Com o pé esquerdo
PublishNews, 02/06/2010
José Luiz Tahan conta nesta coluna como foi que uma simples visita de Pepe a sua livraria se transformou na edição do primeiro livro de sua editora

Esta passagem se deu na Iporanga, livraria em que vivi belas histórias.

O caixa da livraria ficava perto da entrada, junto da bancada de jornais. Os freqüentadores gostam de folhear os jornais, que fazem sucesso na hora de ver a programação dos cinemas, servem como um serviço simpático.

Numa oportunidade recebi a visita do maior ponta esquerda que o futebol já viu. José Macia, o Pepe, me dava boa tarde e abria uma Tribuna, o centenário periódico santista. O Canhão da Vila queria dar uma olhadinha na página de esportes, e me falou: - Se tiver o que procuro...

Do meu caixa o cumprimentei e torci para que achasse a matéria que procurava, afinal uma venda é sempre uma venda. Ficamos ali, ele passando os olhos que não podia ver, pois tinha os braços erguidos, criando uma muralha de papel.

Exatamente em frente à livraria ficava uma loja de material esportivo, a tradicional Pap´sports. Quase toda tarde se reuniam para um nervoso jogo de palitinho vários veteranos do Santos. Zito, Formiga e Pepe eram vistos sempre por lá, recepcionados pelo ex-goleiro Lalá, dono da Pap´s. O jogo era nervoso porque quem perdia pagava o café, e derrota nem no palitinho é bem aceita.

Nessa hora me lembrei de consultar o Pepe sobre um papo que ouvira, e falei: - Pepe, me disseram que você escreve umas histórias em forma de causos.

Ele ergueu os ombros e falou: - Companheiro, escrevo desde os 15 anos, e tenho até hoje os cadernos.

Emendei: - Nunca pensou em reunir alguns destes escritos num livro?

Canhão: - Estou para lançar há mais de 20 anos, tinha uma editora, mas o cara sumiu...

Opa! Pensei, e fui pra cima, como um atacante: - Posso ler os causos?

E ele: - Passa lá em casa.

Do primeiro encontro até o lançamento se passaram mais 5 anos, em parte pelos compromissos do autor com o futebol e viagens como treinador e também porque estávamos cerimoniosos por conta da estreia como editora.

Demorou a ponto da Iporanga virar Realejo.

Em 2006 fizemos uma festa inesquecível, com o grande Pepe dando centenas de autógrafos em plena Vila Belmiro.

Estreamos com o pé esquerdo. Obrigado por tudo, Pepe.

PS.: Aqui vai um agradecimento ao Carlos Julio, filho do Lalá, que numa conversa hoje na Realejo reascendeu esta lembrança.

[01/06/2010 21:00:00]