São Paulo, pública e inaugurada este ano. A localização no Parque faz lembrar a Biblioteca Monteiro Lobato e os projetos dos anos 1920 e 1930 (incluindo o período de direção de Mário de Andrade) de unir biblioteca pública infanto-juvenil a lazer e parques com brinquedos, como ainda é o modelo da Biblioteca Monteiro Lobato (que mantém um acervo circulante infanto-juvenil). O Parque da Juventude, vizinho da estação de metrô Carandiru, é muito simpático para caminhar, andar de bicicleta, de skate, e tem gramados, parques infantis, quadras de futebol, tênis e pista de skate. As muralhas do presídio foram preservadas como ruínas e permitem um interessante percurso pela antiga rota da guarda.

A Biblioteca São Paulo tem amplas paredes semitransparentes com desenhos que garantem certa privacidade, mas nada de clausura e isolamento. O espaço interno é amplo e agradável e o mobiliário permite várias combinações para leitura e estudo. O andar superior tem varandas com mesas e cadeiras. Tanto neste projeto como no da Mário de Andrade é visível a mão criativa e engenhosa de arquitetos.

O conceito da Biblioteca São Paulo é o de manter um acervo bem escolhido e atraente para leitores e não o mais completo (não há nenhum problema com isso; outras bibliotecas têm esta função fundamental). A ideia é atrair para a leitura. Os livros estão em sua maioria dispostos em prateleiras com a capa para cima, com espaço entre os volumes e compondo nichos temáticos muito bem definidos (literatura russa, literatura afrobrasileira, quadrinhos, por faixa etária, coleções e assim por diante), incluindo em destaque best-seller (o que também ocorre na Mário Circulante).

O andar de baixo é dedicado a crianças e jovens, o de cima a adultos, com seções especializadas. A biblioteca tem ainda revistas, jornais e dezenas de computadores de boa qualidade para pesquisa, além de DVDs, CDs, acesso à internet, jogos eletrônicos e brinquedos (é interessante que a biblioteca ofereça tudo isso, sem constrangimento, junto aos livros). Uma seção braile tem acervo e máquinas para leitores cegos, incluindo uma que converte instantaneamente texto em braile e áudio (pode parecer banal, apenas mais uma engenhoca tecnológica, mas é espantoso!). Há também máquinas leitoras para pessoas com dificuldades de visão, que permitem ampliar o texto e focar de diferentes formas.

Tanto a Mário de Andrade Circulante como a São Paulo são projetos pensados e realizados em cada detalhe para incentivar e inspirar a leitura, o convívio com os livros e todo o universo imaginativo e informativo que nos permite ter ferramentas para criar e afirmar nossas narrativas pessoais, coletivas, vislumbrando um mundo com mais cidadania e alegria.

Ambas as bibliotecas têm extensa programação cultural e ficam ao lado do metrô (Carandiru e Anhangabau). A Biblioteca de São Paulo (Av. Cruzeiro do Sul, 2630) funciona de terça a sexta das 9h00 às 21h00 e sábado e domingo das 9h00 às 19h00 e o usuário cadastrado pode retirar cinco títulos a cada duas semanas; a Mário Circulante (Av. São Luis, 235) funciona de segunda a sexta das 8h30 às 20h30 e sábado das 10h00 às 17h00 e o usuário pode emprestar dois livros a cada duas semanas. Isto é um diferencial gigantesco que potencializa o acesso ao livro: transporte público e horários noturnos e de finais de semana. E ambas estão em locais nos quais dar uma volta e passear antes e depois de ir a biblioteca é ultra agradável.

Tudo isso eleva, certamente, o patamar das nossas exigências de cidadania e projeções de utopia. As bibliotecas públicas já fazem isso cotidianamente há décadas. Mas estas duas são marcos e símbolos de uma instituição que permanece, se renova e se transforma. São bibliotecas que constituem novos paradigmas para atravessar o século 21.

Roney Cytrynowicz é historiador e escritor, autor de A duna do tesouro (Companhia das Letrinhas), Quando vovó perdeu a memória (Edições SM) e Guerra sem guerra: a mobilização e o cotidiano em São Paulo durante a Segunda Guerra Mundial (Edusp). É diretor da Editora Narrativa Um - Projetos e Pesquisas de História e editor de uma coleção de guias de passeios a pé pela cidade de São Paulo, entre eles Dez roteiros históricos a pé em São Paulo e Dez roteiros a pé com crianças pela história de São Paulo.

Sua coluna conta histórias em torno de livros, leituras, bibliotecas, editoras, gráficas e livrarias e narra episódios sobre como autores e leitores se relacionam com o mundo dos livros.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

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